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O milho e seus avós: os ancestrais do cereal

Um cientista refaz as formidáveis mudanças por que passou este cereal desde que nasceu, há cerca de 7 000 anos, nas montanhas do México e da Guatemala.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 28 fev 1994, 22h00

Flávio Dieguez

Nas regiões montanhosas do sul do México e norte da Guatemala, é comum encontrar um capim de aspecto vulgar e sem utilidade, que os povos dali conhecem pelo nome de teosinte. De seu caule central, saem ramos laterais, divididos em nós dos quais despontam pequenas hastes com meia dúzia de grãos recobertos por casca dura que dificilmente se poderiam comer. Apesar da aparência, porém, o teosinte é o primeiro ancestral do milho, que há cerca de 7 000 anos, por razões desconhecidas, transformou-se radicalmente. Perdeu os ramos laterais e trocou as mirradas hastes por um magnífico suporte, chamado raque ou sabugo.

Atualmente, o raque pode conter 500 grãos taludos, macios e de excelente paladar. E, num único hectare (um quarteirão), se produzem até 15 toneladas de grãos. Obviamente, os cientistas querem saber como esse capim selvagem, de sementes intragáveis, atraiu a atenção dos antigos povos que há milênios aprenderam a cultivá-lo. Essa é a pergunta que o agrônomo William José da Silva acredita ter começado a responder. Pesquisador da Colorado Sementes, empresa sediada em Orlândia, SP, Silva é ex-titular de Genética da Universidade Estadual de Campinas. Um fato notável em sua pesquisa é que, hoje, o teosinte convive com o milho — é um ancestral que não desapareceu da Terra, como se deu com muitas espécies vegetais e animais. Por meio de cruzamentos entre o avô e o neto, Silva obteve algo sensacional: criar plantas tais como as que devem ter ocorrido ao longo da domesticação do milho. As espigas desses vegetais mostram a grande diversidade dessa ilustre família.

De certa forma, foi como reconstruir o passado. De acordo com Silva, antes de atrair a atenção humana, o antigo capim centro-americano vivia no alto da montanha, onde mantinha suas características originais. Então, em alguma época remota, sementes geradas nas alturas desceram as encostas em rios ou empurradas pela água da chuva e conseguiram germinar nos vales. Essa mudança de ares foi o primeiro passo rumo ao futuro milho. Não houve alteração na hereditariedade — isto é, nos genes do teosinte — explica Silva. “Foi a arquitetura externa da planta que se tornou diferente, em primeiro lugar.”

Talvez o fenômeno mais marcante tenha sido o encurtamento dos ramos laterais. “Eles se retraíram como uma antena de automóvel”, ilustra o pesquisador. Assim, os nós em que se dividiam os ramos ficaram mais perto um do outro, aproximando os grupos de grãos entre si. Abria-se o caminho para a formação de um sabugo, que seria uma espécie de galho encolhido, repleto de grãos. A novidade se consolidaria, agora sim, por meio de uma mutação genética. Não foi grande coisa, pois o pacote de genes do milho não difere muito do pacote do teosinte. De qualquer modo, além de consolidar a aglutinação das sementes no sabugo, a mutação expôs os grãos no interior da antiga casca, facilitando a debulha.

Antes de chegar a tais hipóteses, Silva submeteu o teosinte a variações ambientais e observou diretamente suas reações. Verificou que sua arquitetura muda, por exemplo, conforme a altitude e a duração do dia — esta última não é a mesma nos torrões natais do teosinte e nos vales distantes em que ele acabou sendo cultivado pelos ancestrais dos maias e astecas, habitantes da América naqueles tempos remotos.

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Uma vez iniciado o cultivo, o milho tornou-se cada vez mais produtivo porque os agricultores plantavam apenas os melhores exemplares, desprezando inúmeras variedades. Essa prática talvez fosse inevitável, em face das necessidades de alimentação. Mas não foi sábia, pois condenou ao desaparecimento muitos genes presentes apenas nas variedades improdutivas. E eles são utilíssimos, pois, entre outras coisas, podem conferir resistência a pragas ou melhor capacidade de crescimento em solo pouco fértil. Tanto que a pesquisa moderna tem muito a ver com a busca do que tenha restado daqueles preciosos genes.

Para saber mais:

Plantando o futuro

(SUPER número 8, ano 4)

O desafio do superarroz (SUPER número 10, ano 5)

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Petróleo verde

(SUPER número 12, ano 5)

Inventores de plantas

(SUPER número 3, ano 7)

As plantas viajantes

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(SUPER número 11, ano 9)

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