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Primeiro kit para detecção de metanol é comercializado, conheça

Produzido pelo Laboratório Reaja, o kit para o público geral atende à demanda de controle de qualidade diante dos casos de intoxicação com bebidas falsificadas.

Por Manuela Mourão, Bela Lobato
8 nov 2025, 12h00

No final de setembro de 2025, casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas em São Paulo deram início a uma crise de saúde pública – que, até o dia 5 de novembro, já registra 60 casos de intoxicação e 15 óbitos. 

O metanol é um tipo de álcool primo do etanol, o álcool comum. Os dois são incolores, inflamáveis e têm cheiros parecidos – por isso, a identificação a olho nu é impossível. Entretanto, diferentemente do etanol, pequenas quantidades de metanol podem ser letais.

Os casos suspeitos de intoxicação se multiplicaram – apesar de mais de 90% deles terem sido descartados após investigação. Os casos estão concentrados em São Paulo e podem estar ligados à falsificação de bebidas destiladas.

Desde então, muita gente passou a desconfiar de um happy hour regado à caipirinha. O faturamento da venda de bebidas online caiu em 47%, segundo dados da Neotrust, e bares e restaurantes também registraram quedas visíveis no público. 

Foi quando começou uma corrida contra o tempo para facilitar a identificação de bebidas contaminadas. 

Pelo menos quatro universidades públicas já têm tecnologias, próprias ou adquiridas, para a detecção de metanol: a Estadual da Paraíba (UEPB), a de Brasília (UNB), a Federal do Paraná (UFPR) e a Estadual Paulista (UNESP). Entretanto, nenhuma dessas tecnologias já foi licenciada para uso comercial. 

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O primeiro teste no mercado

Agora, pela primeira vez, um teste para detecção de metanol chega ao mercado e pode ser adquirido por consumidores finais. Ele é produzido pelo Laboratório Reaja, que vende kits de reagentes para testes colorimétricos de substâncias – incluindo drogas lícitas e ilícitas.

Os testes colorimétricos servem para apontar a presença de algum componente específico, sem indicar quantidades ou composição. Um exemplo famoso é o reagente de Scott, que fica azul na presença de cocaína – e aparece muito nos programas de flagrantes em aeroportos. 

As reações químicas do teste para metanol já eram conhecidas – e você pode ler uma explicação detalhada aqui. Os químicos James Kava e Fabiano Soares, do Reaja, bolaram uma forma de transformar a reação em um kit de teste mais simples e portátil, adaptando medidas e concentrações, além de definir o descarte adequado das substâncias.

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A metodologia ainda tem suas limitações: funciona bem para bebidas destiladas transparentes, como uísque, gin, cachaça e vodka. Bebidas fermentadas, com corantes ou com açúcar confundem o teste e não apresentam resultados confiáveis.

O kit final, que começou a ser vendido por R$149,90 em novembro, inclui seis reagentes diferentes em quantidade suficiente para dez testagens. O protocolo não é tão simples quanto o do reagente azul para cocaína que vemos na TV: do início ao descarte, são dez etapas. Mesmo assim, não demora muito para o resultado ficar pronto: em menos de 10 minutos você vê o resultado.  

“Ele é mais elaborado do que os outros testes em que nós já nos especializamos, é muito mais necessário que haja uma capacitação para que as pessoas o utilizem corretamente”, explica Kava. 

Segundo o químico, o teste serve ao público geral: tanto para tranquilizar quem ainda não se sente confortável em sair para tomar um drink, quanto para donos de bares e fiscalizadores. 

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O kit é acompanhado por um vídeo de instruções sobre os reagentes, segurança e medição de resultados. O site do laboratório também tem um guia interativo para a testagem. Kava explica que os procedimentos de segurança são indispensáveis, já que se tratam de produtos altamente corrosivos.

“Não é nada assustador, tem várias coisas que são corrosivas no nosso dia a dia, mas a gente elaborou todos os procedimentos de segurança para que o usuário possa neutralizar o teste no final e descartá-lo na pia”, explica. “Não tem nenhum passivo ambiental, metal pesado ou outro tipo de contaminante nos resíduos finais do teste.”

O teste desenvolvido pelo Reaja e os pensados pelas universidades têm comprovação científica. No entanto, vale ficar de olho em novos testes que têm sido anunciados por aí: nas últimas semanas popularizou-se o “teste do canudo”, um canudinho que em contato com uma bebida intoxicada mudaria de cor. Kits como esses são vendidos por menos de R$ 20 online. A testagem seria ótima – e acessível – caso ela não fosse totalmente falsa. Quando a esmola é demais, o santo tem que desconfiar.   

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A ideia do canudo existe e está em desenvolvimento na UEPB, mas ainda não foi colocada à venda. 

Existe uma quantidade segura de metanol?

A presença de metanol em bebidas não é necessariamente criminosa: no processo de fermentação de vegetais, pequenas quantidades podem surgir naturalmente, mas em níveis residuais e seguros.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) permite até 200 mg de metanol por litro de álcool puro. Mesmo bebidas fortes como a cachaça não chegam nem perto de ser álcool puro: a concentração costuma variar entre 38% e 54%, e o resto é água.

Em um produto final destilado, como uma garrafa de cachaça, segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, permite-se aproximadamente 0,25 ml de metanol por 100 ml de bebida. 

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Para provocar a morte, entretanto, é preciso 1 ml de metanol por quilo – ou seja, uma pessoa de 70 quilos teria de consumir 70 ml de metanol. Mesmo a bebida no limite dos parâmetros do Mapa não apresenta risco: seria preciso beber 28 litros de cachaça para chegar aos fatais 70 ml de metanol. O cachaceiro morreria por outros motivos alguns litros antes.

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