O levantamento mais completo que já se fez sobre mortes no ringue registra 1 255 óbitos em 72 países, entre 1741 e 2005. Claro que essa lista, publicada no Journal of Combative Sport, não pode ser tomada como definitiva. Muitas lutas de boxe acontecem à revelia das federações e da imprensa. Se todas seguissem as normas de segurança do boxe amador, mortes no ringue seriam tão incomuns quanto as mortes no futebol. Mas, quando a troca de socos vale dinheiro, a coisa muda de figura: as luvas são mais duras, o número de rounds é bem maior e os pugilistas não usam proteção no rosto, como os amadores. “Nas lutas amadoras regidas pela Confederação Brasileira de Boxe, fazemos um análise criteriosa do estado de saúde dos pugilistas antes da luta. Se tiver uma cárie no dente, ele não luta”, diz o ortopedista Bernardino Santi, da comissão médica da Associação Internacional de Boxe Amador (Aiba). A maioria das mortes acontece em função de lesões cerebrais, que nem sempre levam instantaneamente à morte. Veja o caso do americano Kevin Payne, que morreu em março deste ano em decorrência de um edema cerebral, um dia após a luta com o compatriota Ryan Maraldo. Payne não só chegou ao final da luta inteiro, como venceu a disputa. Isso acontece porque nem sempre pancadas na cabeça geram grandes vazamentos de sangue, mas sim pequenas hemorragias, que matam as células cerebrais pouco a pouco. Quando não matam, essas lesões repetitivas podem causar danos irreversíveis, como o mal de Parkinson. É por isso que a Aiba obriga que um pugilista nocauteado com um golpe na cabeça fique afastado dos ringues por um mês. Dois nocautes em três meses geram três meses de gancho e três em um ano, um ano de afastamento.
Fígado e baço
São órgãos muito enervados – e, portanto, sensíveis – que ficam logo abaixo das costelas. Por isso, são castigados pelos golpes no tórax. Golpes repetitivos podem fazê-los sangrar e já houve casos mais extremos de perfuração desses órgãos por costelas quebradas
Ouvido
A pressão dos socos pode provocar ruptura do tímpano, a membrana fininha que vibra ao receber as ondas sonoras. Sob muita pressão, seja de ar, água ou de algum objeto, ele se rasga. Rompimentos pequenos refazem-se naturalmente e os maiores são corrigidos com cirurgia
Ossos da face
Os ossos do nariz quebram tão facilmente, que muitos pugilistas preferem entrar na faca e tirá-los de uma vez. Lesões nos ossos da mandíbula e no zigomático – que forma a “maçã do rosto” – também são comuns. Por isso, no boxe amador, esses ossos são protegidos pelo protetor de espuma
Cérebro
Socos na cabeça fazem um movimento de vai e vem (para trás e para a frente) no cérebro, conhecido como “chicote”. É como uma gelatina dentro de uma caixa: o movimento faz o cérebro se chocar contra as paredes do crânio, provocando lesões. Choques muito fortes podem romper artérias em volta do cérebro, gerando bolsas de sangue que pressionam a massa cinzenta. Mas o mais comum são micro-hemorragias dentro do cérebro que, com o tempo, podem gerar problemas como Parkinson e demência,além, claro, da morte
Olho
Golpes violentos podem fazer a retina se descolar da úvea, o tecido gelatinoso que a nutre. Cirurgicamente, consegue-se colocar a retina no lugar, mas quando o descolamento é muito agressivo é impossível religar os nervos que unem os tecidos, e a visão fica comprometida
Mãos
Em um dia de treino, um pugilista dá cerca de mil socos. Por isso, lesões nas mãos são as mais comuns no boxe. O osso mais afetado é o 5º metacarpiano, que liga o pulso ao dedo mindinho. Punhos, cotovelos e ombros também costumam sofrer com a repetição de socos
Duração – Lutas profissionais duram até 15 rounds de três minutos. As amadoras têm quatro rounds de dois minutos
Luvas – As profissionais pesam, no máximo, 13 onças (368 gramas). As amadoras pesam de 13 a 15 onças (425 gramas)
Protetor facial – Protetor de espuma, que cobre a testa, as maçãs do rosto e os ouvidos. Só é usado por amadores
Conquilha – Cinta de espuma que protege os genitais, usada por amadores e profissionais
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