Porque são tingidas por ácidos liberados nos processos de decomposição de sedimentos orgânicos – que é o que não falta na floresta. Ao longo de seus 1 700 quilômetros, o Negro recebe naturalmente uma grande quantidade de restos de folhas, arbustos e troncos. No leito do rio, esses sedimentos são dissolvidos e decompostos. Nesse processo, ocorre a liberação de ácidos que dão à água aquela cor de chá. Outro fator importante é a idade avançada do terreno na região. “O Negro corre em uma área rochosa, de formação geológica muito antiga”, diz a engenheira florestal Hillandia Brandão, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Por isso, sua passagem não provoca a erosão das margens – como ocorre com outro grande rio amazônico, o Solimões – impedindo que assuma cor barrenta. No encontro entre esses dois rios, que se juntam para formar o Amazonas, o contraste fica evidente: ao longo de 6 quilômetros, as águas escuras do Negro correm ao lado do caudal marrom do Solimões.
Os volumes demoram a se misturar porque há diferenças de temperatura e de velocidade nas correntezas dos rios. Enquanto as águas do Negro marcam 22ºC e correm mansas, a 2 km/h, o Solimões avança de 4 a 6 km/h com uma temperatura de 28ºC. Depois da confluência, o Amazonas passa a ter águas barrentas como as do Solimões – que leva a melhor no encontro porque tem maior volume dágua.