O ar blasé de tédio era característico dos seguidores daquele que se convencionou chamar movimento dark no Brasil dos anos 80. O “estilo” englobava os mais variados grupos pós-punk britânicos da época. A República das Bananas era ainda incipiente em termos de cultura pop e uma profusão de rótulos inusitados tentava explicar tanta (pós-)modernidade. Oposta aos costumes de metaleiros, a “tribo dark” seguia uma estética gótica, valorizava aspectos teatrais, venerava a crítica musical inglesa, abusava de indumentárias escuras e era um tanto depressiva. Marcelo Ferla
BRASIL NOIR
Joy Division, Jesus & Mary Chain, Siouxsie & The Banshees, Alien Sex Fiend e Bauhaus, e brasileiros consagrados como Legião Urbana e obscuros como Akira S e As Garotas que Erraram, freqüentavam o topo das preferências da tribo, que descobria as novidades trocando fitas K7 com gravações de elepês importados, dançando em clubes como Madame Satã, SP, Crepúsculo de Cubatão, RJ, e Ocidente, RS.
A CURA NORA
Foi em 20 de março de 1987, quando se iniciou a turnê brasileira do grupo The Cure, que a tribo dark começou a viver seu mais profundo êxtase. A vinda de Robert Smith & cia. coincidia com o lançamento da coletânea Staring at the Sea. Logo depois, chegou outro grupo idolatrado e cheio de rótulos, o Echo & The Bunnymen.
REFERÊNCIAS MALDITAS
Edgar Allan Poe e os “malditos” franceses Rimbaud e Baudelaire freqüentavam a biblioteca da tribo que, para se informar sobre música, não dispensava os semanários gringos NME e Melody Maker e a revista brasileira Bizz. Indispensável é Carícias Distantes, biografia de Ian Curtis, do Joy Division, escrita por sua mulher, Deborah (Assírio Alvim).
GUARDA-ROUPA DA VOVó
Vestir-se de preto era o código – e quanto mais renda, melhor. Contraponto perfeito para peles alvas, o basic black era a lei para a tribo gótica. Os estilistas Yohji Yamamoto e Calvin Klein (lá fora), e as grifes brasileiras Zoomp e Mr. Wonderful, mais o guarda-roupa da vovó, forneciam os uniformes prediletos.