Vírus Zika compromete a capacidade de voo do Aedes aegypti
Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz constataram que o mosquito voa duas vezes menos quando está com o vírus da Zika. Mas isso não interfere nos ovos
O mosquito Aedes aegypti transmite não apenas uma, mas várias doenças perigosas. Dengue, febre amarela, chikungunya e zika chegam ao homem através desse inseto. Mas pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) descobriram que o vírus da Zika também causa problemas ao próprio Aedes: sua capacidade de voo fica comprometida.
No estudo, publicado na edição de outubro do periódico “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”, os cientistas queriam verificar os efeitos do vírus Zika no comportamento do Aedes aegypti. Para isso, analisaram a atividade locomotora, a produção e a viabilidade de ovos.
No estudo, fêmeas do Aedes foram infectadas por via oral com o vírus, através de um alimentador artificial. Elas foram mantidas em gaiolas contendo um local para a oviposição e contagem de ovos. A atividade locomotora foi analisada por sensores de atividade no quinto, no sexto e no sétimo dias após a infecção.
Os resultados foram claros: houve uma grande diminuição na atividade locomotora dos mosquitos infectados em comparação com um grupo controle, de fêmeas não infectadas. Em média, os mosquitos não infectados são duas vezes mais ativos que as fêmeas com zika. O número e a viabilidade dos ovos, por outro lado, continuaram iguais.
Os pesquisadores afirmam que esse fato pode explicar o agrupamento de casos durante os surtos de Zika, como o que aconteceu no Rio de Janeiro em 2015. Por estarem com a locomoção reduzida, os mosquitos só conseguiam picar pessoas de uma mesma vizinhança. Vale destacar que os mosquitos infectados transmitem as doenças normalmente. O estudo, na verdade, é um alerta para continuar combatendo os criadouros.
“Essa descoberta só reforça a recomendação de as pessoas ficarem muito atentas aos criadouros. Erradicar os possíveis pontos de procriação que estão perto é uma medida eficiente para evitar a doença”, disse Rafaela Vieira Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC/Fiocruz, líder da pesquisa.