Mulheres que mudaram a história: Wú Yí
Ela foi uma das personalidades mais poderosas da política da China no século 21. De tão independente, foi aposentada por ordem do partido
O que foi: vice-primeira- ministra
Onde vive: China
Quando nasceu: 1938
A médica e ativista Gao Yaojie estava incomodando o governo chinês. Ela queria que o Ministério da Saúde desse atenção ao aumento dos casos de aids na cidade de Zhengzhou. Quando não foi ouvida, convocou a imprensa internacional.
Pois a ministra da saúde decidiu ouvir as reclamações de Gao Yaojie. Foi uma reunião curiosa: duas mulheres na sala e vários homens do lado de fora tentando ouvir a conversa. A ministra era Wú Yí, uma das maiores lideranças da China neste século 21.
O episódio ajuda a entender o que aconteceu com as duas. Depois de ousar questionar o sistema político chinês, cada uma à sua maneira, ambas perderam expressão política. Gao Yaojie hoje vive no exílio, em Nova York. Wú Yí acabou forçada a se aposentar em 2007.
DAMA DE FERRO
Wú Yí nasceu na cidade de Wuhan, uma das mais importantes e populosas do centro do país. Perdeu os pais na infância e foi criada por seu irmão, oito anos mais velho do que ela. Estudou engenharia e se especializou na exploração de petróleo.
Acabou por se tornar gerente da refinaria Dongfang, uma das maiores da capital, Pequim. Dali seguiu para cargos públicos. Começou como vice-prefeita da cidade, bem na época dos protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989, que provocaram um verdadeiro massacre ao ar livre.
Apesar da tragédia de relações públicas que o incidente representou, ela conseguiu convencer uma das categorias que vinha protestando, os mineradores, a voltar ao trabalho. Evitou assim um novo massacre, porque o governo estava pronto para agir com agressividade. A partir desse episódio, Wú Yí se tornou a mulher que os homens poderosos mandavam para fazer o trabalho pesado.
E ela deu conta do recado com tamanha firmeza que acabou recebendo da imprensa local o apelido de Dama de Ferro da China (o equivalente da durona Margareth Thatcher para os ingleses).
PODER E INIMIGOS
Como ministra do Comércio Exterior, ela negociou ajustes nas fábricas de seu país, de maneira a diminuir as reclamações dos americanos, que criticavam a exportação em massa de produtos piratas. Alcançou um meio-termo que permitiu à China entrar para a Organização Mundial do Comércio.
Mas o auge da fama e do reconhecimento veio em 2003. Escalada para assumir o Ministério da Saúde, Wú Yí saiu em busca de diálogo. Em contato com a Organização Mundial da Saúde e colegas americanos e europeus, ela forneceu informações cruciais para que o mundo aprendesse a lidar com a epidemia de gripe aviária. No mesmo ano, foi escolhida vice-primeira-ministra.
Mas, nesse momento, sua fama incomodava. Ao chegar perto dos 68 anos, a idade em que tradicionalmente as autoridades políticas chinesas se afastam (ou são afastadas), a ministra deixou a vida pública. Pediu para ser esquecida e hoje leva uma vida bastante discreta.
SEUS GRANDES ACERTOS
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Foi transparente
Sua postura durante o surto de crise aviária foi exemplar. Wú Yí abriu dados da China e dialogou com ministros de outros países -
Negociou bem
Como chefe do comércio exterior, alcançou grandes vitórias para a China. Negociou ajustes na fabricação dos produtos para exportação -
Ouviu opositores
Era famosa por dialogar com pessoas contrárias ao regime político do país, mesmo que isso irritasse muitos líderes influentes
SEUS GRANDES FRACASSOS
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Perdeu parceiros
A ministra fez de tudo para convencer a Coreia do Norte a encerrar o desenvolvimento de armas nucleares e reduzir a agressividade em relação ao Ocidente. Não conseguiu, e ainda provocou atritos diplomáticos entre as lideranças chinesas e norte-coreanas -
Desagradou políticos
No momento em que era muito popular e tinha um dos salários mais altos na classe política do país, foi compulsoriamente aposentada. Isso porque fez muitos inimigos e não conseguiu fazer os acordos políticos necessários para se manter
DICA DE LIVRO
Para explicar a epidemia de gripe, a Contexto publicou Pandemias, de Stefan Cunha Ujvari