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Após meio século, cientistas descobrem 47º sistema de grupo sanguíneo

Achou que só existia o sistema ABO? Nada disso. Entenda por que existem dezenas de outros sistemas.

Por Bela Lobato
21 set 2024, 10h00
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  • Diversas bolsas de sangue penduradas.
     (Europa Press News / Getty Images/Reprodução)

    Sangue não é tudo igual: segundo o sistema de classificação ABO, o líquido vermelho pode ser do tipo A, B, AB ou O. Isso depende das substâncias encontradas na superfície das hemácias (aglutinogênios) e dos anticorpos no plasma sanguíneo.

    Já segundo o sistema de fator Rh, o sangue pode ser dividido em positivo (+) ou negativo (-). Exemplo: uma pessoa pode ser do grupo O no primeiro sistema; e Rh positivo de acordo com o segundo. Dizemos que esse indivíduo é O+. Há pessoas de sangue AB-, A+, O- e por aí vai.

    Esses são os dois sistemas de grupos sanguíneos que aprendemos na escola. Mas não são os únicos. Outros exemplos são o sistema MNS, sistema luterano, sistema Kell, sistema Kidd, entre outros. Cada um é definido pela presença ou ausência de determinado antígeno na superfície na hemácia. No total, conhecemos 46 sistemas de grupos sanguíneos.

    Na verdade, 47. Cientistas acabam de descobrir um 47º sistema, com base no antígeno AnWj – desvendando um mistério de mais de 50 anos.

    Tudo começou em 1972, quando uma mulher grávida teve seu sangue coletado. Os médicos notaram que seus glóbulos vermelhos pareciam não ter determinado antígeno que todos os outros sangues pareciam ter. Ninguém sabia o motivo. E uma coisa dessas é muito séria: se essa mulher precisasse de receber uma transfusão, e recebesse sangue incompatível com o seu, ela poderia morrer.

    Naquela época ninguém descobriu como resolver o problema, e não há notícias da saúde da mãe e do bebê. A amostra de sangue ficou armazenada e, 33 anos depois, voltou a ser estudada pela cientista Louise Tilley. Àquela altura, já existiam registros de outros casos de sangues estranhos, e Tilley resolveu compará-los para descobrir o que tinham em comum.

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    “Achamos que seria fácil”, lembra Tilley, em entrevista ao site Wired. “Não foi bem assim que aconteceu.” O antígeno que faltava no sangue da grávida foi chamado AnWj. Ela, então, seria classificada como AnWj-negativo. A grande maioria das pessoas é AnWj-positiva, enquanto as AnWj-negativas são extraordinariamente raras e distantes entre si. 

    Nicole Thornton, coautora do estudo, diz, na mesma reportagem da Wired, que não é possível dar uma estimativa específica, mas sugere que pode haver menos de dezenas de milhares de pessoas AnWj-negativas no planeta. “Provavelmente há mais do que imaginamos, mas ainda é muito, muito raro”, ela completa.

    O estudo publicado no periódico Blood contava com oito amostras de sangue negativas para AnWj, sendo que algumas delas vieram de membros das mesmas famílias. A função dos pesquisadores foi entender a causa genética por trás da ausência do antígeno.

    Existem milhares de possibilidades no genoma humano, e eles não tinham nenhuma pista. Se passaram 19 anos de pesquisa: idas e vindas, hipóteses testadas e frustradas, etc. Com o tempo, começaram a desconfiar de um gene conhecido como MAL, que está envolvido em várias funções das células sanguíneas. 

    Como detetives, descobriram que todos os indivíduos AnWj-negativos que eles conheciam compartilhavam uma alteração incomum nesse gene. Aí, eles testaram inserir um gene MAL nas células de sangue AnWj-negativos. O gene é como um livro de receitas para que a célula produza uma proteína específica.

    E, como esperado, a inserção do gene ligou a fábrica de produção do o antígeno e tornou as células positivas para AnWj. Essa foi a prova definitiva de que haviam encontrado o gene responsável por essa rara variação das células vermelhas do sangue.

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    Os pesquisadores provaram que uma mutação no MAL poderia resultar em alguém com sangue negativo para AnWj. Mas a grande maioria dessas pessoas não é predisposta geneticamente. Em geral, esse tipo de sangue é causado por um distúrbio hematológico ou porque têm um câncer que afeta especificamente o gene MAL. 

    Segundo os pesquisadores, a identificação do gene responsável deve facilitar encontrar transfusões seguras para as pessoas AnWj-negativas. “Temos que lhes dar sangue compatível. Caso contrário, há uma grande probabilidade de que eles tenham uma reação transfusional que pode ser fatal”, diz Thornton.

    As duas pesquisadoras também foram parte das equipes que descobriram a base genética do 44º sistema de grupos sanguíneos, chamado Er, em 2022, e do sistema de grupos sanguíneos MAM em 2020, entre outros. Durante a última década, os pesquisadores de sangue em todo o mundo descreveram aproximadamente um novo sistema de grupo sanguíneo por ano, em média.

    E não deve parar por aí: ainda há um punhado de amostras de sangue misteriosas, que reagem a outros sangues de formas inesperadas. Muitas pesquisas examinam regularmente essas amostras, na esperança de conseguirem entender algo. No caso da AnWj, levou 52 anos. 

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