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“Pelo direito de vender meu rim”

"Falo com conhecimento de causa. No final de 2011, me submeti a uma cirurgia para tirar um rim e doar a alguém que não conheço"

Por Alexander Berger*
Atualizado em 4 out 2018, 19h06 - Publicado em 27 mar 2012, 22h00

Menos da metade dos 34 mil pacientes que entraram na fila para obter um transplante de rim nos Estados Unidos em 2010 conseguiu um órgão. Essa realidade se repete em vários países. Milhares morrem todos os anos enquanto esperam o rim de uma pessoa já falecida. Por isso, precisamos aumentar a quantidade de doadores vivos. E pagar a eles é uma boa maneira de conseguir isso.

Falo com conhecimento de causa. No final de 2011, me submeti a uma cirurgia para tirar um rim e doar a alguém que não conheço. Você pode achar uma loucura. Eu também achei quando ouvi pela primeira vez que pessoas doavam por puro altruísmo.

Aquilo me soou bom demais para ser verdade. Ao me informar melhor sobre o assunto, porém, percebi que os riscos são mínimos. Apenas 1 em cada 3 mil morrem na cirurgia. O pós-operatório foi melhor do que imaginei e, em 3 semanas, eu já estava de volta ao trabalho. Meu outro rim vai crescer e assumir a função do que foi removido. Hoje, sinto-me feliz por ter dado ao receptor cerca de 10 anos mais de vida.

O que me motivou foi fazer um bem a outra pessoa. Mas a compensação em dinheiro seria uma boa forma de convencer muita gente a fazer o mesmo. Segundo especialistas, um valor entre US$ 30 mil e US$ 50 mil seria justo. O problema é que a lei americana proíbe esse tipo de comércio para evitar que aproveitadores obriguem gente muito pobre a vender o rim por uma ninharia. A lei brasileira é igual.

Entendo esse temor, mas a verdade é que o sistema atual é extremamente injusto. Não que eu defenda um livre mercado para os rins. A compra e a distribuição seria feita pelo governo ou por uma organização sem fins lucrativos.

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Com o aumento do número de doadores, poderíamos ser mais seletivos na escolha dos candidatos. Eles passariam por testes médicos e psicológicos, como foi o meu caso, e assim garantiríamos que apenas os mais saudáveis fariam a doação.

Nós pagamos diversas pessoas por terem profissões perigosas. Soldados e bombeiros arriscam sua vida para o bem da sociedade, ao mesmo tempo em que fazem disso o seu ganha-pão. Compensar doadores de rins deveria ser igual. Eles não têm por que ser vistos como santos ou heróis. Aliás, o estereótipo do “sacrifício heroico” só atrapalha – sugere que doar um rim é muito mais penoso do que realmente é. Claro que mudar essa realidade não vai ser fácil.

Tenho 21 anos e sei o quanto foi difícil convencer meus parentes e amigos sobre minha decisão. Mas precisamos começar. E o melhor jeito é tornando legal a venda de rins.

*Alexander Berger é analista da GiveWell, uma organização sem fins lucrativos que pesquisa instituições de caridade para ajudar doadores a decidir onde doar.

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