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Afinal, os cremes anti-idade funcionam mesmo?

Todo dia aparece um novo, com promessas mais milagrosas. Mas o que é ciência, e o que é mero marketing, nessa história?

Por Da Redação
28 out 2019, 14h16

Cristais líquidos, platina, algas marinhas e – acredite se quiser – até caviar. Estes são alguns dos ingredientes de luxo anunciados pelos cremes anti-idade. Alguns dos rostos mais bonitos do mundo, como o de Sharon Stone, Diane Keaton e Xuxa, estrelam comerciais que ressaltam os poderes milagrosos de apagar rugas e linhas de expressão, acabar com a flacidez e, por fim, deixar a pele dois, cinco e até dez anos mais jovem. Não é à toa que o mercado de cuidados com a pele facial gera por volta de R$ 4 bilhões por ano no Brasil. Só no e-commerce brasileiro da Sephora, loja especializada em produtos de beleza, os itens anti-idade variam de R$ 100 a R$ 5.750 por 60 ml de um creme que promete “renascimento” da pele em 28 dias. Mas resta a pergunta: eles fazem o que prometem?

Ao que tudo indica, não. Em 2010, a Consumer Reports, organização americana que testa produtos e disponibiliza os resultados ao consumidor, publicou em sua revista um teste com nove séruns antirrugas à venda sem prescrição médica. A pesquisa contou com 79 participantes, que usaram os produtos por seis semanas. Eles foram fotografados e avaliados comparando o antes e o depois. Os resultados ficaram aquém do anunciado pelo fabricante. Em alguns casos, o efeito variava de indivíduo para indivíduo; ou seja, adiantava para alguns e não fazia cócegas em outros.

A descoberta da Consumer Reports não é surpreendente, já que os anti-idade não precisam, por lei, passar por testes de eficácia conduzidos por órgãos oficiais, como a Anvisa. Segundo a agência, o foco da avaliação desses produtos é a segurança (isto é, se faz mal ou não). O mesmo acontece nos Estados Unidos, onde os cosméticos não necessitam da aprovação da FDA (Food and Drug Administration), a Anvisa deles, antes de chegar ao mercado. Isso mostra o seguinte: mesmo que alguns produtos sejam eficazes, será praticamente impossível saber quais funcionam de verdade. “Muitas vezes, o consumidor que não tem conhecimento específico dos princípios ativos acaba sendo iludido por promessas milagrosas”, conta Damiê De Villa, dermatologista da Santa Casa de Porto Alegre.

O psiquiatra britânico e autor do livro Ciência Picareta, Ben Goldacre, também denuncia as marcas de dermocosméticos por comercializarem antirrugas sem resultados. Em uma de suas colunas no jornal The Guardian, o britânico, que dedica sua vida a desmascarar estudos científicos ruins, condena a atitude das indústrias, que não submetem suas fórmulas a testes em laboratórios de dermatologia ligados a universidades, nem publicam artigos acadêmicos.

Retinol

A crítica feita aos cremes, porém, não significa que sejam totalmente fruto de uma grande balela. Alguns estudos científicos que avaliaram princípios ativos dos produtos provaram que os cremes até podem funcionar. A substância com mais resultados positivos é a tretinoína, um derivado da vitamina A que conhecemos pelo nome de ácido retinoico. Em 1913, pesquisadores da Universidade de Wisconsin e de Yale estudaram a vitamina A e detectaram que ela tinha o poder de reparar a pele. Foi esse achado que, no início da década de 1980, possibilitou que o dermatologista americano Albert Kligman comprovasse a ação da tretinoína no tratamento do envelhecimento. Os efeitos do ácido retinoico incluem a diminuição de manchas causadas pela idade e pela exposição ao sol e mais firmeza, o que contribui para abrandar algumas rugas. Isso ocorre graças ao estímulo da produção de colágeno – a proteína que ajuda a manter a pele firme. Além disso, o processo de renovação celular da pele, que normalmente ocorre em seis semanas, pode acontecer em apenas alguns dias com o uso do ácido.

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Só há um problema: cremes com a tretinoína só podem ser comprados com prescrição médica. Portanto, você não vai encontrá-los à venda na prateleira do supermercado ou na loja online. O cuidado extra é porque a pele pode ficar muito sensível, provocando efeitos indesejados, como ressecamento, sensibilidade ao sol com risco de queimaduras e dermatites de contato. Proibida de vender a substância sem receita, a indústria passou a comercializar cremes com retinol, um derivado leve e, como vimos, de eficácia menos comprovada.

As pesquisas também encontraram poderes antienvelhecimento na vitamina C, que tem papel antioxidante, impulsiona a produção de colágeno e é um potente removedor de manchas. Outras substâncias com estudos científicos favoráveis no trato da pele são da classe dos alfa-hidroxiácidos (ácidos glicólico e lático), que têm um efeito semelhante ao da vitamina A, acelerando o ciclo de renovação da pele, como um esfoliante. Mas a principal dica dos dermatologistas continua sendo a mesma: “Um dos melhores cremes anti-idade é o filtro solar, porque ele protege a pele das alterações provocadas pela radiação ultravioleta, prevenindo o envelhecimento precoce, manchas e o câncer de pele”, alerta Damiê De Villa.

Testado e aprovado

Em meio a tantas polêmicas envolvendo os produtos anti-idade, a fabricante Boots decidiu colocar seu produto à prova. Um ensaio clínico feito pela Universidade de Manchester e publicado no Jornal Britânico de Dermatologia em 2009, testou o Nº7 Protect & Perfect, que promete reduzir rugas em apenas quatro semanas. A equipe de investigação, liderada pelo dermatologista Chris Griffiths, recrutou 60 voluntários (11 homens e 49 mulheres com idades entre 45 e 80 anos), que receberam tubos de creme aleatoriamente. Enquanto 30 voluntários usaram o antirrugas, outros 30 receberam um placebo. Os resultados mostraram que, após 12 meses de uso diário, 70% dos indivíduos que utilizaram o Nº7 tinham menos rugas. O produto estimulou a produção de fibrilina-1, uma proteína que promove a elasticidade perdida pela exposição da pele ao sol. Foi a primeira vez que um creme anti-idade disponível para venda sem prescrição médica teve sua eficácia comprovada cientificamente. Resultados como esses só haviam sido vistos com o uso do ácido retinoico. Após a pesquisa e com um destaque em um programa na televisão britânica, o creme sumiu das prateleiras – em apenas um dia, vendeu o equivalente aos cinco meses anteriores.

Para a dermatologista Leandra Metsavaht, membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a aplicação de cremes tem a vantagem de ser um procedimento não invasivo, mas é importante observar que eles apresentam limitações nos resultados. Alguns casos de flacidez, rugas e linhas de expressão severas podem exigir outros procedimentos, como aplicações de botox e cirurgias plásticas, para serem corrigidos totalmente. “O ideal é o paciente procurar um dermatologista para ser orientado sobre o seu tipo de pele e poder filtrar, dentro desse vasto mundo dos cremes, o que funciona para ele.”

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