Retrato Falado: Catherine Deshayes, a mãe dos venenos
Catherine Deshayes foi figura central em um escândalo que envolveu assassinatos, bebês sacrificados e missas negras em meio à nobreza da França de Luís XIV
ILUSTRAS: Davi Augusto
Catherine Deshayes (1640-1680) foi figura central em um escândalo que envolveu assassinatos, bebês sacrificados e missas negras em meio à nobreza da França de Luís XIV
1. Catherine Deshayes nasceu em uma família pobre de Paris por volta de 1640. Possivelmente filha de uma feiticeira, a própria Catherine começou a praticar quiromancia, leitura de rosto e astrologia aos 9 anos de idade. Aos 20, casou-se com um joalheiro malsucedido e precisou expandir seu negócio para sustentar a família
2. Foi o preparo de poções afrodisíacas e amuletos para clientes o que lhe valeu um bilhete de entrada para círculos nobres de Paris. Homens a buscavam para aumentar o vigor sexual, e mulheres iam atrás de poções e tratamentos estéticos que “tornavam os seios mais fartos e a boca mais diminuta”, como notou um marquês da época
3. Eventualmente, Deshayes notou que o desejo mais comum entre os clientes era o chamado “pó de herança”, ou seja, veneno. Vendo oportunidade no lado macabro da feitiçaria, a pacata vidente começou a preparar venenos e celebrar rituais satânicos em sua cabana nos arredores da capital. Assim, ganhou o apelido La Voisin ( “a vizinha”, em francês)
4. Sua cliente mais importante foi a marquesa de Montespan, uma das amantes mais temperamentais do rei Luís XIV. O envolvimento da nobre com La Voisin ia muito além de afrodisíacos e missas negras: Montespan usou os venenos da feiticeira contra uma amante rival e possivelmente conspirou com La Voisin para envenenar o próprio rei
5. Entre 1660 e 1680, o número de mortes “naturais” entre membros da nobreza, em especial idosos abastados e mulheres preteridas por amantes, tornou-se alarmante. Após o escândalo alcançar o círculo real, uma comissão investigativa escancarou o submundo da bruxaria em Paris. No “Caso dos Venenos”, Catherine Deshayes acabou presa em 1679
6. Uma busca na residência de La Voisin revelou não só ingredientes macabros como gordura de homens enforcados, excremento, sangue e sêmen humanos mas também uma fornalha com restos mortais de bebês recém-nascidos e fetos. Descobriu-se que, além de praticar abortos, Deshayes também sacrificava bebês em missas negras, cremando os restos no forno
7. A princípio, La Voisin negou todas as acusações. Mas após um interrogatório cruel que envolveu 24 horas de tortura, Deshayes admitiu culpa pela morte de 2 mil recém-nascidos e fetos e por providenciar venenos para centenas de assassinatos. Segundo documentos oficiais, ela nunca revelou o nome de seus clientes, e a marquesa de Montespan foi apenas exilada
QUE FIM LEVOU? Madame Catherine Deshayes foi queimada viva em praça pública em 1680. Há relatos de que ela partiu vociferando e cantando canções obscenas
FONTES Livros Legends, Monsters, or Serial Murderers?, de Dirk C. Gibson, e Female Executions – Martyrs, Murderesses and Madwomen, de Geoffrey Abbott; artigo Women and Poisons in 17th Century France, de Benedetta Faedy Duramy
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