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A ginga do dinossauro

Há 65 milhões de anos os últimos dinos deixaram de caminhar pela Terra. Agora o computador está ressuscitando até o rebolado deles.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 31 mar 1999, 22h00

Gabriela Aguerre

O primeiro homem a topar, cara a cara, com um dinossauro foi Sam Magruder. Ocorreu há 80 milhões de anos, nos pântanos do atual Estado do Colorado, nos Estados Unidos. “Durante longos minutos, a criatura e eu só trocamos olhares. Até que, finalmente, consegui identificá-la. Era um saurópode”, conta – um daqueles pescoçudos imensos, herbívoros e quadrúpedes. Essa cena, é claro, jamais aconteceu de verdade. Ela foi imaginada e descrita no livro A Descronização de Sam Magruder, do paleontólogo americano George Gaylord Simpson (1902-1984), publicado no Brasil pela Editora Fundação Peirópolis em 1997. A novela narra como um cientista do século XXII viajou no tempo e encontrou os gigantes pré-históricos.

Nem precisava ir tão longe. A Ciência do final do século XX também já tem seus magruders. Uma elite de engenheiros e paleontólogos está utilizando o computador para recuar virtualmente no tempo e ver de perto as bestas antediluvianas. O cientista da computação Kent Stevens, da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, inventou o DinoMorph, um programa que recria, em três dimensões, o esqueleto dos saurópodes e, por animação, mostra como eles se moviam. “Eu tive a idéia com o filme Jurassic Park”, admitiu Stevens à SUPER. Com o software, o cientista verificou que, embora ruins no molejo, alguns dinos possuíam movimentos surpreendentemente ágeis.

Além do DinoMorph, outros programas estão revelando dados inéditos dos gigantes pré-históricos, como o parentesco entre as espécies e os detalhes de estruturas minúsculas nos seus esqueletos. A ferramenta futurista do computador abriu uma nova visão da Pré-História: a ciberpaleontologia.

Andam, mexem o rabo e ainda cantam

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O que é um animal pesado, para você? Um elefante? Pois o maior dos atuais animais terrestres seria um rato, comparado ao apatossauro – um saurópode de 30 toneladas e 21 metros de comprimento, também conhecido como brontossauro. Como esse réptil descomunal e desengonçado equilibrava o pescoço de 5 a 7 metros de comprimento? O DinoMorph mostrou: o apatossauro não andava o tempo todo empertigado, mas era capaz de levantar e abaixar a cabeça com grande agilidade.

“Entender a biomecânica desses bichos – como eles se moviam – é fundamental para desvendar seus hábitos”, ressalta Reinaldo Bertini, paleontólogo da Universidade Estadual Paulista, em Rio Claro. “Mas, mesmo quando não cria imagens impressionantes, o computador ajuda a entender melhor esses gigantes.”

É o caso do programa Paup, que desvenda o parentesco entre os animais. Ou da combinação da tomografia com a computação gráfica, que vasculha cavidades inalcançáveis dos esqueletos reais. Sem falar de sintetizadores que recriam sons. “Além de ser mais fácil lidar com um computador do que com toneladas de ossos frágeis, as imagens tridimensionais eliminam qualquer distorção que tornaria impossível verificar a articulação óssea no fóssil verdadeiro”, diz à SUPER o paleontólogo americano Paul Sereno, da Universidade de Chicago.

“Esses instrumentos são importantes”, pondera Bertini, “mas, se o computador não for alimentado com dados de anatomia e fisiologia dos fósseis, não faz nada.” Às vezes, nem o homem nem a máquina resolvem. Quando o assunto é a cor dos dinos, por exemplo, a Ciência emudece, pois não sobrou nenhum pedaço de pele com o colorido intacto. Nesse caso, só Sam Magruder sabe. Afinal, ele esteve lá. Deu para reparar muito bem que o diplodoco era verde-esmeralda e tinha olhos vermelhos.

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Passeio pelo fóssil

Muitas vezes, a ciberpaleontologia tira proveito de programas já existentes. Como para reconstruir o crânio virtual deste trinaxodon (ao lado) de apenas 3,80 centímetros de diâmetro. O bicho era um predador que corria pela África do Sul há 240 milhões de anos. Paleontólogos da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, associaram a tomografia a softwares de computação gráfica para reconstruir sua imagem em três dimensões. Assim, puderam vasculhar os cantos ocultos do minúsculo fóssil sem risco de quebrá-lo.

Hobby de gênio

O americano Nathan Myhrvold já teve aulas com o físico Stephen Hawking e é considerado um dos gurus de Bill Gates na Microsoft. Mas não é de Física nem de tecnologia que Myhrvold gosta mais. O projetista que desenha os computadores do futuro prefere fazer modelos virtuais de dinos. Por diversão. Ele adaptou um software de engenharia para estudar a cauda dos saurópodes. Com a ajuda do paleontólogo canadense Philip Currie, descobriu que o rabo deles se mexia tão rápido quanto um chicote e estalava no ar. Os cientistas acham que a chicotada sonora servia para atrair as fêmeas e intimidar os rivais.

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Ossos emperrados

A animação virtual confirmou que o diplodoco tinha pescoço duro, mas uma impressionante flexibilidade traseira.

O computador revelou que o animal não conseguia esticar o pescoço tanto quanto uma girafa (veja o detalhe).

Em compensação, ele podia se levantar sobre as patas traseiras e usar a cauda como ponto de equilíbrio, balançando-se como uma gangorra.

A coluna vertebral do dino virtual foi modelada em três dimensões, com proporções precisas, tiradas de fósseis reais.

A peça-chave

Se forçar, a vértebra quebra.

As vértebras são interligadas por saliências ósseas chamadas zigapófises.

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As zigapófises eram protegidas por uma bolsa cheia de líquido lubrificante para impedir o atrito entre os ossos.

Se as vértebras se afastassem demais, a bolsa se romperia e o animal ficaria aleijado.

Pré-História virtual

As novas ferramentas eletrônicas que auxiliam a ciência.

Primos distantes

O Paup é um programa que monta as árvores genealógicas dos dinos. Ele encontra o parentesco entre várias espécies, comparando características nem sempre visíveis a olho nu. “Graças ao Paup, podemos afirmar, com certeza, que um bicho é parente de outro”, explica Reinaldo Bertini. Foi assim que o paleontólogo concluiu que, apesar das diferenças aparentes, o anquilossauro e o estegossauro são primos. Entre as várias características, ambos medem entre 9 e 10 metros e têm ossos semelhantes.

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Sinfonia cretácea

Usando-se um sintetizador ligado a um computador, é possível recuperar até os sons emitidos pelos monstros do passado. Foi o que fizeram pesquisadores do Museu de Ciência e História Natural do Novo México, nos Estados Unidos, para descobrir que o parassaurolofo “buzinava”. Com o uso de programas especiais, traçaram o caminho do ar dentro da crista deste dinossauro de 10 metros de altura e concluíram: o bicho soltava uivos semelhantes ao som de um trombone.

Vai subir…

Um pescoço elástico facilitava a dieta variada.

Com vértebras bem flexíveis, o apatossauro (ou brontossauro) elevava a cabeça até 6 metros de altura, alcançando as folhas de árvores altas.

O pescoço podia descer, ainda, uns 2 metros abaixo do nível das patas. Com isso, devorava brotos e outras plantas baixas.

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