6 dicas para melhorar o modo como você usa inteligência artificial
A Super entrevistou dois especialistas em IA que trazem dicas para usar as ferramentas de forma mais eficiente e responsável.
O Prêmio Nobel de Física de 2024 foi entregue para John Hopfield e Geoffrey Hinton, cientistas com pesquisas pioneiras no campo da inteligência artificial. Por causa das redes que eles desenvolveram nos anos 1980, hoje as IAs são baseadas em redes neurais artificiais, emulando o funcionamento do cérebro.
Essas redes são as bases dos modelos de linguagem de grande escala, como o ChatGPT, da OpenAI, ou o Gemini, do Google. Esses chatbots conseguem processar linguagem natural e gerar textos a partir dos exemplos com os quais foram treinados. Agora, essas tecnologias que pareciam coisa de ficção científica podem ser usadas por qualquer um com conexão à internet.
Mas como usar as IAs da melhor forma possível, com responsabilidade e eficiência? A Super esteve no Tecnopuc Experience 2024, evento do Parque Científico e Tecnológico da PUCRS, e lá conversou com Luiz Rossi, CEO da empresa de tecnologias educacionais Cognitiva Brasil, e Dennis Giovani Balreira, professor da UFRGS, para pegar dicas de como usar as novas inteligências artificiais.
Seja específico
“Para usar a ferramenta, você não precisa ser um técnico”, começa Luiz. Ou seja: você não precisa conhecer linguagens de programação para usar um chatbot de IA. A coisa mais importante é ter pensamento estruturado.
A coisa mais importante ao escrever um prompt – o texto de instrução que você dá para a IA – é ser específico e objetivo. “Você precisa falar exatamente aquilo que você quer”, explica o Luiz. Não precisa ter medo de falar muito ou de ser específico demais. Se seu prompt é vago, a resposta provavelmente não vai ter muito a ver com o que você precisa.
Uma coisa que pode ajudar é pedir para o chatbot interpretar um papel. Se você quer uma informação confiável sobre música, você pode pedir para a ferramenta supor que ela seja uma musicista com treinamento clássico e formação na Berklee College of Music, uma das melhores faculdades da área. Isso tende a gerar respostas melhores e menos genéricas, e é um jeito de ajudar a IA a saber onde procurar.
Dê contexto
Imagine que você é um professor de história querendo incrementar suas aulas. A melhor coisa que você – e qualquer outra pessoa em qualquer profissão – pode fazer é dar esse contexto para a IA, montando um cenário.
Esse foi o exemplo que o Luiz deu: “Eu sou um professor de história na rede particular de São Paulo, trabalho com crianças do segundo e do terceiro ano e preciso explicar de uma maneira lúdica como estava estruturada a civilização egípcia no século 5 a.C.”
A resposta que o chatbot vai te dar vai ser muito melhor do que se você pedisse por “ajuda numa aula de história de Egito Antigo”. Agora, a IA entende seu público-alvo e como ela pode ser mais útil.
Dê as informações que você tiver
Vamos continuar no exemplo do professor de história. Você provavelmente já sabe bastante coisa sobre o Egito Antigo, e talvez quer descobrir algo novo ou ângulos diferentes para encarar as informações. É bom, então, contar para o chatbot o que você já sabe.
Assim, a resposta dele não vai estar cheia de obviedades, e vai poder ser mais completa a partir daquilo que você tem para compartilhar. É bom trazer exemplos, para que a resposta esteja o mais próxima possível daquilo que você deseja.
Seja educado
Dennis diz que um estudo “bem exótico” mostrou que, se você fala “bom dia para a IA”, ela tende a te responder de forma mais educada. O que ele supõe, com base nisso, é que talvez a IA tenha percebido, vasculhando os fóruns da internet, que perguntas educadas recebiam respostas melhores. Não dá para saber com certeza, mas, na dúvida, seja cortês.
Não peça conselhos pessoais
Uma ferramenta de inteligência artificial talvez possa ajudar um professor de história a preparar uma aula mais completa e interessante sobre o Egito Antigo, como uma assistente de pesquisa. Mas e ajudar em problemas de relacionamento? Será que conselho de IA substitui conselho de amigo?
Você já deve imaginar que a resposta é não. É muito mais difícil pedir conselhos pessoais ou ajuda em questões humanas porque nenhum contexto, por mais completo que seja, pode explicar um relacionamento.
Tome cuidado com os erros
“Você sempre precisa conferir”, diz Dennis. “Nada que nenhum desses modelos faça é completamente substitutivo. Você não pode jogar para a IA, copiar e colar e falar tchau”.
As ferramentas de inteligência artificial erram, e erram bastante. Se você é um professor de história educando crianças, você realmente precisa checar tudo, para ter certeza de que não está espalhando desinformação para os seus alunos.
Na academia, já se fala de “alucinação” das IAs. Essas ferramentas podem criar informações e espalhar mentiras como se fossem verdades absolutas. Isso é algo que deve ser levado em conta antes de usar uma IA: será que você precisa dela, mesmo? Porque o risco de receber uma resposta mentirosa existe.
Se algo não faz muito sentido, cheque. Não hesite em conferir. “A IA nunca vai dizer que não sabe”, explica Luiz. Se você pergunta algo que a base de dados dela não pode responder, ela simplesmente vai inventar uma resposta, porque “ela não sabe que não sabe”.
A dica mais importante para qualquer um é que não dá para depender exclusivamente da inteligência artificial, e é preciso tomar muito cuidado com qualquer informação que ela gerar.