Ex-funcionária denuncia Apple por ambiente de trabalho machista
Uma engenheira e uma dúzia de funcionárias - e alguns funcionários - soltaram o verbo sobre situações sexistas na empresa
O mundo da tecnologia ainda é dominado por homens, isso é fato. Na Apple, uma das maiores empresas do ramo, só 32% dos funcionários são mulheres – a engenheira Danielle (nome trocado para proteger a identidade da fonte) era uma delas. Como grande parte das suas companheiras de profissão, ela vivia em um ambiente dominado por homens e pelas suas piadas machistas.
Ela relevava tudo, mas em julho desse ano, a situação chegou ao extremo: alguns colegas de Danielle teriam feito piadas sobre estupro. Depois de várias reclamações sem resultado para o gerente da área, ela decidiu contactar o CEO da Apple, Tim Cook – e também não obteve respostas.
Foi a gota d’água: a engenheira e mais uma dúzia de mulheres e alguns homens escreveram e-mails para o RH da Apple, denunciando algumas das situações mais bizarras de machismo e discriminação sofridas por todos eles no ambiente que eles classificaram como “tóxico”.
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O documento com as supostas opressões tem 50 páginas, e foi publicado pelo site de notícias Mic. Nele, há dezenas de histórias de sexismo: uma das funcionárias, por exemplo, diz que em uma reunião em que ela era a única mulher, os colegas começaram a falar muito mal de suas esposas e namoradas. Segundo o Mic, ela teria contado: “Me senti muito desconfortável porque eu era a única mulher na sala, enquanto todos os meus colegas homens chamavam duas mulheres de cobras. E meu chefe não moveu um dedo para parar isso”.
Uma terceira funcionária lembra que precisava trabalhar sozinha, à noite, em um andar vazio quando tinha que fazer hora extra: “Eu me sentia insegura, sendo a única mulher de um andar inteiro – e escuro”. Quando essa mulher pediu para ser colocada em uma mesa perto de alguém, o pedido foi negado. Um dos homens que assinou o manifesto também reclamou de machismo contra ele: os colegas teriam dito que ele era emocional demais, e que ele “parecia uma mulher na tpm”.
Depois da denúncia ao CEO, Danielle afirmou ter sofrido retaliação dos colegas – e teve que tirar um tempo para escapar do tratamento hostil. Ela também diz nos emails que, quando retornou da licença, nada havia mudado.
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A Apple não quis comentar o caso, mas disse que está “comprometida em tratar todo mundo com respeito e dignidade”, e que quando a empresa recebe reclamações desse tipo, “as investigações são levadas a sério”. A gigante também tem declarado publicamente o seu esforço em contratar minorias: ela diz ter separado 50 milhões de dólares para investir na contratação de minorias e, desde 2014, publica um relatório de diversidade – embora 67% das pessoas nos cargos de liderança sejam homens brancos.
Ou seja: a situação está longe de melhorar. De acordo com Danielle, algumas pessoas dentro da Apple chegam a compara-la, de forma sarcástica, a uma empresa chinesa chamada Foxconn, que já admitiu usar mão de obra infantil – e que viu 18 funcionários cometerem suicídio em 2010. A comparação, segundo Danielle, é que a Foxconn não chega aos pés da Apple em termos toxicidade de ambiente de trabalho.