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O que foi a tragédia do Hospital Colônia de Barbacena?

Episódio foi um dos mais grotescos da história brasileira

Por Lucas Baranyi
Atualizado em 22 fev 2024, 10h06 - Publicado em 4 abr 2018, 16h09
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  • ILUSTRA André Toma
    EDIÇÃO Felipe van Deursen

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    Spa na montanha
    Em 1903, Barbacena, MG, ganhou a alcunha de “Cidade dos Loucos”, graças à inauguração de sete instituições psiquiátricas no município. Na época, estâncias de clima ameno, como Barbacena, eram vistas como propícias para o tratamento de doenças mentais. Uma dessas iniciativas era o Hospital Colônia. Mas, com o tempo, o que era planejado como uma instituição médica tornou-se um matadouro

    Campo de concentração
    Os pacientes eram separados por sexo, idade e características físicas. Como o Colônia não tratava apenas pessoas da cidade, muitas vinham de fora, desembarcando de trem. Em 1933, o escritor Guimarães Rosa, que trabalhou brevemente como médico no Colônia, chamou aquilo de “trem de doido”. Anos depois, o cenário rendeu comparações inevitáveis com os campos de concentração nazistas, já que eles também eram abastecidos com trens

    Público alvo
    Os paralelos com os campos nazistas não paravam aí. Estima-se que 70% dos internados não apresentavam registro de doença mental. Eram gays, alcoólatras, militantes políticos, mães solteiras, mendigos, negros, pobres, índios, pessoas sem documento etc. De hospital psiquiátrico, a instituição virou depósito de gente indesejada. Uma mulher chegou a ser internada porque tinha tristeza!

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    Tratamentos
    Torturas físicas e psicológicas eram rotina no Colônia. Entre as mais comuns havia a ducha escocesa (banho propiciado por máquinas de alta pressão) e tratamentos de choque, ambos aplicados a quem não se comportasse bem. Estupros também foram relatados durante as décadas de funcionamento do hospital

    Chocante
    Em geral, hospitais psiquiátricos usavam métodos como tratamento de choque nos pacientes – não era uma exclusividade do Colônia. A situação começou a mudar com uma revolução no sistema de saúde mental proposta pelo psiquiatra italiano Franco Basaglia, na década de 1960, e com o Movimento Antimanicomial, criado no Brasil em 1987, que queria que as instituições tivessem um perfil de tratamento e de reabilitação, não de prisão

    Superlotação
    O hospital poderia receber até 200 pessoas, mas chegou a ter 5 mil. Para comportar tanta gente e abrir espaço, o Colônia trocou camas por capim. A desumanização se espalhava pelos 16 pavilhões, onde faltavam água encanada e alimentos. Muitos internos bebiam e se banhavam no esgoto a céu aberto. Com uma sucessão de maus-tratos, frio e fome, muitos não resistiam

    O buraco é sempre mais embaixo
    Percebendo que o cemitério municipal já não comportava o número cada vez mais alto de mortos no Colônia, funcionários do hospital começaram a traficar corpos para faculdades de medicina, que os usavam em aulas de anatomia. Se a procura era baixa, os mortos eram dissolvidos em ácido

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    Números da atrocidade
    Condições precárias, torturas, superlotação, abandono e crueldade resultaram em uma catástrofe anunciada. Estima-se que 60 mil vidas foram perdidas no Colônia até o fim dos métodos desumanos nos anos 80. Em 1996, um dos pavilhões foi transformado em museu para manter viva essa lamentável memória da história brasileira. Hoje, restam menos de 200 sobreviventes da tragédia

    CONSULTORIA Daniela Arbex, jornalista e autora do livro O Holocausto Brasileiro, e Guilherme Conti Marcello, professor de psicologia da Universidade Anhanguera (São Paulo)
    FONTE Documentário Holocausto Brasileiro (HBO e Vagalume Filmes)

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