Leste da África enfrenta invasões de gafanhotos “sem precedentes”
As nuvens são tão grandes que chegam a bloquear o sol.
Desde dezembro de 2019, enormes nuvens de gafanhotos vêm atacando plantações de países do leste e sudeste da África, acendendo alertas globais em uma das regiões mais carentes do planeta.
A crise foi desencadeada por ciclones na Península Arábica seguidos por chuvas intensas, que criaram condições climáticas propícias para a reprodução desenfreada de enormes populações dos insetos. Do Iêmen, os gafanhotos cruzaram o Chifre da África e chegaram à Somália, onde um novo ciclone potencializou ainda mais a reprodução.
A região está acostumada com invasões do tipo desde sempre – tanto que elas inspiraram a passagem bíblica sobre as “pragas do Egito”. Mas a nova crise, de acordo com a ONU, é “sem precedentes”. Na Somália e na Etiópia as nuvens são as maiores em 25 anos; no Quênia, o problema é o mais grave em pelo menos 70 anos, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
No domingo (02/02), a Somália foi o primeiro país a declarar emergência nacional diante as invasões.
Gafanhotos-do-deserto são insetos herbívoros que podem chegar a 10 cm de comprimento. Em busca de alimento, eles invadem plantações e as devoram, e por isso são consideradas pragas agrícolas. O problema é ainda maior na região, que é uma das mais pobres do mundo e que já convive com a segurança alimentar constantemente ameaçada – 19 milhões de pessoas na região sofrem com a fome, segundo a organização Food Security and Nutrition Working Group.
As nuvens invasoras são tão grandes e numerosos que chegam a bloquear a luz do sol. Cada gafanhoto pode comer o equivalente a seu próprio peso em um único dia, e por isso são tão destrutivos. Além disso, os insetos são rápidos, e conseguem percorrer distâncias de 150 km por dia.
Organizações internacionais como a ONU vem considerando o problema como uma de suas prioridades e buscando recursos para ajudar a conter a invasão. O Fundo Central de Resposta de Emergência da ONU já liberou 10 milhões de dólares para lidar com a crise, e a FAO está em processo de liberar mais 70 milhões.
As medidas tomadas até agora, que incluem a pulverização de inseticidas com aviões, não têm tido muito efeito diante as proporções bíblicas das nuvens e precisam ser intensificadas com urgência.
O problema pode aumentar se nada for feito, alertam especialistas, porque um novo ciclo de reprodução dos animais está para começar. Estimativas apontam que o número de gafanhotos pode aumentar até 500 vezes até junho. É provável que as nuvens se espalhem para países vizinhos como Uganda e Sudão do Sul, e algumas previsões dizem que eles podem chegar bem mais longe, incluindo até na Índia.
Em seu Twitter, António Guterres, secretário-geral da ONU, chamou atenção do mundo para o problema, e lembrou que os eventos extremos como esse estão relacionados com as mudanças climáticas.