Imagine a hipótese: o governo federal brasileiro cria uma conta oficial no Twitter e permite que cada cidadão a administre por uma semana. As pessoas seriam uma espécie de porta-voz do país e poderiam postar o que elas quisessem. Acha que daria certo? Bem, isso rolou na Suécia por sete anos, entre 2011 e 2018.
O curioso projeto “Curators of Sweden” (Curadores da Suécia), lançado em dezembro de 2011 (uma parceria entre a Visite a Suécia, empresa oficial de turismo do país, e o Instituto Sueco, instituição cultural governamental), permitiu que mais de 350 cidadãos administrassem a conta @sweden. Detalhe: eles tinham pouca supervisão de conteúdo. Ou seja, cada um era livre para vender o país como quisesse.
O objetivo da empreitada era aumentar o interesse pela Suécia em todo o mundo e mostrar – na prática – como era viver naquele país. Toda semana, uma nova pessoa que morava lá ficou responsável pelo @sweden, tuitando sua vida cotidiana, hobbies e opiniões – e respondendo a perguntas sobre o país. Com quase 150 mil seguidores, a @sweden teve um alcance enorme para uma conta operada por suecos comuns, gente como a gente. Até porque nem sempre eles falavam sobre os mais belos pontos turísticos do país nórdico.
A iniciativa foi elogiada globalmente por sua abertura e coragem. Dentro dos objetivos, o país queria demonstrar como era aberto e democrático, mas o próprio projeto já comprovou essa premissa. O modelo de “curadoria de rotação” ganhou prêmios e foi copiado por instituições do mundo todo.
Apesar disso, representantes do Instituto Sueco declararam para a publicação sueca The Local que “o alcance geográfico da conta simplesmente não é suficiente”. A maioria dos seguidores eram pessoas dos EUA e Reino Unido (países que já enviavam, antes da criação da conta, muitos turistas à Suécia) ou mesmo do próprio país escandinavo. No fim, a conta não estava cumprindo tudo que esperavam dela e vai ser finalizada – o último curador publicará um tuíte final em 30 de setembro.
Melhores momentos do @sweden
Tudo registrado nos últimos sete anos é surpreendente. Aqui, confira os posts mais surreais e divertidos:
1- O primeiro administrador da conta, Jack Werner, levou tão a sério essa de “falar sobre o dia a dia” que, quando perguntaram o que ele estava fazendo, ele foi sincero até demais:
“Acho que estou bebendo muito café, iluminando meu rosto com meu laptop e saindo com uns amigos. Oh e, você sabe, masturbação”
E não foi a única vez que ele falou sobre isso na conta:
“Desperdiçar um dia com pizza e BF3 [Battlefield 3] é como se masturbar: é ótimo enquanto se está lá, mas depois você fica ‘o que estou fazendo com a minha vida?’ ”
2- Uma moça troll, quase neonazista, assumiu a conta. Ela foi reprendida pela moderação do governo, mas antes soltou pérolas como essa:
“Antes da Segunda Guerra Mundial, Hitler era um dos nomes mais bonitos do mundo. Eu sei. É tão chocante quanto golfinhos estupradores”
3- Donald Trump, em fevereiro de 2017, disse que houve um ataque terrorista na noite anterior na Suécia, o que não aconteceu. O administrador da @sweden não deixou quieto:
“Vamos ser claros: muito aconteceu na noite passada na Suécia. Coisas acontecem o tempo todo. Mas não as coisas que Donald Trump está espalhando”
Aliás, zoar o presidente americano era uma prática até comum:
“Donald Trump olhe, nós construímos um muro para nos proteger de você”
4- Falando em zoeira, digamos que os administradores incorporaram piadas prontas (até a clássica confusão Suécia-Suíça):
“Olá e bem vindo a conta oficial da Suíça no Twitter! Espera, não”
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