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O paraíso dos homens-pássaros

O grande barato do parapente é conseguir pilotara máquina durante horas, imitando as aves. Lugares incríveis para voar é o que não faltam no Brasil.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h12 - Publicado em 31 out 2003, 22h00

Lia Hama

Nosso país tem condições de se tornar a grande referência do parapente mun-dial, assim como o Havaí é do surfe.

Pelo menos é o que dizem os especia-listas brasileiros no assunto. “Aqui es-tão alguns dos melhores lugares do planeta para voar de parapente”, afir-ma o atual vice-campeão mundial Frank Brown, o brasileiro de maior destaque no esporte. O primeiro passo está prestes a acontecer: no ano que vem, o Brasil vai sediar o Pré-Mundial de Parapente e, em 2005, vai ser palco pela primeira vez do Campeonato Mundial de Parapente. A cidade esco-lhida é Governador Valadares (MG), onde fica o pico do Ibituruna, consi-derado uma das melhores rampas de vôo do planeta. Com 1 200 metros de altitude em relação ao nível do mar, o Ibituruna é o local onde ocorre uma série de campeonatos. O motivo é a condição climática da região, que favo-rece a formação das térmicas, bolhas de ar quente utilizadas pelos pilotos para subir e planar no céu.

Para quem não conhece, o para-pente é um esporte que chegou ao Bra-sil em meados dos anos 80, no Rio de Janeiro. Apesar de parecer um pouco com o pára-quedas, o parapente (ou paraglider, que é a palavra em inglês) é um planador, uma espécie de máquina de voar feita de pano. “Quem voa de parapente não pula de um avião. O pi-loto sobe até o topo de uma montanha, abre o equipamento, corre e decola de maneira parecida com a asa-delta”, ex-plica o instrutor paulista Silvio Ambro-sini, o Sivuca, que está escrevendo um livro sobre o tema.

“Enquanto o pára-quedista cur-te a adrenalina de cair no vácuo, abrir o pára-quedas e pousar em dois minu-tos, o parapentista consegue pilotar a máquina e permanecer horas voando, pois o paraglider plana no céu como um pássaro”, afirma Sivuca, 38 anos, piloto há 13 e dono da escola paulista Ventomania.

O berço do parapente é a França, mais especificamente Mieussy, na região dos Alpes Franceses. Foi lá que alpinis-tas começaram a fazer as primeiras deco-lagens no final dos anos 70. O objetivo era, depois de uma escalada, usar aquela espécie de pára-quedas adaptado para decolar e voltar rapidamente ao p_ da montanha. Aos poucos a brincadeira foi se espalhando pela região e locais como o imponente Mont Blanc começaram a ser povoados pelo colorido dos novos objetos voadores. Atualmente estima-se que mais de 250 mil pessoas voem de parapente só na Europa. No Brasil, o esporte ainda engatinha, com cerca de 3 mil praticantes. Um dos motivos é o preço. Um equipamento básico custa 3 mil dólares, o equivalente a quase 9 mil reais. Para aprender a pilotar, pagam-se de 900 a 1 500 reais num curso básico com aulas teóricas e práticas. Um vôo duplo, cuja duração varia de 15 a 40 mi-nutos, custa 120 reais.

Apesar do preço salgado, quem voa de parapente afirma que a experiên-cia é única. “É como sair da casa dos pais e começar a morar sozinho. No início você tem um pouco de receio, mas, de-pois que sai, não quer voltar nunca mais”, diz Sivuca. Há, inclusive, quem superou o trauma da mutilação e conti-nuou praticando o esporte. É o caso do modelo paulista Ranimiro Lotufo, 42 anos. Em 1995, quando se preparava pa-ra aterrissar num vôo de paraglider, ele caiu sobre uma torre de alta tensão. A descarga elétrica destruiu-lhe a perna di-reita, que precisou ser amputada. No lu-gar foi colocada uma prótese mecânica. Após diversas tentativas fracassadas, ele encontrou um jeito próprio de voar. Pa-ra saltar, Lotufo corre como um saci até decolar. Na descida, graças ao airbag sob o assento, ele pousa sentado.

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SIGA AQUELE URUBU

O grande amigo e referencial dos pilotos de parapente é o urubu. “Você não vê o urubu batendo asas. Ele usa as bolhas de ar quente para subir e se manter planan-do”, diz o piloto paulista Caio Zamboni, 26 anos, vice-líder do ranking brasileiro de parapente. Essas bolhas de ar quente, chamadas térmicas, são as mesmas usa-das pelos pilotos de parapente. “Às vezes a gente está voando e o parapente está perdendo altura. O urubu pode nos in-dicar a região onde existe uma térmica para a gente pegar”, afirma Zamboni. As térmicas são uma espécie de motor da at-mosfera. Elas são formadas pela ação dos raios solares, que esquentam o solo e, por conseqüência, aquecem o ar próximo ao chão. O ar na região de uma floresta, por exemplo, é mais frio do que o que fica perto de um local árido. O ar mais quen-te sobe e o ar mais frio desce, num movi-mento de convecção. Os pilotos, assim como os urubus, usam as bolhas de ar quente para subir e planar pelo céu. Mal comparan-do, é como se fossem as ondas do mar dos surfistas.

