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Microdoses de LSD podem aumentar tolerância à dor, diz estudo

Em doses baixas, incapazes de gerar efeitos psicodélicos, a droga têm potencial analgésico valioso, defendem cientistas holandeses.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 2 set 2020, 19h29 - Publicado em 1 set 2020, 18h19

Há muito tempo a comunidade científica investiga os possíveis benefícios terapêuticos do LSD, droga sintética derivada do ácido lisérgico e conhecida por suas propriedades psicodélicas. Mas, apesar de estudos em laboratório e com animais já terem indicado caminhos, poucos testes clínicos com humanos envolvendo a substância foram feitos nas últimas décadas, devido o preconceito envolvido e a proibição do seu uso – mesmo em laboratório – em vários países. Agora, uma pesquisa pioneira descobriu que, em quantidades pequenas, o LSD pode ter um efeito analgésico promissor.

No estudo, publicado na revista científica The Journal of Psychopharmacology, pesquisadores holandeses separaram 24 voluntários adultos saudáveis em dois grupos aleatoriamente. Um deles recebeu placebo, enquanto os integrantes do outro grupo tomaram doses de 5, 10 ou 20  microgramas (µg) de LSD, também aleatoriamente. Essas quantidades são consideradas “microdoses”, ou seja, não são capazes de gerar os efeitos psicodélicos comumente associados à droga. Alguns usuários de LSD utilizam essas microdoses no dia a dia visando melhorando aspectos como concentração e criatividade, embora não haja estudos comprovando esses benefícios.

Diariamente, ao longo de quatro dias, cada voluntário colocava uma mão em uma bacia contendo água gelada e permanecia assim até o máximo que aguentavam a dor. Se passassem três minutos, os pesquisadores pediam para o voluntário retirar a mão por questões de segurança, mesmo que o limite de dor não tivesse sido atingido. Além disso, todos os participantes passavam por testes de sangue durante o período analisado e também descreviam subjetivamente a dor que sentiam em uma escala de um a dez.

O estudo foi o primeiro do tipo a ser controlado por placebo, duplo-cego (o que significa que nem os pesquisadores nem os voluntários sabiam qual grupo estava tomando o quê) e randomizado (as divisões foram feitas aleatoriamente em laboratório) – características que dão confiabilidade aos testes clínicos.

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Os resultados posteriores mostraram que aqueles que haviam tomado as doses de 20 µg de LSD aguentavam, em média, 20% mais tempo com a mão submersa na água gelada, além de descrever experiências menos desagradáveis do que aqueles que haviam simplesmente tomado placebo. Os efeitos também foram duradouros – até cinco horas depois da ingestão da droga. Segundo os autores, esses resultados podem ser comparados ao de doses de 10 a 20 mg de analgésicos amplamente usados, como oxicodona e morfina.

Vale lembrar, porém, que os efeitos só foram observados nos pacientes que tomaram a maior dose de LSD do estudo (20 µg), enquanto os que receberam doses de 5 e 10 µg não tiveram resultados muito diferentes do grupo placebo.

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“Os dados sugerem que doses baixas de LSD podem constituir uma nova terapia que pode ser eficaz em pacientes, além de ser desprovida de efeitos colaterais problemáticos que estão associados aos medicamentos usados atualmente, como os opioides”, escrevem os autores na conclusão.

Mas a equipe também lembrou que esse é apenas o primeiro estudo do tipo a ser publicado, e tem a desvantagem de ter considerado uma amostragem pequena (só 24 voluntários). Outras pesquisas devem ser conduzidas para confirmar os resultados e encontrar a “dose ótima” da droga, ou seja, a quantidade em que ela tem os melhores benefícios sem apresentar seus efeitos maléficos, como crises de ansiedade, paranoia e pânico – as conhecidas bad trips. Nos últimos anos, países estão revendo suas legislações sobre pesquisas clínicas utilizando drogas para fins terapêuticos, o que pode abrir portas para uma área de estudos mais sólida no futuro.

Além disso, não se sabe exatamente o porquê desse efeito analgésico observado em nosso corpo. Estudos anteriores em animais mostraram que a droga afeta os nossos receptores de serotonina, que estão envolvidos na nossa sensibilidade à dor. Entender melhor esse mecanismo pode gerar, daqui alguns anos, tratamentos focados em explorar apenas nos benefícios clínicos da droga.

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