Imagine que uma marca lance uma caneca nova. O produto rapidamente começa a ficar famoso. O hype pode ter vários vetores: reportagens na imprensa, um vídeo viral nas redes sociais, o apoio de uma celebridade e até uma campanha de marketing bem pensada. O que importa é que a caneca ganha popularidade, começa a vender bem e o burburinho se espalha.
Mais e mais pessoas começam a querer a caneca, o que causa problemas de estoque e faz o preço subir. A indisponibilidade colabora para o hype: agora que o produto é mais inacessível, ainda mais pessoas querem. E o preço só aumenta.
Se você compra a caneca só porque gosta dela e pretende usá-la para tomar café, tudo certo. Mas muita gente aproveita esse tipo de repercussão para fazer especulação financeira: compram em massa na esperança de que, com o tempo, o produto fique mais e mais caro, de modo que possam vender seus exemplares por um preço maior e embolsar o lucro.
Só que a caneca continua sendo só uma caneca: assim como qualquer objeto, ela tem um valor intrínseco. Se ela começa custando R$ 30 e, depois do hype, está custando R$ 300, isso não significa que o produto ganhou R$ 270 em valor magicamente. Só significa que a especulação fez seu trabalho: quem comprou por R$ 30 agora pode vender por R$ 300 e se dar bem.
A teoria do maior tolo (“greater fool theory”, em inglês) é justamente a suposição de que você pode especular com essa esperança: comprar alguma coisa por um preço menor com a perspectiva de vender por um preço inflacionado.
No caso, você já é um “tolo”, pois está comprando por mais do que vale (a não ser que chegue logo no começo). Mas a aposta é que exista um tolo maior, disposto a comprar de você por um preço ainda mais caro. E, assim, é possível escalar a operação, com um tolo menor comprando mais barato e vendendo mais caro para um tolo maior, sequencialmente, com o produto em questão ficando cada vez mais supervalorizado.
O problema é que, uma hora, as pessoas caem na real: o hype vai embora, a bolha estoura e o preço desaba. E aí, o último tolo se consagra como o “maior”, tendo pagado caro por um produto que não conseguirá mais vender por valor igual ou maior, apenas menor. A teoria desaba porque já não existe um “maior tolo” disposto a pagar mais caro.
Não é preciso ir longe para achar exemplos da teoria na prática. Recentemente, a febre do Labubu viu o preço do boneco disparar de US$ 29 para US$ 3.000, apenas para despencar logo em seguida, desesperando quem comprou para revender. Alguns anos atrás, a moda dos NFTs (imagens digitais com certificado de exclusividade) foi classificada por Bill Gates, fundador da Microsoft, como “100% baseada na teoria do maior tolo”.
No mercado de ações
A grande questão é que, quando falamos de teoria do maior tolo, não estamos nos referindo a produtos como canecas ou bonecos. Essa teoria geralmente está associada ao mercado de ações e ao hype em torno de novas empresas, que acabam atraindo muitos investidores.
O funcionamento é bem simples: uma nova empresa surge propondo algo novo e disruptivo e atrai a atenção do mercado. Investidores pioneiros compram ações na esperança de que a empresa vire um sucesso. A alta nos valores atrai a atenção de mais investidores, que compram mais ações. Todos querem a mesma coisa: uma alta valorização para que possam lucrar com a revenda.
Muitas vezes, esses investimentos são feitos ignorando o histórico dos envolvidos, os relatórios de ganhos e outros dados importantes. O que vale é o hype. E, assim, vai sendo criada uma bolha especulativa. Enquanto ela estiver ativa, um tolo vai vendendo as ações para o outro, seguindo a ciranda. Eventualmente, a bolha estoura, as ações depreciam e alguns investidores ficam no prejuízo.
Um bom exemplo é a crise imobiliária dos EUA em 2008. Antes dela, quando o mercado de imóveis estava em alta, os bancos juntaram muitos empréstimos imobiliários (inclusive empréstimos arriscados, chamados subprime) e transformaram isso em produtos financeiros para vender a investidores. Eles eram chamados de títulos garantidos por hipoteca (“mortgage-backed security”, ou MBS).
Quando o mercado de imóveis começou a cair, as pessoas que tomaram esses empréstimos começaram a dar calote. E aí, os investidores que tinham comprado os MBS não conseguiam mais vendê-los — quem compraria algo que claramente estava perdendo valor? Diversos bancos, fundos e empresas que tinham adquirido esses contratos sofreram prejuízos bilionários, agravando a crise.
A IA e o maior tolo
Há exemplos mais recentes da teoria do maior tolo e um deles pode ser o mercado de inteligência artificial. Especialistas fazem esse paralelo: o crescimento acelerado no valor das ações das empresas do setor não tem lastro em um benefício real da IA para a sociedade, pelo menos por enquanto.
A OpenAI, dona do ChatGPT, por exemplo, já fatura US$ 1 bilhão por mês, mas gasta US$ 8 bilhões por ano apenas em despesas operacionais (ou seja, sem contar investimento em pesquisa, criação de infraestrutura e afins). Segundo um estudo interno, a empresa só se tornará rentável em 2029, quando, se tudo der certo, atingirá uma receita anual de US$ 100 bilhões.
O pulo do gato aqui é o “se tudo der certo”. Muitos especialistas apontam que o fenômeno da IA pode ser uma bolha especulativa. A OpenAI é uma empresa privada: não dá para comprar ações dela. Mas existem milhares de empresas menores (e algumas gigantes, como Meta, Alphabet e Microsoft) que estão vendo suas ações subirem de valor por causa da IA.
Exemplo: a Figma, plataforma de web design, começou a vender ações na Bolsa de Nova York em julho de 2025 pelo preço de US$ 33 a unidade. Fechou o dia com valorização de 250%: cada ação com valor de US$ 115,50. No momento em que este texto é escrito, cinco meses depois, o valor de sua ação está em US$ 37. O motivo da queda: temor do mercado de que ações de IA estejam supervalorizadas. O tolo que comprou pode ficar sem um tolo maior para quem vender.
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