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Cachorros detectam malária pelo cheiro das meias das pessoas

Novo estudo propõe uma forma eficaz e não invasiva de detectar a doença infecciosa

Por Ingrid Luisa
29 out 2018, 18h49

O olfato dos cães pode se tornar uma arma poderosa contra a malária. As 220 milhões de células olfativas presentes em um focinho canino (que humilham as 5,5 milhões dos humanos) detectam os cheiros mais improváveis. E odores produzidos por pessoas infectadas com parasitas da malária estão entre esses cheiros, segundo um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Durham, na Inglaterra.

Na verdade, não é a primeira vez que cachorros conseguem detectar doenças usando o olfato. Estudos anteriores mostraram que cães farejadores treinados são capazes de detectar câncer de próstata, através do cheiro da urina dos pacientes, com mais de 90% de precisão. E eles detectam outros tipos de câncer (pulmão, cólon, etc)  através de odores liberados pela pele ou pelo hálito de doentes. No caso da malária, a fonte do cheiro usada no estudo foram meias.

O objetivo da pesquisa era apresentar uma forma não invasiva de detecção da malária. Essa doença infecciosa, causada pelo protozoário Plasmodium e transmitida pelas fêmeas do mosquito prego (Anopheles), possui uma característica peculiar: enquanto algumas pessoas adoecem rapidamente quando infectadas, outras podem carregar os parasitas durante meses sem apresentar nenhum sintoma óbvio. “Se você tem 1 pessoa infectada com malária em mil pessoas de uma região, você não pode tirar sangue de 1.000 pessoas para identificar uma única doente. É preciso uma abordagem não invasiva”, disse Steven Lindsay, líder do estudo, em comunicado. E foi daí que surgiu a ideia de usar o super olfato dos cães.

No estudo, crianças da Gâmbia (país africano com altos índices da doença), que não apresentavam sintomas da malária, usaram meias de náilon durante uma noite. Depois, elas forneceram as meias e uma amostra de sangue, para que os pesquisadores conseguissem averiguar se as crianças estavam ou não infectadas com a malária. No total, haviam 30 doentes e 145 saudáveis.

Para o teste da pesquisa, dois cães treinaram durante meses para conseguirem identificar, pelo cheiro, se meias pertenciam a pessoas saudáveis ou portadoras da malária. Nos experimentos com as meias da Gâmbia, os cachorros identificaram corretamente as meias de crianças com malária em 70% dos testes, e reconheceram meias usadas por crianças não infectadas em cerca de 90% deles.

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A margem de erro dos testes, segundo os pesquisadores, se justifica pelos diferentes odores que as duas fases da larva podem gerar. Talvez você se lembre das aulas de ciclo da malária do colégio: no corpo humano, a larva do protozoário possui um estágio sexuado e outro assexuado. E, os pesquisadores constataram que cada estágio produz um odor distinto. Daí os cachorros se confundirem algumas vezes.

Esses resultados foram apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, em Nova Orleans, EUA, e a pesquisa teve financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates. Ela já apresentou uma boa solução não invasiva para identificar a malária, mas o próximo passo é saber se os cachorros conseguem detectar o odor da malária entrando em contato com as próprias pessoas — ao invés de meias.

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