Quem foram os Bórgias?
Conheça uma das famílias mais poderosas do Renascimento.
Pergunta da leitora Thais Einhardt Maia Martins, São Leopoldo, RS
Ilustra Cássio Yoshiyaki
Edição Felipe van Deursen
Foram uma das famílias mais poderosas do Renascimento. Originária da Espanha, ela se estabeleceu em Roma, sede da Igreja, a grande fonte de poder do clã. Na Itália, eles acumularam fama, fortuna e dezenas de escândalos. Os Bórgias têm uma história sombria que, em meio a subornos, nepotismo, sexo, assassinatos e outros pecados, elegeu três papas. Veja os principais personagens desta família na árvore genealógica abaixo.
Afonso Bórgia (Papa Calisto 3º)
1378-1458
Foi elevado a cardeal graças a um trunfo político. Foi ele que costurou a reconciliação do rei Afonso 5º de Aragão com a Igreja. Mais tarde, Afonso virou papa.Os três anos de pontificado foram marcados pela absolvição de Joana d’Arc, executada na fogueira em 1431
Vannozza dei Cattanei
1442-1518
Amante e mãe dos quatro filhos preferidos de Rodrigo Bórgia, também foi (supostamente) amante do cardeal Giuliano della Rovere, principal inimigo de Rodrigo – e que mais tarde se tornaria o papa Júlio 2º. Foi enterrada com honras de cardeal, o que causou encândalo à época
– Alessandro Farnese, irmão de Giulia, entrou na Igreja graças a Rodrigo. E acabou virando o papa Paulo 3º
(Datas marcadas com * são estimadas)
1. Rodrigo Bórgia
Sobrinho de Afonso, foi ordenado diácono pelo tio e seguiu carreira na Igreja. Político inteligente e administrador habilidoso, acumulou riqueza e poder sob o comando de quatro papas diferentes, até que, em 1492, aos 61 anos, agarrou a oportunidade para si. Em troca de votos no conclave (a eleição para o novo papa), ofereceu bispados, terras, posições na Igreja e quatro mulas repletas de prata aos colegas cardeais. Assim, tornou-se Alexandre 6º, o primeiro papa com amante e filhos reconhecidos. Em seu pontificado, tentou unificar os feudos italianos sob o comando da Igreja
2. Giovanni Bórgia
Historiadores divergem se ele foi o primeiro ou o segundo dos quatro filhos de Rodrigo com Vannozza. O certo é que Giovanni, duque de Gandia e galã com pendor por esposas alheias, foi encontrado morto no rio Tibre, em Roma, com a garganta cortada e nove punhaladas. O caso ainda é um mistério. A especulação mais forte dá conta de que ele foi morto pelo irmão César
3. César Bórgia
Com 18 anos, foi nomeado cardeal pelo pai. No cargo, oferecia jantares com mais de 50 prostitutas dançando nuas, segundo seu mestre de cerimônias, Johannes Burchard. Por volta dos 22 anos, deixou a Igreja e se casou com a irmã do rei de Navarra, tornando-se duque. Também foi príncipe de um território criado pelo pai, usando terras da Igreja. Em 1502, contratou Leonardo da Vinci como arquiteto militar e engenheiro. Segundo as más línguas, era amante da irmã Lucrécia. Pai de 11 bastardos, morreu de sífilis
4. Gioffre Bórgia
Filho mais novo de Rodrigo e Vannozza, também era suspeito de ter matado o irmão Giovanni. Isso porque Giovanni tinha um caso com a esposa de Gioffre, quatro anos mais velha que ele (Gioffre se casou aos 12 anos de idade)
5.Lucrécia Bórgia
Aos 11 anos, já estava prometida a dois noivos. Mas, aos 13, casou-se com outro, Giovanni Sforza. Só que a aliança com essa poderosa família se mostrou desnecessária, então o papa Alexandre 6º (seu pai) anulou o casamento sob a alegação de que não fora consumado. Lucrécia teve mais dois maridos. Um deles, Afonso de Aragão, foi assassinado a mando do irmão César. Em 1501, ela chegou a comandar, interinamente, a Igreja. Mecenas, Lucrécia financiou o trabalho de vários poetas e pintores do Renascimento
Família pop
Bórgias inspiram até hoje
Na literatura, o clã estrelou obras de Alexandre Dumas, autor deOs Três Mosqueteiros, e Mario Puzo, que escreveu O Poderoso Chefão. Nos quadrinhos, o italiano Milo Manara os retratou emOs Bórgias. Na TV, há uma série norte-americana e uma europeia. Isso sem falar que César Bórgia foi o modelo de inspiração para O Príncipe, de Maquiavel, e que ele já foi vilão na série de jogos Assassin’s Creed
- Rodrigo teve mais quatro filhos não registrados: Girolama, Isabella, Pedro Luiz e Bernardo
- “Homens eram encontrados mortos para que Roma tremesse de medo”, escreveu um embaixador sobre César
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FONTES Livros Alexandre VI, de Volker Reinhardt; Enciclopédia Católica; Mitos Papais, de Leandro Rust; Papal Genealogy, de George L. Williams; Those Naughty Popes and their Children, de Charles Dillon