Leonardo Fuhrmann
Erro – Projetar um avião com janelas que favoreciam o aparecimento de rachaduras e faziam a fuselagem desintegrar-se em pleno voo.
Quem – Engenheiros da De Havilland Aircraft Company, fabricante do modelo Comet.
Quando – Entre 1952 e 1954.
Consequências – Uma série de acidentes matou mais de 100 pessoas e o avião – primeiro jato comercial da história – acabou sendo proibido de voar.
Em 1952, um avião chamado Comet fez seu voo inaugural prometendo uma verdadeira revolução no transporte aéreo. Era o primeiro jato comercial a cruzar os ares – e voava, obviamente, muito mais rápido que os modelos com motores a hélice. Ele alcançava 725 km/h de velocidade, praticamente o dobro de seus concorrentes. E parecia ser um exemplo de projeto bem desenvolvido, acomodando de 36 a 44 passageiros com extremo conforto. Suas janelas grandes e quadradas chamavam atenção e ajudaram a fazer do Comet um sucesso instantâneo de vendas. Em seu primeiro ano de operação, o modelo transportou mais de 30 mil passageiros para os 4 cantos do mundo.
Proibido de voar
Mas a empolgação com o jato pioneiro não duraria muito tempo. Ainda em 1952, uma aeronave operada pela companhia aérea British Overseas Air-ways Corporation (BOAC) acidentou-se durante a decolagem num aeroporto perto de Roma, na Itália. Era o primeiro de uma série de 5 acidentes, em menos de dois anos, que resultaria na morte de 113 pessoas. Foram tantas quedas misteriosas que, em 1954, o promissor avião acabou sendo proibido de voar.
Uma investigação revelou que o primeiro acidente havia ocorrido por um erro de projeto das asas, mas que as quedas seguintes estavam relacionadas a um problema de pressurização da cabine. A pressão exercida sobre as janelas quadradas durante o voo era maior do que os projetistas imaginavam. Só que a consequência desse “deslize” era assustadora: o avião desintegrava-se no ar.
Fim de carreira
Os erros de projeto cometidos no Comet tiveram pelo menos uma consequência positiva. Depois dele, todos os jatos comerciais já saíram das pranchetas com janelas arredondadas, para eliminar pontos de tensão que pudessem causar a fadiga da fuselagem.
Em 1958, a britânica De Havilland, fabricante da aeronave, lançou uma nova versão do jato – batizada Comet 4 – com as falhas de projeto devidamente corrigidas. O modelo, no entanto, já estava estigmatizado pela série de acidentes e não conseguiu enfrentar a concorrência oferecida por outros jatos que ocuparam seu espaço no mercado da aviação civil – modelos como o Boeing 707 e o Douglas DC-8, ambos de fabricação americana, e o Caravelle, produzido na França.
Até aqui ele caiu
Em novembro de 1961, um De Havilland Comet 4, da companhia Aerolíneas Argentinas, caiu pouco depois de decolar do aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (SP). Provocado por falha humana, o acidente deixou 52 mortos.