Xenotransplante: morre primeiro paciente que recebeu rim de porco geneticamente modificado
Richard Slayman faleceu menos de dois meses após o procedimento pioneiro; hospital responsável disse não haver indicação de que a morte esteja relacionada ao transplante.
Morreu, neste sábado (11), o americano Richard Slayman, primeiro humano a receber o transplante de um rim de porco modificado geneticamente. A informação foi divulgada por sua família e pelo hospital Massachusetts General Hospital, responsável pela cirurgia. Slayman faleceu aos 62 anos, menos de dois meses após o procedimento pioneiro na história da medicina.
Em março, “Rick” se tornou a primeira pessoa a receber um rim geneticamente modificado de um animal – um tipo de operação conhecida como xenotransplante. Na ocasião, foi utilizado um rim de um porco cujos genes foram editados para melhorar a compatibilidade com humanos e, assim, diminuir as chances de rejeição. A cirurgia foi considerada um sucesso e ele se recuperou bem; em abril, já estava de volta a sua casa.
Em nota, a equipe de médicos e cientistas do hospital Massachusetts General Hospital, de Boston, lamentou o falecimento e ressaltou que não há nenhuma indicação que ligue a morte ao procedimento.
Antes do porco, Slayman havia recebido um transplante de rim humano em 2018. Em 2023, porém, o órgão começou a falhar. Além disso, o paciente passou a apresentar problemas cardíacos e sua saúde se deteriorou rapidamente.
Pelo seu estado crítico e delicado, Slayman já não estava mais elegível para receber outro transplante humano – os órgãos são priorizados para pessoas com maiores chances de sobreviver, e ele já estava em fase terminal. Por isso, o americano decidiu ser voluntário de receber o primeiro rim geneticamente modificado de um animal.
Ele não é exceção: em geral, todos voluntários de xenotransplantes até agora foram pessoas em estado terminal e que tinham poucas ou nenhuma outra opção. Também por isso a morte de uma pessoa que recebeu um órgão animal não significa, necessariamente, que o procedimento falhou – elas já estavam com a saúde criticamente debilitadas.
A cirurgia de Slayman foi considerada um grande marco na história da medicina. Por décadas a ideia de utilizar órgãos de animais para transplantes em humanos foi considerada pela ciência, mas muitas barreiras tiveram que ser superadas até que os xenotransplantes fossem de fato concretizados. Ainda estamos em fases iniciais, é claro, mas a expectativa é que essa inovação possa, um dia, ajudar a diminuir as longas filas de espera por órgãos – um problema de quase todos os países, diga-se.
Antes dos rins, esse tipo de cirurgia já havia sido testado em humanos usando corações de porcos geneticamente modificados. Foram dois casos; em ambos, os pacientes morreram algumas semanas depois do procedimento. Eles também estavam em estado terminal antes dos xenotransplantes.
Depois de Slayman, a americana Lisa Pisano se tornou a segunda pessoa a receber um rim geneticamente modificado de porco na história. O procedimento foi feito por cirurgiões do NYU Langone Health, em Nova York, no final de abril. Ela também tinha uma doença renal terminal e, segundo a última atualização da equipe responsável, está viva e segue sendo monitorada.
Tanto o caso de Slayman como o de Pisano são episódios marcantes da medicina e alimentam esperanças, mas todos especialistas alertam para que o tema seja abordado com cautela. Ainda serão necessários ensaios clínicos em um grupo maior de pessoas antes que os xenotransplantes possam se tornar um tratamento aprovado e usado com mais frequência.