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Fobias: conheça 5 características e como combatê-las

Fobia é doença, sim! Uma em cada cinco pessoas sofre com esse problema grave e incapacitante

Por André Biernath, de Saúde
20 abr 2017, 11h37

Afrodite, deusa do amor, e Ares, deus da guerra, formaram um dos casais mais admirados da mitologia grega. Um dos principais frutos desse relacionamento foi o jovem Fobos. Diz a lenda que ele acompanhava o pai no campo de batalha para ajudar os guerreiros helênicos contra os seus oponentes.

Sua função era injetar medo no coração dos soldados inimigos, para que na hora da luta eles se acovardassem e fugissem. Um papel tão fundamental nos conflitos motivou uma série de sacrifícios em sua honra — ele era particularmente venerado em Esparta, cidade-estado famosa por seu poderio militar.

Milênios após essas histórias se popularizarem, Fobos serviu de inspiração para nomear a fobia, um dos males psiquiátricos contemporâneos mais comuns — junto com outros transtornos de ansiedade, ela só fica atrás de depressão e dependência química no número de casos.

Estima-se que a condição atinja 20% da população mundial, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde americano. “Estamos falando de um temor exagerado e incompreensível a algum objeto ou situação que prejudica a vida da pessoa”, define o psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As manifestações desse quadro não se restringem à cabeça e, durante as crises, levam a taquicardia, tremedeira, suor excessivo, falta de ar, tontura e até desmaios.

Antes de entrarmos a fundo na anatomia das fobias, convém esclarecer que se sentir inquieto diante de alguns cenários é bom e desejável. “Isso nos protege e faz com que evitemos riscos desnecessários”, diferencia Nardi. Se pensarmos na evolução, nossos antepassados das cavernas só sobreviveram porque se assustavam e fugiam diante da possibilidade de serem devorados por um tigre-dentes-de-sabre ou tomarem picadas de uma cobra peçonhenta.

“O medo aciona diversos núcleos de neurônios, entre eles a amígdala, uma das estruturas mais primitivas do cérebro”, explica o neurocientista Ivan Izquierdo, coordenador do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O dilema é quando esse pavor ultrapassa os limites.

Evidências apontam que a tal da amígdala é sensível e fica ativada em demasia justamente nos indivíduos fóbicos, mas ainda há muita discussão sobre as origens da doença. Por ora, as pesquisas não encontraram falhas genéticas capazes de patrocinar diretamente seu surgimento.

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“Mas se sabe que o desenvolvimento desse problema está relacionado à família e ao convívio entre pais e filhos”, observa a psicóloga Mariângela Gentil Savoia, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Exemplo: uma mãe que fica aterrorizada em tempestades com trovões e demonstra isso no dia a dia pode transmitir o incômodo e perpetuá-lo em suas crianças.

Qual o seu medo?

É difícil confirmar se o contingente de acometidos por fobias hoje é maior que no passado. As estatísticas até calculam que a geração atual apresenta dez vezes mais medo que as anteriores. Esse aumento, porém, é influenciado pela melhoria dos recursos de diagnóstico da condição. Uma coisa, contudo, não dá para negar: o cenário é afetado pelo acirramento dos perigos vividos no planeta, como a violência das grandes metrópoles, a ameaça de terrorismo e o risco de novas epidemias — fatos que são explorados algumas vezes de forma desmedida por imprensa e publicidade, diga-se.

Foi o que aconteceu após o atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001: o receio de subir num avião fez com que muitos americanos preferissem usar o carro para viajar. O resultado dessa mudança de comportamento? Um acréscimo de 1 600 mortes nas estradas dos Estados Unidos ao longo do ano seguinte, de acordo com uma análise do Instituto Max Planck, na Alemanha. “Episódios catastróficos potencializam a fobia em quem já a possui”, diz Nardi. Agora, calma lá: há alternativas comprovadas cientificamente para controlar tanto medo, como se verá ao virar a página.

A demora em buscar ajuda é uma das principais barreiras no enfrentamento das fobias. “Quando concluí minha tese de mestrado sobre o tema em 1998, alguns jornais fizeram reportagens acerca do assunto. E ainda hoje há pessoas que me procuram em razão dessas matérias, que leram 19 anos atrás e só agora as motivaram a procurar tratamento”, relata a psiquiatra Daniela Knijnik, de Porto Alegre.

