Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super Black Friday: Revista em Casa por 9,90

Os sucrilhos da Kellogg’s foram criados para combater a masturbação

Descascar mandioca, só se for pra fazer farinha: o inventor do sucrilhos acreditava que se divertir muito sozinho podia levar à loucura

Por Victor Bianchin
21 nov 2025, 14h00

Anote aí esta lista de sintomas: acne, anemia, dor nas costas, dor nas articulações, palidez, tabagismo, xixi na cama, mania de morder as unhas, insônia, inconfiabilidade, timidez, ombros arredondados, andar estranho, gosto por comidas irritáveis (como sal, pimenta, vinagre e mostarda), palpitação, amor pela solidão e uso de palavras obscenas.

O que todas essas coisas têm em comum? São sinais claríssimos de um masturbador crônico! Pelo menos é o que afirmava o médico, nutricionista, inventor e missionário John Harvey Kellogg em seu livro de 1877, “Informações claras para todas as idades: abraçando a história natural e a higiene da vida orgânica”.

Nos séculos 18 e 19, a masturbação virou inimiga pública número 1. A tradição judaico-cristã já condenava o ato como imoral há muito tempo, é claro, mas, nessa época, pessoas ligadas à ciência começaram a emitir opiniões negativas também. Livros de nomes respeitáveis, como o médico suíço Samuel Tissot, foram lançados condenando esse hábito e transformando a masturbação em doença.

Foi nessa época, inclusive, que muitos apetrechos anti-masturbação foram inventados, como as luvas que eram amarradas às mãos das crianças na hora de dormir, os anéis que eram colocados como piercings unindo as pontas do prepúcio (impedindo que fosse retraído) e, não é surpresa, os cintos de castidade. Não era uma época segura para descabelar o palhaço.

É claro que Kellogg, um fervoroso adventista do sétimo dia, acreditava e repetia todas essas insanidades — mas isso era só o começo.

Em 1866, Kellogg havia inaugurado, em sua cidade natal de Battle Creek, no Michigan (EUA), uma espécie de “resort de saúde” chamado Battle Creek Sanitarium. Lá, os pacientes eram integrados a dietas e rotinas de exercício especiais com médicos especializados, além de participarem dos testes de diversas terapias alternativas, como fototerapia, eletroterapia e termoterapia. 

Continua após a publicidade

O empreendimento foi um sucesso. O historiador Howard Markel chegou até a chamar o lugar de “Vaticano da Igreja Adventista do Sétimo Dia”. Até hoje, é lá que fica a sede da empresa Kellogg’s.

A invenção do cereal

Kellogg acreditava que a fricção genital criava um “choque” grave no sistema nervoso e que a frequência desse choque inevitavelmente levava à insanidade. Até mesmo quem tinha orgasmos por meio do ato sexual tradicional estava em risco, de modo que, aos que não quisessem ficar loucos, o recomendável era transar menos.

O próprio Kellogg seguia essa regra à risca: ele se abstinha do ato sexual e existem boatos de que nem mesmo chegou a consumar seu casamento — teria passado a lua de mel trabalhando em seus livros antissexo. Teve oito filhos, mas foram todos adotados.

No Battle Creek, os alimentos oferecidos eram 100% vegetarianos (assim como era Kellogg), pois a carne era considerada uma comida que podia incitar as paixões, da mesma forma que molhos muito picantes e outras comidas que “irritassem os nervos”.

Continua após a publicidade

Procurando formular a dieta o menos possível propensa a estimular o set do DJ ou a afinação da flauta, o médico começou a inventar suas próprias comidas. Uma delas consistia em farinha de aveia e farinha de milho assadas em forma de biscoitos e depois moídas em pedaços bem pequenos — o que hoje conhecemos como granola.

A outra foram os cereais matinais. Por volta de 1877, Kellogg criou uma mistura de farinha, aveia e fubá, assada duas vezes, que ele começou a quebrar em pequenos pedaços para servir (depois que uma paciente quebrou um dente com uma versão em biscoito). Ele acreditava que, ao assar os grãos integrais em altas temperaturas, eles se tornavam mais fáceis de digerir e mais saudáveis.

Posteriormente, em 1898, uma fornada de massa de cereal à base de trigo foi acidentalmente deixada exposta por um longo período, e acabou fermentando. Ao ser aberta em folhas finas, a massa, ligeiramente mofada, produziu flocos grandes e finos, que se tornaram crocantes e saborosos no forno. Era o nascimento do sucrilhos — que, aliás, só tem esse nome no Brasil, criado pela Kellog’s como uma mistura de “açúcar”, “crocância” e “milho”.

É impossível saber com certeza como aconteceu a criação do cereal, já que tanto a esposa de Kellogg como seu irmão, Will, afirmam terem participado da invenção, assim como outros funcionários do Sanitarium. Mas o resumo é esse. Você pode ler a história com mais detalhes na reportagem da Super de 2017, O fanático do Sucrilhos.

Continua após a publicidade
Compartilhe essa matéria via:

O que aconteceu depois

Os irmãos John e Will Kellogg se uniram para começar a fabricar e vender os cereais para o grande público, em vez de deixar o alimento confinado aos pacientes do Sanitarium. Experimentando com a receita, Will descobriu que o milho, em vez do trigo, produzia flocos ainda mais crocantes.

Will também queria colocar açúcar nos cereais para torná-los mais comerciais, ideia que John rejeitava completamente. Os dois nunca haviam se bicado: Will era constantemente humilhado pelo irmão e chegou a ser obrigado a ter lições de ditado de John enquanto este se sentava à privada.

Ambicioso, Will rompeu com John e fundou sua própria empresa para vender os cereais, a Kellogg Toasted Corn Flake Company (hoje, apenas Kellogg Company). Os dois irmãos passaram as próximas duas décadas brigando nos tribunais pelo nome Kellogg, mas Will eventualmente venceu e construiu seu império. Os corn flakes (flocos de milho) continuam sendo um dos produtos principais da companhia até hoje.

Continua após a publicidade

Os esforços de John Kellogg para conter a masturbação, aparentemente, foram infrutíferos. Um estudo de 2022 entre europeus apurou que até 65% dos homens e 40% das mulheres se masturbam. No Brasil, um estudo também de 2022 apontou que as mulheres se masturbam de duas a três vezes por semana (não há dados para homens).

Há também várias pesquisas apontando que a masturbação tem efeitos positivos na saúde mental, reduz o estresse, aumenta a libido, colabora na saúde da próstata, diminui as cólicas menstruais e até mesmo serve como exercício cardiovascular. Pode se divertir sem medo!

O que são os "pontos de não retorno?" | COP30

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

Enquanto você lê isso, o mundo muda — e quem tem Superinteressante Digital sai na frente.
Tenha acesso imediato a ciência, tecnologia, comportamento e curiosidades que vão turbinar sua mente e te deixar sempre atualizado
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Superinteressante todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.