Se você está imaginando uma planta monstruosa, capaz de engolir uma pessoa, como nos desenhos animados, pode tirar isso da cabeça: esse tipo de coisa, caro leitor, não existe. As maiores carnívoras de que se tem notícia são as trepadeiras da espécie Nephentes rajah, que dificilmente chegam a meio metro de altura e costumam devorar apenas moscas. Elas são típicas das úmidas florestas da ilha de Bornéu, na Ásia, e se alimentam por meio de um jarro pendurado na extremidade de suas folhas. Mas nem todas as plantas carnívoras atacam do mesmo jeito. O modo de captura varia de espécie para espécie – algumas sugam, outras prendem, mordem ou afogam suas vítimas. Certas carnívoras são bem gulosas: as Drosophyllum lusitanicum, por exemplo, conseguem grudar em seus pêlos vários insetos de uma só vez. Já as do gênero Utricularia devoram, em uma única sugada, uma família inteira de microcrustáceos. Merece ainda uma menção honrosa a Dionaea muscipula, também conhecida como “papa-mosca”: ela abocanha insetos distraídos em apenas três décimos de segundo, um recorde. Mas não pense que as plantas carnívoras dispensam um cardápio mais calórico. “De vez em quando, pererecas e pequenos pássaros viram prato secundário – não porque são atraídos pela planta, mas porque, ao irem atrás de insetos, eles caem e acabam devorados também”, afirma o biólogo José Maurício Piliackas, da Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo. Na hora do almoço, toda estratégia é válida: como as carnívoras vivem em solos geralmente pobres em nutrientes, elas não podem se dar ao luxo de dispensar comida.
Na livraria:
The Carnivorous Plants – Barrie Edward Juniper, Academic Press, 1989
Na Internet:
https://www.carnivorousplants.org
1. O colorido provocante e o odor das plantas carnívoras abrem o apetite dos insetos, fazendo-os acreditar que ali encontrarão um banquete de néctar. O tamanho avantajado da Nephentes torna-a ainda mais suculenta para a presa, que parte em direção ao jarro, a parte mais vistosa da planta
2. A inocente mosquinha pousa na planta para dar uma olhada no seu interior. Como as bordas do jarro são lisas e estão cobertas por uma substância úmida e transparente, o inseto desliza direto para dentro dele, escorregando pelas paredes internas até cair num reservatório de água
3. Ao encontrar o líquido, o bichinho bóia e tenta sobreviver, mas acaba afundando e morrendo afogado na base do jarro. Esse líquido nada mais é do que água de chuva turbinada por substâncias liberadas pela planta. Entre essas substâncias estão as enzimas proteolíticas, que iniciarão a digestão do inseto quebrando suas proteínas
4. Para continuar a digerir o inseto, a planta libera outras proteínas, como a lipase e protease. O processo leva de dois a cinco dias e, no final, a mosquinha é reduzida a uma massa disforme no fundo do jarro, composta pelos restos da carapaça de quitina
Ratoeira verde
A folha da Dionaea muscipula tem duas conchas semelhantes a uma boca, que ficam abertas à espera do almoço. A técnica de ataque lembra a ação de uma ratoeira: quando o inseto pousa nos pêlos da armadilha, o mecanismo de fechamento das duas conchas é acionado. As duas partes da folha se fecham, a vítima fica presa lá dentro e já começa a ser digerida
Pressão máxima
As espécies do gênero Utricularia vivem debaixo dágua e usam pequenas bolsas para capturar o rango. Na entrada dessas bolsas há uma portinha ligada a pêlos sensitivos, que funcionam como gatilhos. Quando a presa encosta em um desses pêlos, a portinha se abre e, graças à diferença de pressão, tudo ao redor é sugado para dentro da bolsa
Supercola fatal
Plantas carnívoras como as do gênero Drosera têm pêlos que produzem uma substância colante, que gruda os insetos que pousam por lá. Algumas espécies chegam a enrolar seus pêlos sobre a presa para facilitar a digestão. Quanto mais o bichinho se debate, mais colado ele fica, aderindo à meleca pegajosa em que já estão as enzimas digestivas