Xenotransplante: chinês é primeiro humano a receber um fígado de porco
Paciente estava com câncer no órgão e se recupera bem; entenda mais sobre esse promissor campo da medicina.
Pela primeira vez na história, médicos transplantaram um fígado geneticamente modificado de um porco em um ser humano. A cirurgia inédita aconteceu na China em 17 de maio, e o paciente, um homem de 71 anos, está “muito bem”.
As informações foram divulgadas pelo hospital universitário da Universidade Médica de Anhui, localizado na cidade de Hefei.
O homem estava com câncer avançado em seu fígado, com um grande tumor no órgão, e num estado delicado demais para ser elegível para um transplante humano. Com poucas opções, os médicos conseguiram então a aprovação do paciente, da sua família e das autoridades regulatórias para tentar, pela primeira vez, transplantar um fígado de porco em um humano. Dez genes do animal foram modificados para evitar a rejeição do corpo do paciente.
A operação foi um sucesso e, segundo as últimas informações divulgadas, o paciente se recupera bem. Assim, a China entra para o seleto grupo de países a realizar com sucesso xenotransplantes.
Outros casos
Xenotransplantes são transplantes de órgãos de animais, modificados geneticamente para diminuir as chances de rejeição, em humanos. Eles são teorizados pela medicina há anos, mas muitas barreiras ainda existem para torná-los um procedimento viável e usual. Nos últimos meses, no entanto, este campo da ciência está vibrante após notícias otimistas recentes.
Em março deste ano, o americano Richard Slayman se tornou o primeiro humano a receber o transplante de um rim de porco geneticamente modificado. Ele faleceu em maio, e os médicos envolvidos disseram que não há nenhuma indicação que ligue a morte ao procedimento. Já em abril, a americana Lisa Pisano passou pela mesma cirurgia, se tornando assim a segunda pessoa com um rim de porco. Recentemente, porém, o órgão foi retirado da paciente porque apresentou um fluxo sanguíneo insuficiente.
Antes deles, duas pessoas já haviam recebido transplantes de corações de porcos geneticamente modificados em 2022 e 2023 (ambos os pacientes já morreram). Vale ressaltar que todos os voluntários desse tipo de procedimento estavam em estado terminal e não tinham muitas opções – não estavam elegíveis, por exemplo, para transplantes humanos.
A esperança é que, no futuro, a técnica dos xenotransplantes seja aprimorada a ponto do procedimento se tornar algo comum na medicina, reduzindo assim a grande fila de transplantes de órgãos.
Até agora, xenotransplantes de fígados de porco já haviam ocorrido em pessoas clinicamente mortas (com morte cerebral), com resultados promissores.
O novo caso chinês, então, vem como uma notícia positiva para o cenário. Segundo a equipe médica responsável, o órgão não apresenta sinais de rejeição e realiza suas atividades normalmente, o que é promissor. Acompanhar a evolução do paciente nos próximos meses será fundamental para entender melhor a viabilidade da operação.