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”Há muita vida no surto de ebola.”

Para o médico brasileiro que enfrentou a doença pessoalmente, quem não quiser o ebola batendo à porta deve voltar olhos e recursos para a África.

Por Mariana Sgarioni
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 1 dez 2015, 15h45
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  • Conversamos com Márcio Silveira da Fonseca, médico infectologista que trabalhou com os Médicos Sem Fronteiras na epidemia de ebola em Bo, Serra Leoa, em 2014.

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    Há o risco de o ebola sair da África e se espalhar?
    O país que quiser barrar o ebola tem que atuar no coração da epidemia. Um dos jeitos é dando dinheiro, mas não é só isso. Construir novos centros e principalmente enviar gente para trabalhar é essencial. Na Libéria, a situação melhorou. Mas em Serra Leoa piorou. E na Guiné a transmissão continua. Não existe fronteira eficiente contra a transmissão. Mas países com mais recursos não correm tanto risco como a África.

    Por quê?
    Na África, talvez pelo estilo de vida, os doentes demoram a procurar o serviço de saúde. Ficam quatro, cinco dias em casa, com febre, diarreia, vômito e contaminando outras pessoas. Essa demora vem do que sabem da doença. Elas sabem que quase todo mundo que entra no isolamento acaba morrendo. Como o cadáver é extremamente infectante, em geral, a pessoa acaba não tendo um funeral religioso, o que é muito agressivo para eles. E vira um motivo para fugir do tratamento, pois pensam: ”Já que vai morrer mesmo, melhor que morra em casa, com a família e com um funeral digno”.

    A realidade do surto é parecida com a ficção? Corpos cobertos, caminhões de mortos, pânico?
    Quando a epidemia foi declarada como emergência internacional, a situação na Libéria era tétrica. Pessoas mortas na rua e tal. Em Bo, em Serra Leoa, onde eu estava, o que eu tive foi a sensação de estar no epicentro do problema. Já no aeroporto, temos que responder a questionários, há pessoas medindo sua temperatura, avisos por todas as partes. O ebola é a conversa em todos os lugares. Pessoas evitando de se tocar com medo de infecção. Entre nós, profissionais de saúde, costumamos brincar que o lugar mais seguro nessas epidemias é dentro da enfermaria junto com os doentes confirmados de ebola. Ali dentro você está paramentado, não tem um centímetro de pele exposta, não vai pegar. O risco é quando você sai.

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    Não é desesperador lidar com gente morrendo o tempo todo?
    O legal é perceber como, num ambiente de tanta morte, é possível ver tanta vida. Você vê um familiar apoiando o outro, alguém aparecendo para tomar conta com todo carinho da criança que ficou órfã, os profissionais locais, apesar de tudo, mantendo o sorriso. Ou pacientes que sobreviveram deixando o centro de isolamento dançando. Olhar nos olhos de quem entra naquela enfermaria achando que vai morrer (e muitos morrem mesmo) é duro. Ao mesmo tempo, temos a possibilidade de ter contato com o que há de mais belo da solidariedade humana. 

    O ebola não é uma novidade. Mas só agora parece que existe um interesse real em vacinas e remédios.
    Agora começou a correria mesmo. O ebola, se a gente for relativizar, matou uma quantidade muito pequena de gente em décadas. Tem doença muito mais importante: HIV, tuberculose, malária. Estão todas lá, disputando recursos. De todo modo, não existe uma bala mágica que vai ser a salvação. Há terapias promissoras, mas ainda é difícil imaginar isso sendo produzido em larga escala. O que a gente vê é que quem é tratado na Europa ou nos EUA não morre. Ou morre pouco. Elas receberam tratamentos de suporte que todos deveriam receber – como hidratação intensa, por exemplo. O ebola nem sempre é uma declaração de morte – quem for tratado em um lugar com recursos provavelmente vai sobreviver. 

    Leia mais: 7 fatos que você precisa saber sobre o ebola

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