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CoronaVac: vacina chinesa começa a ser testada no Brasil

É a segunda vacina a entrar na fase final de testes no país. Os primeiros voluntários serão profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à Covid-19.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 21 jul 2020, 19h27 - Publicado em 21 jul 2020, 19h20

Nesta terça-feira (21), em São Paulo, os primeiros voluntários brasileiros começaram a receber doses da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech. O procedimento faz parte da fase 3 de testes da vacina, a última e mais abrangente etapa antes de uma possível aprovação, em que milhares de pessoas são acompanhadas por meses após receber as injeções para verificar sua eficácia.

De acordo com o governador João Doria (PSDB), 20 mil doses da CoronaVac, como é chamada a vacina, chegaram em São Paulo na madrugada de segunda-feira e foram encaminhadas ao Instituto Butantan, responsável por conduzir os testes no Brasil. A ideia é que os voluntários sejam profissionais da saúde que estejam na linha de frente combatendo a pandemia.

No total, serão 9 mil pessoas em todo país. Elas receberão duas doses da vacina em um intervalo de 14 dias, e serão acompanhadas por pesquisadores durante três meses para verificar a resposta imunológica induzida pela vacina. Os primeiros vacinados serão os 890 profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), alguns dos quais já receberam a primeira dose hoje.

As fases de uma vacina

Na primeira fase de testes, apenas algumas dezenas de pessoas recebem as doses, e o objetivo principal é verificar a segurança e a possibilidade de danos colaterais. Na segunda, centenas de pessoas são voluntárias e se começa a avaliar a resposta imunológica induzida pela vacina. Mas é só com testes em milhares de pessoas acompanhadas por longo prazo que podemos bater uma martelo sobre sua eficácia e duração de sua proteção.

Já a terceira fase de testes, em que a CoronaVac se encontra, é a etapa mais abrangente de toda a produção. Ela é a prova se uma vacina funciona ou não, e por isso é essencial para se aprovar seu uso.

CoronaVac no Brasil

Por aqui, metade dos voluntários receberão a vacina de fato, enquanto outra metade receberá uma substância placebo, que não tem efeito nenhum. A ideia é que nem os voluntários e nem os pesquisadores saibam quem recebeu o quê – algo que a ciência chama de “estudo duplo-cego”. Isso irá permitir que os resultados entre os dois grupos sejam analisados e comparados posteriormente, sem vieses.

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O principal objetivo da terceira fase é verificar se a resposta imunológica gerada pela vacina é forte o suficiente para imunizar os humanos, e também descobrir por quanto tempo essa proteção dura. Além de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal também participarão da etapa de experimentos.

Se funcionar, a ideia é que a vacina comece a ser produzida e distribuída em massa no início de 2021. “Se tivermos sucesso, como esperamos ter, a vacina será feita aqui no Instituto Butantan já no início do próximo ano, com mais de 120 milhões de doses”, explicou Doria em coletiva de imprensa. “A vacina será destinada a todos os brasileiros, não apenas aqueles de São Paulo, e isso será feito através do SUS. O Butantan terá todo o domínio da tecnologia.”

A Sinovac Biotech começou a desenvolver a CoronaVac ainda em janeiro, menos de um mês após o coronavírus ser identificado. Nas duas primeiras etapas de testagem feitas na China, com 743 voluntários, a vacina apresentou resultados promissores. Nenhum efeito colateral grave foi identificado.

Outras candidatas

A vacina chinesa é uma das que estão em estágio mais avançado do mundo, mas quem lidera a corrida, segundo a Organização Mundial da Saúde, é a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com a empresa AstraZeneca. A fase três de testagem dessa vacina também já está acontecendo no Brasil, liderada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e também na África do Sul e na Inglaterra.

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Logo em seguida vem a vacina da empresa americana Moderna Therapeutics, que entrará na terceira fase com milhares de voluntários nos Estados Unidos no próximo dia 27 de julho. Outra candidata chinesa, da empresa Sinopharm, está em estágio avançado de experimentos nos Emirados Árabes. Além dessas quatro, várias dezenas de outras possíveis vacinas estão em estágios mais iniciais de testes – o que é positivo, pois nada garante que as mais avançadas serão, de fato, aprovadas na última etapa.

Nesta terça, foi anunciado também que a Anvisa garantiu aprovação para testes de fase três no país da vacina da Pfizer, que também apresentou resultados promissores nos primeiros testes feitos em poucos voluntários.

Ainda não se sabe quando os testes de fato por aqui. O protagonismo do Brasil, palco de três projetos de testes avançados de vacinas diferentes, não é à toa: por aqui, diferente de outros países, a pandemia ainda parece estar descontrolada. Somos o segundo país com mais casos e mais mortes, e a curva de infecções não apresenta tendência de abaixar, o que torna a necessidade de se imunizar profissionais da saúde ainda mais urgente. Além disso, o Brasil tem uma extensa experiência na produção e distribuição de vacinas, além de uma boa reputação mundial em pesquisas de ponta da área através de seus centros e universidades.

Vale ressaltar que testar uma vacina em três etapas leva tempo – em geral, anos. Isso sem falar que estamos considerando apenas os testes em humanos; antes disso, as substâncias são testadas em laboratórios e em cobaias animais, o que deixa o processo ainda maior, mas é essencial para verificar a segurança.

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Com a urgência imposta pela pandemia, nunca houve tantos grupos de pesquisa trabalhando com o tema ao mesmo tempo, e espera-se que o desenvolvimento de uma vacina quebre recordes e possa vir em apenas um ano, algo muito rápido para o ramo. Em termos de comparação, a vacina efetiva mais rápida já produzida até então foi a do sarampo – e levou 10 anos.

 

 

 

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