Muitos sofrem calados por achar que seu problema não é concreto ou digno de cuidados. Uma pena, porque 75% dos tratados colhem benefícios em alguns meses. “Consultar um terapeuta é importante para valorizar as conquistas e manter a motivação a fim de enfrentar os desafios seguintes”, orienta a psicóloga Paola Espósito, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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Uma vez feito o diagnóstico, é possível lançar mão de diversas opções no contra-ataque ao pavor. Para alguns, a solução é o uso de remédios, indicados especialmente para as fobias sociais. Entre as classes mais prescritas, estão os inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina, os benzodiazepínicos e os betabloqueadores, drogas antidepressivas e ansiolíticas que modulam as concentrações de neurotransmissores relacionados ao bem-estar e ao estresse no cérebro.

Esses compostos vão diminuir o nervosismo e, assim, permitir, por exemplo, que se fale em público sem entrar em parafuso. Seu uso pode ser contínuo ou circunstancial — e, obviamente, exige a receita e a orientação do médico.

Uma segunda abordagem bastante difundida é a terapia cognitivo-comportamental (TCC). “Seu objetivo está em reorganizar os pensamentos do indivíduo, de modo que ele deixe de encarar o motivo da fobia como uma ameaça”, explica Daniela. Baseada na conversa e na troca de experiências com o terapeuta, a TCC tenta trazer lógica a uma reação instintiva. Ora, se uma barata nunca atacou um ser humano, por que você sai gritando quando vê um inseto passeando pelo banheiro? Ou seja, o ponto de partida é ponderar sobre os temores.

Hora de se expor

Travar contato com o agente causador da fobia, aliás, é outra maneira de alcançar um pouco de alívio. O processo é gradual: quem tem medo de avião começa indo ao aeroporto. Depois, vê vídeos de uma cabine do piloto. Em algumas semanas, passa a usar recursos de realidade virtual para simular que está dentro de uma aeronave. Até que consegue embarcar de verdade para uma viagem. É a chamada terapia de exposição. “Conforme o sujeito interage com o objeto ou a situação, a resposta de medo perde força e é inibida no cérebro”, explica Ivan Izquierdo.

Uma pesquisa da Universidade de Uppsala, na Suécia, testou uma versão diferente dessa modalidade terapêutica. Uma turma de 45 voluntários com receio de aranhas foi dirigida a observar durante alguns instantes imagens do aracnídeo.

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Aí, depois de um intervalo de dez minutos, o procedimento se repetiu. Só que dessa vez a espiada se deu por um período mais prolongado. “A primeira visualização desestabiliza a memória do medo por uma curta janela de tempo, na qual agimos de forma ostensiva para que o temor se enfraqueça”, detalha o psicólogo Johannes Björkstrand, responsável pelo experimento. O estudo, a propósito, foi pioneiro ao extinguir os pavores da vida real por meio da técnica dupla.

Nos últimos anos, ocorreram avanços decisivos na compreensão do funcionamento da mente e na criação de exames sofisticados que facilitarão o flagra das fobias no futuro. Tantas novidades só reforçam a importância de visitar um expert o quanto antes. “Para um tratamento dar certo, é preciso em primeiro lugar aceitar a doença, deixar isso claro para as pessoas próximas e decretar que você vai sair de sua zona de conforto”, enumera o médico Márcio Bernik, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Tais atitudes garantem um início certeiro na luta para derrotar esse problema da pesada. Ao batalhar contra os próprios demônios, nem mesmo um deus grego será capaz de injetar medos duradouros em seu coração.

As faces da fobia

Social
Receio muito intenso de situações de interação, como participar de festas ou falar em público. Há dificuldade para fazer amizades, engatar namoros ou atuar em cargos de liderança.

Específica
O indivíduo entra em pânico ao se ver diante de um ou de vários fatores. Pode ser aranha, elevador, altura, buracos, cobra, mar… O medo o deixa totalmente paralisado.

Agorafobia
Temor de estar num local e não conseguir escapar se acontecer algo ruim. É o caso de quem surta ao sentar longe da saída de emergência no cinema pensando num possível cenário de incêndio.

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Ranking do temor

A Universidade Chapman (EUA) entrevistou 1 500 adultos para saber os temores mais comuns.

1. Ter que lidar com funcionários corruptos do governo
2. O país passar por um ataque terrorista
3. Não ter dinheiro suficiente
4. Ser vítima de terrorismo
5. Maior controle do uso de armas pelo governo
6. Morte de parentes/amigos que amo
7. Ir à bancarrota
8. Roubo de identidade
9. Doenças em parentes/amigos de quem gosto muito
10. Obamacare (sistema de saúde pública de Barack Obama)
11. Fraudes no cartão de crédito
12. Guerra biológica
13. Répteis
14. Espionagem de dados particulares pelo governo
15. Contas médicas muito altas

Este conteúdo foi originalmente publicado em Saúde

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