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Gaudí no lugar do WTC

Já apareceu arquiteto propondo trocar as torres por uma área agradável, arborizada, de predinhos e pracinhas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 31 out 2001, 22h00

Denis Russo Burgierman

Você já deve ter ouvido falar do problema: ninguém sabe o que fazer do terreno de onde subia o World Trade Center. Por um lado, é uma propriedade nobre numa área nobre da cidade que é considerada a capital do mundo. Teoricamente, é o tipo de terreno que todos gostariam de poder explorar. Mesmo assim, virou o grande abacaxi do planeta.

Já apareceu arquiteto propondo trocar as torres por uma área agradável, arborizada, de predinhos e pracinhas e um comércio chique e animado. Algo feito para as pessoas, coisa que o WTC não era. Imenso, dava ao pedestre uma sensação desagradável de insignificância. O espaço entre os prédios canalizava o vento do mar e tornava impossível ficar na praça que havia no meio do complexo. A idéia do novo minibairro parecia perfeita para mostrar ao mundo que Nova York não só superou o choque, mas saiu melhor dele.

Acontece que alguém lembrou que os prédios levaram com eles nada menos que 20% do espaço para escritórios do sul da ilha de Manhattan. Muitas das empresas que se alojavam lá, infelizmente, vão quebrar. Outras tantas vão continuar existindo e precisarão de uma nova sede se o WTC virar um minibairro (ou um parque, ou um monumento pela paz). Essa lembrança foi a senha para que até as organizações ambientalistas, tradicionais inimigas dos arranha-céus, saíssem em defesa da reconstrução do complexo. O motivo: as empresas sem teto se espalhariam por Nova York e pelo Estado vizinho, Nova Jersey, levando trânsito, poluição, lixo e gente. É provável que aproveitassem a situação de exceção para desmatar as poucas áreas verdes da região.

OK, faça-se o arranha-céu então. Mas quem construiria um outro WTC? Para começar, o novo prédio pareceria tábua de tiro ao alvo. Sem falar nos boatos de poltergeist que viriam junto com o edifício erguido sobre restos humanos (não, não vão conseguir remover tudo). Nenhuma empresa iria querer alugar escritório lá. E as que quisessem teriam uma baita dificuldade de atrair funcionários e clientes.

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O dono do leasing do WTC sugeriu que se fizessem quatro torres de 50 andares, em vez de duas de cento e tantos. Mas, convenhamos: que anticlímax. Trocar aqueles gigantes no horizonte por quatro predinhos a meio-pau… Teve até um maluco que propôs que se construíssem réplicas das torres, só que ocas, inteiramente deso-cupadas. Algo como um imenso dedo médio estendido para os terroristas.

Já que está aberta a temporada de palpites, a Super resolveu dar sua colaboração. Descobrimos, no Centro de Estudos Gaudinistas (CEG), em Barcelona, Espanha, uma série de desenhos de um arranha-céu projetado pelo grande arquiteto catalão Antoni Gaudí. O prédio teria sido encomendado em 1910 ou 1911 por empresários americanos que queriam um grande hotel em Nova York, mas o projeto nunca foi colocado em prática e se perdeu. Sobraram só alguns desenhos feitos pelo escultor Llorenç Matamala i Piñol, amigo e colaborador de Gaudí. Os desenhos mostram um edifício que seria o maior de Nova York em sua época: 310 metros de altura, 60 menos que o Empire State, construído em 1931, e 100 menos que o WTC. Que se concretize o maior delírio de um dos mais brilhantes arquitetos do nosso tempo! (A ilustração à esquerda, realizada pelo ilustrador Newton Verlangieri, baseou-se no desenho de Matamala).

“A idéia me parece absurda”, diz o arquiteto Luis Gueilburt, diretor do CEG. Poxa, professor Luis, por quê? Pense bem: com sua grande torre, cercada de oito menores, o Grande Hotel de Gaudí poderia alojar, se não todos, pelo menos grande parte dos escritórios destruídos. Há, no mundo, centenas de especialistas na obra de Gaudí – uma comissão dos melhores deles poderia descobrir as intenções do arquiteto por trás dos desenhos e refazer o projeto à luz dos dias de hoje. E, com a tecnologia moderna, seria possível terminar a obra num prazo razoável (a obra-prima do catalão, o Templo da Sagrada Família, em Barcelona, começou a ser erguida em 1894 e não deve ficar pronta antes de 2020). “Isso é verdade. A construção é tecnicamente possível, ainda mais nos Estados Unidos”, admite Gueilburt.

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Sem falar no valor simbólico do prédio. Gaudí, embora fosse um católico convicto, tinha um enorme respeito pela cultura islâmica, tanto que suas obras estão cheias de mosaicos coloridos e pátios agradáveis inspirados na arquitetura dos árabes, que ocuparam a Espanha no século VIII. Sem falar que, com suas formas orgânicas, o prédio seria um lugar muito mais agradável que qualquer edifício de aço e vidro – e atrairia inquilinos e turistas. “É. Até que é uma idéia divertida”, diz Gueilburt, entregando os pontos, minutos antes de admitir à Super que toparia o desafio de refazer o projeto.

Para completar, o prédio é cheio de formas curvas, ideais para a construção de templos. O térreo poderia ser inteiro reservado para usos religiosos – uma igreja católica, um templo protestante, um budista, um hindu, uma sinagoga, uma mesquita. Afinal, Nova York é a cidade mais multicultural do mundo. É isso que eles têm que o Afeganistão do Taleban não tem. Nós da Super duvidamos que alguém tivesse coragem de bombardear um prédio tão cosmopolita, tolerante e pacífico.

Se você gostou da sugestão da Super, deixe seu nome já no abaixo-assi-nado que colocamos no nosso site – https://www.superinteressante.com.br. A lista será depois enviada, junto com uma cópia desta reportagem, para as autoridades que irão decidir o que será feito no espaço do WTC. Se a idéia for aprovada, você vai ficar sabendo pela CNN

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