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CureVac: nova vacina alemã pode acelerar imunização contra a Covid-19

Ela usa a mesma técnica que as vacinas da Pfizer e da Moderna, mas com uma diferença: é mais fácil de armazenar – e transportar.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 24 Maio 2021, 13h42 - Publicado em 6 Maio 2021, 14h16

Prestes a apresentar os resultados da terceira e última fase de testes, a vacina da CureVac, biofarmacêutica alemã, pode acelerar a luta global contra a Covid-19, sobretudo nos países que ainda estão em estágios iniciais de imunização. A vacina usa a mesma técnica que as bem-sucedidas versões da Moderna e da Pfizer/BioNTech, mas com um trunfo: por não precisar de temperaturas muito baixas para refrigeração, ela se torna mais fácil de conservar – e transportar.

Antes de tudo, é preciso explicar que esses três imunizantes funcionam a partir de uma técnica inovadora e que, até a pandemia, jamais havia sido aprovada para uso em humanos. Trata-se da vacina de RNA, feita com um pedaço do código genético do vírus – no caso, o RNA mensageiro (mRNA) que codifica a proteína spike, a arma do Sars-CoV-2 para invadir células humanas. A ideia é que nossas células usem as instruções contidas nesse RNA para fabricar a proteína spike. Ela é reconhecida pelo sistema imunológico, que produz anticorpos e deixa a pessoa protegida contra uma eventual infecção pelo coronavírus.

Cerca de 29 equipes escolheram a técnica na criação de vacinas contra a Covid-19 – a CureVac, por exemplo, desenvolve o seu imunizante desde março de 2020. BioNTech e Moderna, por receberem altos investimentos, saíram na frente e já estão sendo aplicadas em ao menos 90 países (nos EUA, por exemplo, elas representam boa parte das doses distribuídas à população). Mas há um fator que diferencia a vacina alemã destas duas: o armazenamento.

Tanto a vacina da Pfizer/BioNTech quanto a da Moderna apresentam altos níveis de eficácia (90% e 94,5%, respectivamente). Porém, elas têm um problema: ambas precisam ser armazenadas a baixas temperaturas. A da Pfizer, que tem validade de 15 dias, precisa ficar guardada a -70 ºC. Já a da Moderna, que dura 30 dias sob refrigeração (e 12 horas em temperatura ambiente), precisa ficar a -20ºC.

Tais condições dificultam o armazenamento e transporte dos imunizantes – sobretudo para regiões distantes dos centros de produção e que podem não possuir geladeiras suficientemente potentes para conservar as doses. Já a vacina da CureVac é mais simples. Ela precisa ser guardada a -5ºC, além de permanecer estável por três meses (fora da geladeira, por até 24 horas).

Após resultados positivos em etapas anteriores, a fase 3 de testes do imunizante alemão começou em dezembro de 2020 e reuniu 40 mil pessoas da Europa e da América Latina. Vai funcionar assim: quando 56 voluntários (0,14% do total) desenvolverem Covid-19, a equipe de cientistas analisará os dados. Se a maior parte dos doentes pertencer ao grupo placebo, então eles saberão que a vacina é, de fato, eficaz.

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A CureVac integra o que os especialistas estão chamando de “segunda onda de vacinas”, na qual se incluem, por exemplo, a Novavax, dos EUA, e a ButanVac, produzida pelo Instituto Butantan. Elas poderão ser vitais para suprir a demanda global e controlar, finalmente, a pandemia.

Breve história da CureVac

O RNA é uma das moléculas mais importantes para qualquer ser vivo. É ela quem faz o trabalho logístico de ler as informações armazenadas no DNA para viabilizar a produção de proteínas.

Nos anos 1990, o biólogo Ingmar Hoerr resolveu pesquisar sobre a molécula enquanto estudava na Universidade de Tubinga, na Alemanha. Ao injetar RNA em camundongos, ele percebeu que os animais eram induzidos a produzir as proteínas desejadas. Mas não só isso: o sistema imunológico dos bichos também era capaz de produzir anticorpos contra tais proteínas.

Foi quando Hoerr percebeu que ali poderia estar um novo método para a produção de vacinas, algo que, naquela época, já existia na teoria, mas que poucos cientistas acreditavam ser possível na prática.

Em 2000, Hoerr cofundou a CureVac, focada em pesquisar a aplicação de RNA na medicina. Em 2013, por exemplo, a empresa injetou em voluntários humanos uma vacina de RNA contra raiva. Foi o primeiro ensaio clínico da tecnologia contra uma doença infecciosa. O imunizante se mostrou seguro, mas produziu uma resposta fraca do sistema imunológico. Em 2017, foi a vez de testar uma vacina de RNA contra o câncer – que não ofereceu benefícios aos pacientes.

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Seja como for, a CureVac adquiriu uma reputação considerável. Em entrevista ao The New York Times, Nicholas Jackson, membro do CEPI, fundação que fomenta o desenvolvimento de vacinas, elogiou a empresa por sua perspicácia científica e velocidade. Em 2019, o CEPI deu US$ 34 milhões à CureVac para dar continuidade às pesquisas.

Ora, se Hoerr e a CureVac são pioneiros em vacinas de RNA, por que os outros imunizantes saíram na frente? Afinal, a BioNTech, também da Alemanha, foi criada em 2008; a americana Moderna, em 2011. É que os investimentos chegaram primeiro para elas. A BioNTech logo fez parceria com a gigante farmacêutica Pfizer, enquanto a Moderna, junto aos Institutos Nacionais da Saúde dos EUA, conseguiu US$ 1 bilhão do governo americano.

Em março de 2020, Donald Trump, então presidente dos EUA, fez uma proposta à CureVac: US$ 1 bilhão para o desenvolvimento da vacina, com a condição de que a empresa transferisse suas operações para o país. Nada feito. Angela Merkel, chanceler alemã, intercedeu, e o plano não foi para frente. Daniel Menichella, que era CEO da CureVac, acabou demitido.

Três meses depois, em junho, a Alemanha deu 300 milhões de euros (US$ 360 milhões) para financiar a vacina de RNA da empresa. Outros investidores também entraram na jogada.

A CureVac tem um acordo com a União Europeia para entregar 225 milhões de doses do imunizante, com a possibilidade de mais 180 milhões nos meses subsequentes. Contudo, a UE fechou, em abril, um novo acordo com a Pfizer/BioNTech: 1,8 bilhão de doses até 2023. Até agora, não se sabe se isso afetará o negócio com a CureVac.

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