Oficialmente, quatro pessoas morreram por exposição excessiva à radiação, mas o número de vítimas contaminadas ainda gera discussão, mesmo 15 anos após a tragédia ter ocorrido. O governo federal reconhece 120 pessoas contaminadas. O governo de Goiás, porém, fala em um número quase dez vezes maior: 1 032 casos. O acidente começou no dia 13 de setembro de 1987, quando dois sucateiros encontraram nas ruínas do antigo Instituto Goiano de Radioterapia, em Goiânia, um equipamento contendo césio-137. Essa substância radioativa acabou ficando exposta quando os sucateiros decidiram abrir o equipamento abandonado. Na época, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) – órgão sediado no Rio de Janeiro, responsável pela fiscalização de fontes de radiação no país – examinou 112 800 pessoas, mais de 10% da população de Goiânia.
“Nesse trabalho, identificamos 120 pessoas que apresentaram contaminação no corpo por causa do contato com a fonte de césio”, afirma o engenheiro Alfredo Tranjan Filho, da CNEN, que fornece os números reconhecidos pelo governo federal. Hoje, muitos dos sobreviventes sofrem de doenças que podem estar relacionadas à radiação, como câncer, hipertensão, gastrite e problemas psicológicos. “Verificamos que, entre as pessoas diretamente atingidas, a possibilidade de aparecimento de câncer é cinco vezes maior entre os homens e três vezes maior entre as mulheres, em comparação ao resto da população da cidade”, diz a oncologista Maria Paula Curado, diretora da Superintendência Leide das Neves (Suleide), entidade que presta assistência às vítimas do acidente.