Você já deve ter reparado, ao olhar álbuns de família, que os seus avós (ou mesmo os seus pais) pareciam mais altos quando eram jovens. Não é apenas uma impressão. A partir dos 40 anos de idade, é comum que os humanos comecem a perder estatura, seja pelo achatamento dos discos intervertebrais, que ligam as vértebras da coluna, por fraturas de compressão, em que os ossos da coluna enfraquecem e sofrem deformação (um fenômeno mais comum em idosos), ou mesmo por mudanças na postura.
A perda de alguns centímetros pode até parecer inofensiva, mas pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, mostraram que a história não é bem essa. Em um artigo publicado no jornal acadêmico BMJ Open, os cientistas constataram que a perda de estatura em mulheres de meia-idade pode estar associada a maior risco de morte.
Os pesquisadores utilizaram dados pré-existentes do Estudo Sueco de População Prospectiva de Mulheres em Gotemburgo (PPSW) e do projeto Monica (“monitoramento de tendências e determinantes de doenças cardiovasculares”), da Dinamarca. Com esses dados, foi possível comparar a mudança de estatura e a taxa de mortalidade de 2.406 suecas e dinamarquesas nascidas entre 1908 e 1952.
As voluntárias passaram por duas medições de altura: uma no início dos estudos, quando as suecas e dinamarquesas tinham idade média de 47 e 44 anos, respectivamente; e outra rodada 10 a 13 anos depois. Após essa segunda medição, os cientistas continuaram monitorando as mulheres por mais duas décadas, e registraram detalhes sobre aquelas que vieram a falecer, como data e causa da morte.
A equipe da Universidade de Gotemburgo concluiu que, no geral, as mulheres perderam em média 0,8 cm de altura entre a primeira e a segunda avaliação. Durante o período de acompanhamento, ocorreram 625 mortes, das quais 157 foram causadas por doenças cardiovasculares e 37 por Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Os pesquisadores constataram que a perda de 1 centímetro de estatura entre as mulheres estava associada a um risco de morte entre 14% e 21% maior, sendo consideradas todas as possíveis causas para o falecimento. O número subiu significativamente para aquelas voluntárias que perderam dois ou mais centímetros de estatura, chegando a 74%.
Os cientistas também relacionaram o risco a problemas específicos, como doenças cardiovasculares e AVC. Um centímetro perdido equivale a um risco de morte por doenças cardiovasculares 21% maior. Quando a perda era igual ou superior a dois centímetros de altura, o valor mais que dobrava. A equipe explica que o aumento de risco de morte por derrame foi ainda mais expressivo, mas que a informação deve ser tratada com cautela, já que foram poucas as participantes acompanhadas nos estudos que faleceram devido ao AVC.
Os dados foram combinados a fatores como peso, tabagismo, ingestão de álcool, nível de escolaridade, estilo de vida, entre outros, e permaneceram constantes. Um ponto extra identificado pelos cientistas foi que mulheres que praticavam atividade física de alta intensidade com frequência eram menos propensas a ter perdas significativas de estatura – provavelmente devido ao aumento de força muscular, redução da perda óssea e postura mais ereta proporcionados pelos exercícios.
O estudo é observacional, ou seja, a equipe não pôde estabelecer uma causa para as mortes e nem relacionar os problemas. De toda forma, os pesquisadores consideram que a perda de estatura pode funcionar como um alerta para outras doenças. Ao observar a diminuição da altura em suas pacientes, os médicos podem solicitar exames gerais e realizar acompanhamentos próximos para evitar o surgimento de maiores complicações maiores no futuro.