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O sal rosa do Himalaia é mesmo do Himalaia? E por que é rosa?

Ele, na verdade, vem do Paquistão, onde suas minas viraram atração turística. Conheça a história que ninguém te contou sobre o mineral mais gourmet do mercado (que, spoiler, não é melhor que o sal comum).

Por Bela Lobato
28 fev 2025, 16h00

Tal qual a pink lemonade e as lâminas de barbear para mulheres, o sal do Himalaia é uma versão esteticamente agradável (e mais cara) de um produto comum e simples. 

Neste texto, você vai conhecer as diferenças e semelhanças entre o sal rosa do Himalaia e o sal marinho. É provável que você termine querendo salgar sua comida com o sal normal, de sempre – mas, talvez, queira comprar uma passagem para o leste do Paquistão para entender como esse mineral é extraído.

Qual a história do sal?

O sal do Himalaia, para começar, não vem de uma bela montanha amorfa ou de uma geleira do Himalaia. Ele é minerado de uma montanha chamada Salt Range (que significa, literalmente, Cordilheira do Sal), no norte da província de Punjab, no Paquistão. Salt Range foi formada a partir de sedimentos oceânicos – a montanha também abriga fósseis de animais marinhos de até 570 milhões de anos.

Os craques da geografia podem estar pensando: “Ué, mas o Himalaia não fica no Paquistão”. É verdade: a região em que o sal rosa é minerado fica na porção mais a leste do país, mas ainda são mais de 300 quilômetros até o começo das montanhas. 

Entretanto, a própria montanha de Salt Range foi formada por atividades sísmicas e colisão e sobreposição das placas tectônicas da Índia e da Eurásia – o mesmo fenômeno que provocou o surgimento da Cordilheira do Himalaia. Embora não haja uma única explicação para a origem do nome do sal, pode ser que a escolha venha daí – ou, então, só pelo marketing, mesmo.

Os registros mais antigos já encontrados apontam que a mineração de sal existe na região desde o século 13 – naquela época, o sal rosa (assim como todo sal) era um bem valioso para trocas e comércio. 

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A mineração em larga escala começou para valer durante a colonização britânica, no século 19. Quilômetros de minas foram abertos, em túneis subterrâneos estreitos, sem iluminação nem acesso a água. Na época, homens, mulheres e crianças eram obrigados a trabalhar na extração do mineral em condições insalubres.

Fotografia da exposição Crystal nas minas de sal.
Um dos túneis da mina de Khewra, no Paquistão, esculpido dentro da rocha de sal rosa do Himalaia. (Wikimedia Commons/Reprodução)

Em meados do século 20, com a industrialização, o Império Britânico começou a utilizar máquinas pesadas para extrair o sal, aumentando ainda mais o ritmo da exportação. Mesmo assim, as técnicas mais avançadas nunca chegaram a substituir o transporte primário dentro das minas. Até hoje, o sal é transportado em vagões de trem que circulam em um trilho de 60 centímetros de largura deixado pelos britânicos.

A mina tem 19 andares, dos quais 11 estão abaixo do solo. A partir da entrada, ela se estende por cerca de 730 metros para dentro da montanha – somada, a malha dos túneis têm 40 km.

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Metade da produção de sal rosa vem da mina de Khewra, a maior da região e a segunda maior do mundo. De lá, saem cerca de 400 mil toneladas de sal rosa por ano. O recurso não é renovável, é claro, mas estima-se que, com a extração nesse ritmo, a mina de Khewra ainda tenha mineral para mais 350 anos.

E não vá pensando que esse sal todo serve só para temperar, não. Hoje, o sal rosa é matéria prima de abajures, tábuas de corte, decorações e até de saunas. A possibilidade de esculpir o sal também inspirou os paquistaneses na hora de decorar a mina de Khewra,

A mina é uma importante atração turística, e atrai 300 mil visitantes por ano. Os passeios pelo interior incluem, inclusive, visitas a pontos turísticos mundiais. Dentro da mina de Khewra, você pode ver a Torre Eiffel e a Grande Muralha da China, por exemplo – feitos, é claro, inteiramente de sal rosa. 

Fotografia da mesquita que foi construída dentro das minas de sal.
Uma mesquita feita de sal, no interior da mina de Khewra, no Paquistão. (Wikimedia Commons/Reprodução)
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Apesar das toneladas de sal retiradas do solo paquistanês diariamente e do preço do sal rosa nas prateleiras dos mercados, o país não recebe um retorno financeiro proporcional. A maior parte dos lucros fica com quem produz o sal já processado – principalmente a Índia, país vizinho para onde o Paquistão exporta, por preços baixíssimos, a maioria do que minera.

Em 2019, essa situação foi um grande bafafá no Twitter dos paquistaneses, que perceberam que o sal da região era vendido no mundo todo com o aviso “made in India” no rótulo. A rivalidade entre os dois países não é nova, e a polêmica serviu para aumentar o orgulho nacional pelo mineral/especiaria. 

Em 2024, a ministra-chefe da província de Punjab, Maryam Nawaz, anunciou que estava considerando banir as exportações de sal rosa bruto. Ela também defende a utilização de tecnologias mais modernas na mineração e a implantação de medidas de segurança para os trabalhadores das minas.

“Não permitiremos que as preciosas reservas do país sejam vendidas a um preço baixo”, disse Nawaz, segundo o portal paquistanês Ary News. “E, para o Paquistão, o sal rosa é como um tesouro.” 

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Por que o sal do Himalaia é rosa?

O sal do Himalaia contém traços de vários minerais, e a intensidade da cor depende principalmente da concentração de ferro. Por isso, apesar da maior parte do sal ser rosa, alguns pedaços podem ser laranjas, vermelhos ou, em alguns casos raros, totalmente brancos.

Há quem afirme que esses minerais fazem com que o sal seja melhor para a saúde, mas as propagandas milagrosas não se sustentam quando testadas cientificamente. 

Quando se leva em conta o pouco sal que se costuma ingerir em um dia, a diferença é imperceptível. Nas quantidades consumidas, as diferenças mínimas na composição entre o sal marinho e o sal do Himalaia são irrelevantes.

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