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Sheik do Kuwait faz vaquinha para comprar ilha britânica e criar o próprio país

O líder xiita, que foi acusado de extremismo e retórica radical, já levantou boa parte dos R$ 25,6 milhões necessários.

Por Victor Bianchin
4 ago 2024, 14h00

Yasser al-Habib é um sheik do Kuwait que migrou do seu país para o Reino Unido há 20 anos, fugindo de uma provável condenação por extremismo em seu país natal. Não fosse o asilo concedido pelo governo britânico, ele talvez tivesse que encarar dez anos de prisão. Com uma nova residência em Londres, ele, que é muçulmano xiita, se tornou um pregador ferrenho, conhecido por seus posicionamentos polêmicos contra os sunitas e retórica considerada extremista.

Agora, al-Habib tem um novo plano: comprar a ilhota de Torsa, na costa da Escócia, e transformá-la em uma base para seu grupo, o Mahdi Servants Union (“união de serventes ao Messias”), ou MSU. Ele tem levantado fundos principalmente por meio de seu canal televisivo, o Fadak TV, disponível em algumas operadoras por satélite e também pelo streaming Roku. Seu objetivo é arrecadar, por meio de doações dos seguidores, 3,5 milhões de libras esterlinas (R$ 25,6 milhões) para conseguir comprar a ilha. Desse total, 3 milhões de libras já teriam sido levantadas.

O tablóide Daily Mail, da Inglaterra, chegou a dizer que o negócio estaria em “conversas avançadas”, mas, mais tarde, a BBC confirmou com o vendedor que nenhum comprador estava perto de adquirir a ilha ainda.

O MSU é um grupo controverso, que organiza campos de treinamento militar para os xiitas (que são mais de 400 mil no Reino Unido) e tem o objetivo de abrir escolas. Também comete atos considerados terroristas – o mais recente foi um ataque em agosto de 2022, contra a embaixada do Azerbaijão em Londres.

Na nova ilha, al-Habib diz que muçulmanos de todo o mundo seriam convidados para “obter um visto” e ir viver por lá. Para poder emitir ou exigir vistos, vale dizer, é preciso que um território tenha sua soberania reconhecida internacionalmente, o que é pouco provável que aconteça mesmo se a venda da ilha de fato rolar.

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“Se você quer viver livre sob a bandeira do imã [líder espiritual com poderes políticos] em uma terra especial, onde você sente que tudo ao seu redor te lembra do aguardado mahdi [Messias], apoie este projeto”, disse o líder do MSU em um vídeo. “Aqui, meus irmãos, queremos construir uma grande mesquita, uma escola e uma hawza [seminário xiita]. Queremos que esta seja uma nação para os xiitas e para os fiéis”, adicionou.

“Eles vão ter o próprio exército, o próprio sistema de justiça, irão gerenciar suas próprias escolas e hospitais e pessoas de todo o mundo irão poder migrar para esse lugar”, afirmou em entrevista ao Daily Mail a diretora adjunta de comunicações do Atlantic Council, Sarah Zaaimi. “É algo que desafia a noção de soberania. É estranho para mim como as autoridades britânicas estão permitindo esse discurso”, disse.

A ilha de Torsa, que tem apenas 1,6 km de comprimento, não é habitada há 85 anos e está à venda pela imobiliária Savills. Ela só é acessível por barco a partir de outra ilha escocesa, Luing. O que tem lá: uma casa de fazenda e um castelo em ruínas. E talvez um novo país?

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