O acaso que curou milhões
Com vacinas, antibióticos, hormônios e vitaminas, a química entra em campo para proteger a saúde.
Se um cientista merece o título de maior sortudo do século, ele é sem dúvida o bacteriologista escocês Alexander Fleming (1881-1955), descobridor da penicilina. Em 1928, Fleming saiu de férias por duas semanas e deixou destampada, no laboratório, uma placa com uma colônia da bactéria que estava pesquisando, o estafilococo. Ao retornar, percebeu que um bolor havia se desenvolvido dentro da placa, provocando a morte de todas as bactérias. O tal bolor tinha sido provocado por um fungo raro, o Penicilinum notatum, que o ar tinha trazido de um laboratório no andar superior. Normalmente os cientistas ficam muito aborrecidos com esse tipo de transtorno, mas Fleming teve uma intuição brilhante. “Em vez de jogar fora as culturas contaminadas, eu resolvi investigar o que tinha acontecido”, relatou mais tarde. Ele logo deduziu que o fungo liberava alguma substância que inibia o crescimento da bactéria. Batizou-a de penicilina e descobriu, por meio de testes, que ela era inofensiva aos animais e aos seres humanos, mas tinha um efeito letal sobre muitas das bactérias causadoras de infecções.
Porém Fleming não conseguiu isolar a penicilina em estado puro – condição indispensável para que ela pudesse ter uso terapêutico – e abandonou as pesquisas sobre o assunto em 1932. Seu trabalho ficou na obscuridade até que os patologistas britânicos Howard Florey (1898-1968) e Ernst Chain (1906-1979), utilizando equipamentos melhores, conseguiram concentrar a penicilina em 1940. O novo medicamento – o primeiro e mais importante antibiótico – foi produzido a tempo de ser utilizado na assistência às vítimas da Segunda Guerra Mundial, que terminou em 1945. Naquele mesmo ano, Fleming, Chain e Florey dividiram o Nobel de Medicina.
Como a ciência derrotou a pólio
A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, foi uma das piores epidemias da primeira metade do século. Quem deu o passo decisivo para acabar com ela foi o virologista americano Jonas Salk (1914-1995), que criou em 1954 a primeira vacina contra a pólio. Aplicada por meio de injeções, foi produzida com vírus mortos e, por isso, inofensivos. Mas a vacina que você encontra hoje nos postos de saúde não é essa, e sim a apresentada em 1957 pelo americano de origem polonesa Albert Sabin (1906-1993). Tomada pela boca, ela contém vírus ativos porém atenuados, que atacam o organismo com força apenas suficiente para ativar a defesa imunológica, sem causar a doença. A vacina de Sabin superou a de Salk porque oferece uma proteção mais duradoura.
As vitaminas fazem falta
O escorbuto – doença que provoca a queda dos dentes, entre outros sintomas – aterrorizava os marinheiros das grandes navegações dos séculos XV e XVI, submetidos a uma dieta extremamente pobre. Mais tarde, em 1747, o médico inglês James Lind (1716-1794) notou que as frutas cítricas, como a laranja e o limão, conseguiam prevenir o mal. Mas só em 1928, quando o bioquímico húngaro Albert Szent-Giorgyi (1893-1986) revelou a estrutura da vitamina C, foi que a ciência conseguiu compreender os benefícios dessa substância. As vitaminas foram descobertas em 1906 pelo bioquímico inglês Frederick Hopkins (1861-1947). Em suas experiências com animais, ele percebeu que os nutrientes básicos – proteínas, gorduras e carboidratos – não são suficientes para manter a saúde do organismo. São necessários complementos.
Até a década de 20
Os portadores de diabete não tinham como suprir a falta da insulina, hormônio que regula a quantidade de açúcar no corpo. Os que tinham o tipo mais grave da doença morriam por não conseguir processar o açúcar existente na comida. Até que em 1921 os canadenses Frederick Banting (1891-1941) e Charles Best (1899-1978) isolaram a insulina em cães e a aplicaram em gente, fazendo cessar o efeito da diabete. A insulina não pode ser ingerida pela boca, pois é destruída no estômago. O jeito é tomar injeções (na foto, um kit portátil para diabéticos).