O cabelo fala por você
A natureza criou os fios da cabeça para ajudar você a sobreviver, não como um enfeite. Mas a cultura os transformou em sinal de beleza e meio de expressão.
Xavier Bartaburu
Quando o ser humano ainda vivia em cavernas, os cabelos tinham uma função vital: proteger o cérebro do calor do sol. Nas regiões quentes e secas do planeta, eles tendiam a ser mais crespos e mais armados, formando uma cobertura protetora. Nas áreas frias e úmidas, os cabelos lisos ajudavam a escorrer a água das chuvas. A civilização, com seus chapéus e guarda-chuvas, aposentou as funções originais do cabelo, que viraram, então, símbolo de beleza, marca de identidade grupal e meio de expressão. Do corte rente dos militares às trancinhas dos aficionados do reggae, pode-se manifestar muita coisa apenas com o estilo do cabelo.
Os cerca de 100 000 fios que cobrem a cabeça são uma fração dos 5 milhões de pêlos espalhados pelo seu corpo. São uma herança dos antepassados do homem, que precisavam deles para aquecer a pele e se proteger da chuva. Os pêlos nascem em estruturas em forma de tubo, os folículos pilosos (veja infográfico). Constituídos como células vivas, já estão mortos ao chegar à flor da pele. Por isso, você não sente dor na hora de cortá-los.
A juba do homem
As barbas, como a do judeu ortodoxo da foto, nunca tiveram uma utilidade prática, ao contrário dos cabelos e das unhas. Até aonde a ciência consegue explicar, elas servem apenas como um símbolo de identidade sexual que ajuda a diferenciar os homens das mulheres. São como a juba que distingue o leão da leoa
Quando eles vão embora
Entenda como e por que a calvície acontece.
Uma cabeça sem cabelos pode ser considerada um charme para jogadores de futebol, mas para a maioria dos homens é um tremendo problema. A calvície está ligada a um desacerto dos hormônios masculinos. Esses hormônios estimulam as glândulas sebáceas, que passam a produzir mais sebo. O excesso de gordura no cabelo facilita a sua queda. Ao mesmo tempo, o sebo interrompe o crescimento de novos fios, atuando diretamente sobre a raiz. A calvície é quase sempre genética.
Da raiz para o mundo
Assim como a unha, o pêlo também cresce a partir de uma raiz. Cada fio se desenvolve dentro de um folículo piloso, um tubo encravado na pele. Na base do folículo está o bulbo. É lá que as novas células vão nascendo. Quando vêm à tona, elas já estão mortas. A cor depende da quantidade de melanina produzida pelo bulbo. Os cabelos pretos contêm muita melanina e os louros, pouca. O tipo (crespo, liso ou ondulado) depende do formato do folículo. O fio cresce durante dois a seis anos, e depois “descansa” por alguns meses, nos quais o folículo pára de produzir novas células. Os cabelos caem e ficam uma temporada sem crescer. Você não percebe porque isso acontece de forma aleatória. Os fios não “descansam” todos de uma só vez. Enquanto uns crescem, outros permanecem parados.
Quem sabe é super
Os cabelos ruivos têm essa cor em conseqüência de um gene especial, responsável pela produção de um pigmento avermelhado. Esse pigmento, diferente da melanina, também torna o indivíduo mais vulnerável ao sol do que os demais.
Estandarte
O cabelo comprido dos Beatles escandalizou o mundo nos anos 60. Mas eles só seguiam uma prática muito antiga: a de usar os cabelos para expressar a adesão a um determinado grupo. O corte ou penteado pode indicar a etnia, como fazem as tribos indígenas, a classe social (os cachos dos aristocratas europeus do século XVIII) ou uma postura diante do mundo. É o caso dos personagens destas fotos – um punk inglês, em Londres, e uma moradora de Salvador, Bahia, onde é muito forte o movimento de afirmação das raízes africanas