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“Biópsia líquida” pode diagnosticar câncer sem dor

Tecnologia está sendo desenvolvida há três anos nos EUA – e pode mudar a forma como tratamos o câncer e a metástase.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jul 2018, 20h15 - Publicado em 3 jul 2018, 19h33

Não há nada de agradável na posição de alguém que está esperando para saber se tem câncer ou não.

E, para piorar, é quase impossível escapar dessa dúvida sem a temida biópsia.

Sempre invasiva e quase sempre dolorida, a biópsia é o exame que retira um pedacinho de uma massa suspeita – que pode ou não ser um tumor – para entender o que diabos é aquilo, e definir quais serão os próximos passos do preocupado paciente.

Para ser totalmente justa com a biópsia, ela é a melhor no que faz. Hoje, não existe forma mais segura e a mais certeira de definir o melhor rumo quando há suspeita de uma doença tão complexa quanto o câncer. O que, é claro, não torna o exame mais agradável.

Mas uma alternativa – razoavelmente indolor! – pode estar próxima. A Universidade Duke dedicou um bom par de anos aperfeiçoando uma técnica ambiciosa: combinar ondas sonoras e exames de sangue para criar uma “biópsia líquida” supereficiente.

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Biópsias líquidas

Câncer que pode ser detectado por exame de sangue sempre vira notícia – como você comprova aqui, aqui e aqui.

O motivo é simples: isso é extremamente difícil de fazer. Câncer não é uma doença, são várias. E, por isso, cada exame vai ser criado, a duras penas, para detectar uma punhada deles – e só.

Criar uma “biópsia líquida” é ainda mais difícil. Quando você tem um pedaço do tumor para analisar, geralmente consegue um monte de informações vitais não só para diagnóstico, mas também para tratamento. Informações que não costumam estar fluindo pelas veias de ninguém.

A exceção à essa regra são as CTCs: células tumorais circulantes. São pedacinhos de tumor que se desprendem e caem na corrente sanguínea. Eles são fundamentais para que o câncer se espalhe e estão na raiz das metástases.

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Quando CTCs começam a aparecer com mais facilidade em exames de sangue, é porque a coisa ficou feia e o câncer provavelmente já progrediu bastante.

Mas muito antes que o câncer comece a se espalhar, já existem CTCs no sangue. Elas só são muito mais raras e difíceis de detectar – coisa de meia dúzia a cada bilhão de células sanguíneas.

Essas CTCs são o verdadeiro alvo das tentativas de criar uma biópsia líquida. O problema é encontrá-las no meio de tantas outras células. E pior: não destruí-las no processo.

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Hoje, os equipamentos que são capazes de separar as células do sangue das CTCs (o que é um feito e tanto) acabam destruindo todas elas no processo.

Por um lado, mesmo com células destruídas, é possível dar os primeiros passos de diagnóstico. A CTC prova que o tumor está ali.

Por outro lado, fica impossível estudar essa célula. E ela carrega informações preciosas: Entender quais drogas agem melhor nela poderia revelar o melhor tratamento para o paciente. Suas características podem até ajudar a estimar o tamanho e a localização do tumor.

Encontrar uma célula dessas e depois matá-la é como achar uma agulha preciosa no palheiro – e aí quebrar a agulha.

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Brincando de casinha com o câncer

Entra em cena o método desenvolvido na Duke. Depois de uma coleta comum de sangue, ele usa ondas sonoras para separar células de tamanhos diferentes.

Uma onda sonora, na prática, é uma onda de pressão, que vai empurrando o ar para se propagar. Quando a onda sonora é emitida em um ângulo específico, a pressão microscópica que o som exerce acaba “empurrando” as partículas presentes no sangue líquido, como você percebe no vídeo abaixo.

Partículas de tamanhos diferentes são afetadas de forma diferente. As CTCs são maiores e mais rígidas que as demais. Dessa forma, elas são empurradas em uma direção levemente diferente que as células saudáveis. E elas são coletadas em canais separados. É basicamente uma peneira sonora.

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Os empurrões desse ultrassom atingem cada CTC só uma vez – e são suaves o suficiente para manter a célula viva.

E qual o objetivo de tudo isso? Acredite se quiser: cultivar essas células, para que elas cresçam, se desenvolvam e formem tumores em laboratório.

Os cientistas querem colher esses pedacinhos e fazer culturas de tumores – do mesmo jeito que se faz hoje com bactérias. Uma cultura bacteriana permite testar vários antibióticos e descobrir qual é mais eficiente para curar uma infecção.

Fazer a mesma coisa com quimioterapias para qualquer câncer seria importantíssimo – e absolutamente revolucionário se isso fosse possível sem nenhum tipo de biópsia invasiva.

Nos últimos três anos, o foco dos cientistas por trás da técnica foi torná-la eficiente e rápida. Hoje, a peneira sonora separa as CTCs com 86% de eficiência e analisa 75 ml de sangue por hora.

Os pesquisadores pretendem melhorar ainda mais esses números para que a ferramenta possa ser adotada em um cenário realista de exames clínicos.

Para além de permitir um perfil detalhado do câncer, personalizado ao paciente, esse tipo de técnica pode ampliar o que sabemos sobre as CTCs em si – e revelar, por exemplo, que mecanismos permitem que essas células evoluam para as perigosas metástases. Seria o caminho mais curto, até agora, para cortar esse mal pela raiz. E tudo isso sem furos doloridos.

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