Por que uma palavra repetida muitas vezes perde o sentido?
Basicamente porque o seu cérebro desiste de atribuir um sentido à ela – e começa a prestar atenção apenas no som. Som. Som. Som. Som.
Cada área de pesquisa tem sua própria explicação para o fenômeno – e essas explicações se complementam, dando uma visão bastante sólida do que acontece na sua cabeça quando você repete uma palavra. Palavra. Palavra. Palavra. Palavra.
Para a neurociência, a questão é a seguinte: quando alguém insiste muito em uma sequência de sons, o cérebro percebe que a repetição não é importante. Por isso, ele impede que a palavra insistente seja interpretada pelo córtex – a região que cuida de coisas mais complexas como memória, atenção, consciência, linguagem etc. Resultado: o vocábulo continua existindo na sua cabeça. Mas não chega às partes do cérebro que lhe dariam sentido.
Os psicólogos, por sua vez, explicam que a repetição de uma palavra, por ser monótona, nos distrai. E um cérebro vazio tem aquela conhecida tendência a vagar por aí: você acabar prestando atenção no ato de falar, no movimento dos lábios, na respiração ou até no que vai comer na janta. No fundo, esse é só um jeito diferente de dizer que o seu córtex parou de dar bola para a palavra e foi pensar na morte da bezerra.
Por fim, a linguística nos diz que a repetição fora de contexto faz com que nós deixemos de nos relacionar com a coisa no mundo a que a palavra se refere e passemos a prestar atenção apenas no som dela. Som que, por si só, não tem sentido: o signo é arbitrário, já disse Saussure. Uma palavra só significa algo porque todos os falantes de uma língua concordam com esse significado.
Fontes: Denise Menezes, neurologista, Antonio Carlos Amador Pereira, professor do curso de psicologia da PUC-SP, Ana Luiza Navas, professora do curso de fonoaudiologia da Santa Casa de São Paulo, Ernesto Giovanni Boccara, pesquisador em semiótica da Unicamp e Jean Cristtus Portela, doutor em linguística da Unesp.