Antibiótico em animais de abate colocou nosso sistema imunológico em risco
Estudo sugere que antimicrobiano usado para promover o crescimento de porcos e frangos criou bactérias mais resistentes que as nossas defesas naturais.
Nosso sistema imunológico está mais vulnerável a bactérias super-resistentes. E isso tem a ver com um alvo antigo dos ambientalistas: o uso excessivo de antibióticos nas criações de animais para nossa alimentação.
Um novo estudo sugere que a colistina antimicrobiana, usada por décadas em fazendas de suínos e frangos na China para deixar os bichos mais gordos, resultou no surgimento de cepas de E. coli com maior probabilidade de escapar da primeira linha de defesa do nosso organismo.
A Escherichia coli é uma bactéria geralmente inofensiva quando fica quietinha no intestino humano. O problema é se ela entra em contato com outros órgãos: pode levar a distúrbios alimentares graves, meningites e infecções urinárias.
A colistina foi proibida como aditivo alimentar para gado na China e em outros países, mas o estrago já está feito.
No estudo, uma cepa de E. coli carregando um gene de resistência, chamado MCR-1, foi exposto a AMPs (peptídeos antimicrobianos, componentes essenciais do sistema de defesa imune) em galinhas, porcos e pessoas. As bactérias também foram testadas quanto à sua suscetibilidade ao soro sanguíneo humano.
Os cientistas descobriram que a E. coli portadora do gene MCR-1 era pelo menos duas vezes mais resistente a ser morta pelo soro humano. Em média, o gene aumentou a resistência aos AMPs humanos e animais em 62% em comparação com as bactérias que não tinham o gene.
Além dos problemas já identificados, os pesquisadores temem riscos que ainda podem surgir.
“O perigo é que, se as bactérias desenvolverem resistência a [medicamentos baseados em AMP], isso também pode torná-las resistentes aos pilares do nosso sistema imunológico”, disse Craig MacLean, que liderou a pesquisa na Universidade de Oxford.
A resistência antimicrobiana representa uma terrível ameaça global – a ONU alertou que até 10 milhões de pessoas por ano podem morrer até 2050 como resultado de superbactérias. E, portanto, o desenvolvimento de novos antibióticos, mais sofisticados e menos perigosos, é coisa para ontem.
A fabricação, a comercialização e o uso de aditivos zootécnicos melhoradores de desempenho que contenham o antibiótico colistina estão proibidos no Brasil desde 19 de dezembro de 2017.