Cientistas assinam manifesto contra a volta do horário de verão
Entenda os motivos para especialistas em cronobiologia serem contra o tradicional ajuste nos relógios, extinto no Brasil desde 2019.
Já são cinco anos sem horário de verão no Brasil. Ele começou em 1931 e foi extinto em 2019 durante o governo de Jair Bolsonaro. Os principais argumentos para a medida foram que a suposta economia de energia proporcionada pela medida era muito baixa.
Os hábitos de consumo haviam mudado ao longo da segunda metade do século 20 – especialmente por causa do uso crescente de aparelhos de ar-condicionado nos escritórios, que atinge seu pico no começo da tarde –, e agora, a política não surtia mais o mesmo efeito.
Agora, por causa da seca e do calor insuportáveis que acometem boa parte do território do Brasil, o país talvez precise da energia extra poupada pelo horário de verão, por mais minúscula que a economia seja.
Reservatórios hidrelétricos estão com nível mais baixo do que o comum, e o calor aumenta o uso de energia inclusive durante a madrugada, porque há cada vez mais pessoas usando ar-condicionado para dormir. Esse é o argumento do governo Lula a favor da volta do horário de verão, que ainda não está decidida.
Um grupo de 26 cientistas assinou um manifesto que diz que, apesar da possível economia energética, a adoção do horário de verão não compensa os possíveis desgastes na saúde da população, que tem que se adaptar ao novo padrão do relógio. Mas por quê? A gente te explica.
Ciência contra horário de verão?
A cronobiologia é a área da ciência que estuda os ritmos biológicos dos seres vivos. Como o tempo se relaciona com nossos corpos? É isso que os 26 cientistas contra o horário de verão estudam.
De acordo com eles, os ritmos biológicos dos seres humanos estão muito relacionados ao ciclo natural de dia e noite. A luz e a escuridão naturais são essenciais para regular nosso sono, apetite, funções cardiorrespiratórias, desempenho cognitivo e até humor. “A exposição à luz natural”, escrevem os especialistas, “é crucial para sintonizar nosso relógio biológico com o ambiente”.
Esse alinhamento natural dos ritmos do corpo com os ciclos da natureza já tem sido profundamente modificado nos últimos séculos. Luzes artificiais nos ajudam a estender o dia até a madrugada, se quisermos ou precisarmos. Para os cientistas, a volta do horário de verão só vai contribuir mais para esse descompasso.
Os especialistas ainda explicam que várias pessoas conseguem se adaptar ao horário de verão, mas muitas continuam fora de sintonia.
Isso não é uma questão de ser melhor ou pior, mais ou menos saudável, e sim de diversidade humana. E se algumas pessoas vão se prejudicar com distúrbios de sono, aumento de eventos cardiovasculares adversos e transtornos mentais e cognitivos, os especialistas argumentam que talvez seja melhor ficar sem horário de verão, mesmo.
Os cientistas citam um estudo brasileiro de 2017, publicado na Annals of Human Biology, que mostra que mais de 50% da população relatou algum desconforto com o horário de verão. Eles também citam estudos que correlacionam a mudança para o novo padrão de horário com acidentes de trânsito, como estes dois.
O documento foi assinado por pesquisadores de instituições como a USP, a UFRN, a UFMG e a Fiocruz. Eles terminam o manifesto explicando que a posição contra o horário de verão não é relacionada a nenhuma posição política, mas sim baseada em pesquisas sobre o assunto.