Sérgio Gwercman, diretor de redação
Fazer reportagens para a SUPER está entre as tarefas mais cabeludas que já enfrentei. É preciso ler uma pilha de livros, contactar especialistas pelo mundo, lidar com uma montanha de informações e
detalhes, criar infográficos e, por fim, escrever um longo texto, de até 10 páginas. Tudo isso leva tempo – coisa de dois meses de trabalho. Muito menos, portanto, que os dois ANOS que o repórter Rodrigo Rezende demorou para entregar a matéria Minha Vida Sem Foco, que publicamos neste mês.
O motivo? Excesso de esmero. Rodrigo é dos melhores colaboradores que temos, autor de reportagens que fizeram história na revista, como as capas de Ciência Nazista e Darwin. Mas não é só isso. Rodrigo também tem um problema: sofre de déficit de atenção, ou TDAH, na sigla em inglês. E isso torna gigantesco o desafio de escrever para a SUPER. Pessoas que têm déficit de atenção sofrem para gerenciar a própria mente. Funciona assim: você está assistindo a um filme quando um personagem cita
um livro da sua coleção. É o suficiente para desviar sua atenção da tv para a estante: você quer checar o volume imediatamente. Tudo bem, não fosse o fato de que, ao pegá-lo, você lembra que a capa é de um famoso fotógrafo, e logo está procurando a data da exposição que ele abrirá na cidade. Enquanto isso, o filme foi pro brejo. Da mesma maneira, ao escrever para a SUPER, cada um dos detalhes da apuração vira um universo, onde é possível mergulhar e passar dias e dias pesquisando. Ao sair de lá, você tem tantas informações que poderia escrever um livro sobre o que deveria ser apenas um parágrafo. Talvez seja por isso que o Rodrigo produza reportagens tão ricas. Mas é por isso também que elas estão sempre atrasadas.
Foi essa história que eu pedi para ele contar, em 2010, quando encomendei uma matéria sobre a experiência de viver com déficit de atenção. Dois anos depois, a reportagem está lá na página 56, e faz
parte do especial sobre concentração que produzimos. Não é, porém, o único trabalho que o Rodrigo fez para a edição. Após receber o texto sobre TDAH, encomendamos para ele a reportagem O Gordo é o Novo Fumante. Desta vez o prazo era bem menor: uma semana. Ele cumpriu. E o que entregou tem a mesma qualidade dos trabalhos que, às vezes, demoram dois anos para serem escritos. Bom saber que o conteúdo desta edição serviu para ajudar pelo menos uma pessoa.
Um grande abraço.
SUPER REAIS
O cinema trata mutantes como super-heróis. Aqui na SUPER a gente trata como eles são: gente normal. Porque, sim, mutantes existem. E eles têm poderes, como a criança mais forte que adultos e a mulher com memória infinita. Quer conhecer outros casos? Estão na edição especial Mutantes Reais, que já está nas bancas.