Há diversos tipos de parapentes, divididos em categorias conforme a experiência do piloto: ini-ciante, intermediário, per-formance e competição, além do paragli-der para vôo duplo. O parapente cabe em uma sacola e é aberto na rampa de deco-lagem. O equipamento completo rara- mente pesa mais do que 20 quilos. Exis-tem centenas de marcas produzidas em diferentes países. Locais com mão-de-obra- barata, como China, Coréia do Sul e Hungria, concentram as fábricas. O Brasil também produz e exporta esse tipo de equipamento.

A empresa Sol (wwsv.solsports.com.br) fabrica parapentes de reconhecida qualidade em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. De acordo com Zamboni, grande parte dos acidentes com parapente ocorre quando um pilo-to iniciante, que acha que já sabe voar bem, usa um equipamento mais avança-do para o qual não está preparado. “É como carro de corrida”, diz o piloto. “Um parapente de competição tem muito mais velocidade. É preciso ter experiência para poder usar um.”

No Brasil, há diversos lugares pa-ra a prática do vôo livre. No Rio de Janei-ro, os cariocas já se acostumaram com o cenário de asa-deltas e parapentes colori-dos voando na região da Pedra da Gávea, na zona sul da cidade. Em São Paulo, a cidade de Atibaia é bastante procurada pelos paulistanos para vôos de final de se-mana, por causa da proximidade da capi-tal. Brasília e Florianópolis também são locais indicados para a prática de paragli-der, assim como Andradas, em Minas Gerais, onde fica o Pico do Gavião. Mas a grande sensação do esporte é Quixadá, no interior do Ceará. Com térmicas po-derosíssimas, o local é tido como a Dis-neylândia do vôo livre. Apenas os mais ex-perientes têm condições de voar ali, onde o piloto pode se afastar do chão a uma ve-locidade de mais de 30 quilômetros por hora. Foi lá que o capixaba Frank Brown, 32 anos, bateu o recorde brasileiro de dis-tancia decolado de rampa. “É um local es-petacular para o vôo”, afirma o piloto.

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Para aqueles que desejam iniciar a prática do parapente, no entanto, é im-portante tomar cuidado com os “piratas” do vôo livre. “Antes de fazer um vôo du-plo ou começar um curso de parapente, verifique se o instrutor é credenciado”, alerta Cláudio Rogério Consolo, presi-dente da Associação Brasileira de Para-pente (ABP). Para isso, basta procurar a ABP ou a Associação Brasileira de Vôo Livre (ABVL), que são as duas entidades que regulamentam o esporte no Brasil. Segundo Consolo, há muitos “instruto-res” oferecendo serviços sem experiência e habilitação para dar aula. “Há muita pirataria por aí”, afirma. “As pessoas não podem se esquecer de que esse é um es-porte de risco”, reforça o piloto Frank Brown. Depois de tomadas as devidas precauções, o negócio é relaxar. E planar, como fazem os pássaros.

 

Serviço

SAIBA MAIS

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SITES

Associação Brasileira de Vôo Livre

(www.abvl.com.br). Representa o vôo livre no Brasil, tanto de asa-delta quanto de parapente. Seu site traz o ranking dos melhores pilotos e um pouco da história do parapente no país. Associação Brasileira de Parapente

(www.abp.esp.br). Oferece informações sobre regulamentos e competições.

Ventomania

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(www.ventomania.com.br). Uma das escolas mais conhecidas, apresenta no site uma seção com respostas para as dúvidas mais freqüentes dos que estão começando no esporte.

Go Up

(www.goup.com.br). Site de em presa especializada em eventos de vôo livre.

Vôo Livre Brasil

(www.voolivrebrasil.com.br). Traz todo tipo de informações sobre eventos, ranking de pilotos e reportagens.

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LIVRO

Parapente Brasil – Histórias e Aventuras do Vôo Livre. Editado por Rodrigo Stulzer Lopes.

Oficina do Impresso.

EQUIPAMENTOS BÁSICOS

Os itens obrigatórios são: o parapente, a selete (cadeira), o pára-quedas de segurança e o capacete. Um conjunto básico com todos esses equipamentos custa cerca de US$ 3 mil. Onde encontrar:

Ar Livre (11) 4413-2298.

Ventomania (11 ) 6941-1600.

DICAS DE ALIMENTAÇÃO

Não há uma dieta específica, mas é recomendável evitar uma alimentação pesada antes da decolagem para não ter enjôos. Vôos mais longos podem durar horas e _ importante se hidratar. Uma opção para quem sentir fome durante o vôo são frutas ou barras de cereais, que são fáceis de carregar no bolso.

 

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