Marcelo Bortoloti
A ofensa do jogador Desábato a Grafite, em abril, e as nem um pouco encabuladas demonstrações de racismo que se seguiram nos estádios portenhos reacenderam uma acusação que há tempos paira sobre nosso vizinho: a de que a Argentina é um país historicamente racista. Mas será que isso é verdade? Para o argentino Victor Ramos, presidente da ONG Discriminación, e autor do livro Preconceito e Discriminação na Argentina, o racismo em sua terra natal não é muito diferente do racismo brasileiro. Lá, como aqui, os casos grosseiros são denunciados pela imprensa e causam indignação na sociedade (pesquisas na Argentina apontaram, por exemplo, que 60% da população foi a favor da prisão de Desábato). “Mas o discurso preconceituoso sutil faz parte do dia-a-dia argentino, assim como na maior parte da América Latina”, diz Victor.
O problema com a Argentina são os antecedentes históricos. Segundo o jornalista de argentino Jorge Lanata, seu país não tem negros porque os exterminou. No livro Argentinos, ele afirma que, durante as guerras de independência, os escravos foram colocados na linha de frente das batalhas e eram os primeiros a levar bala. Assim, foram quase dizimados.
Outra mancha que ajudou a construir a fama de racista argentina foi a receptividade que o país deu a nazistas fugitivos, durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Para verificar esse tipo de acusação, o governo criou uma comissão especial para esclarecimento de atividades nazistas no país, em 1995. Encontrou 180 criminosos vivendo impunemente por lá (apesar de dissidentes do próprio governo afirmarem que são mais).
Mas, para Victor Ramos, o racismo vigente hoje na Argentina é um racismo à européia, resultado da influência britânica sobre as classes dominantes do país. “Principalmente em Buenos Aires, o preconceito é voltado contra estrangeiros que vêm da Bolívia, Peru e Paraguai”, diz ele.
As acusações
Sem negros
No livro Argentinos, Jorge Lanata diz que o extermínio dos negros está bem documentado. No censo de 1810, a população tinha 25% de negros. No de 1887, caiu para 1,8%.
Abrigo a nazistas
Estima-se que, entre 1933 e 1955, 60 mil nazistas – entre eles, criminosos de guerra – se refugiaram no país.
Branqueamento
No início do século 19, filhos de negras com europeus eram registrados como brancos, independentemente dos traços ou do tom de pele.