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40% dos atletas que morreram antes dos 30 sofreram com traumas cerebrais

Uma pesquisa com 152 atletas que morreram jovens descobriu que 63 deles tinham ETC – uma doença degenerativa causada pelos vários golpes na cabeça.

Por Leo Caparroz
5 set 2023, 18h04

O mundo do futebol americano entrou em choque no começo dos anos 2000: uma série de jogadores famosos começaram a morrer muito jovens. Eles apresentavam quadros depressivos e, em vários casos, comportamentos agressivos e perda de memória. Era um trágico mistério.

Depois de algum tempo, as coincidências foram ficando mais claras. Todos eles sofriam de algo chamado Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma doença degenerativa cerebral, consequência das repetidas pancadas que esses atletas recebiam na cabeça. Na época, a ETC ainda era um território bem novo na medicina. Agora, novas pesquisas avançam para entender melhor essa doença e seus impactos.

Um novo estudo da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, descobriu que uma boa parcela dos atletas que morriam jovens tinham ETC. O artigo foi publicado no periódico JAMA Neurology e analisou o cérebro de 152 cadáveres de atletas que foram expostos a impactos repetitivos na cabeça durante a vida. Desses, 63 tinham evidências neuropatológicas da doença, o que representa 40% da amostra.

Existem quatro estágios possíveis para ETC. No último, os sintomas são clinicamente confundidos com demência de tão graves. Quase todos os jovens atletas apresentaram CTE leve, nos estágios 1 e 2; e apenas três deles estavam no estágio 3 quando morreram.

Entre os sintomas clínicos apresentados, os mais comuns eram depressão (70,0%) e apatia (71,3%). Além de dificuldade com autocontrole (56,8%) e problemas na tomada de decisões (54,5%). Também era frequente o alcoolismo, presente em 42,9% dos jovens, e problemas com drogas, em 38,3%. A causa mais comum de morte era o suicídio, seguido de acidentes por abuso de substâncias. 

“É fundamental que os jovens atletas que apresentam sintomas neuropsiquiátricos procurem atendimento, pois é provável que os sintomas possam ser reduzidos com manejo e acompanhamento eficazes”, afirma Ann McKee, diretora do centro de ETC da universidade e uma das autoras do estudo.

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Cerca de 70% dos diagnosticados com ETC eram atletas amadores, mais da metade voltados para o futebol americano. Os outros praticavam esportes como hóquei no gelo, futebol, rugby e luta-livre. Eram, em esmagadora maioria, homens – a primeira atleta feminina a ser diagnosticada com a doença foi uma australiana, no início de julho deste ano. O estudo levou em conta uma jogadora de futebol universitário de 28 anos, reconhecida como a primeira atleta americana com CTE. 

Diferente de outros estudos, voltados para jogadores com muito tempo de estrada no esporte profissional, a pesquisa em questão focou em atletas que jogavam em campeonatos universitários e em torneios amadores em sua juventude. Em média, esses atletas morriam com 25 anos de idade, já tendo cerca de 10 anos de experiência com esportes de alto contato. Comparados aos que não tinham ETC, os diagnosticados passaram 4 anos a mais competindo.

Infelizmente, a ETC não tem cura. Pior ainda: um diagnóstico formal só pode ser firmado depois de uma autópsia – ou seja, não pode ser feito em vida. Restam cuidados com os atletas e atenção para tratar possíveis sintomas; principalmente os quadros psicológicos que podem surgir.

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