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Nada se perde

Bagaço de azeitona gera energia elétrica. Óleo de cozinha vira combustível. Conheça as novas e incríveis técnicas de reciclagem

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 31 ago 2000, 22h00

Todo ano, o Brasil joga fora 5,8 bilhões de reais porque não recicla seu lixo urbano. Quem afirma é o economista paulista Sabetai Calderoni, autor de Os Bilhões Perdidos no Lixo (USP, 1997). Esse cálculo já inclui todos os gastos com o tratamento dos detritos e os custos da produção de novos materiais. Imagine o que essa grana toda poderia fazer. Na verdade, apenas 135 dos 5 507 municípios brasileiros praticam algum tipo de coleta seletiva do lixo. Ou seja, apenas 2,5% das cidades do país operam a separação dos quatro tipos de dejetos não-orgânicos (papel, vidro, plástico e metal), quesito básico para reaproveitá-los. Enquanto isso, nos Estados Unidos, mais de 8 000 municípios (cerca de 5%) praticam a coleta seletiva. Na Austrália e no Japão, o índice é de 100%. Reciclar é uma palavra-chave que o Brasil ainda não aprendeu a pronunciar. No mundo desenvolvido, o lixo orgânico, composto de restos de comida, é transformado em adubo por um processo químico chamado compostagem. Mas nem isso fazemos por aqui.

No total, o Brasil produz 100 000 toneladas de lixo por dia. Só a metrópole de São Paulo gera 15 000 toneladas diárias, um volume que, prensado, equivaleria a um prédio de 30 andares. Tudo é recolhido e depositado em aterros. O único material reciclado são as latinhas de alumínio, graças aos catadores de lixo, que vivem da coleta informal. Por causa deles, em 1999 reciclamos 73% da produção nacional, índice superior ao da maioria dos países de primeiro mundo. Cada tonelada de alumínio reciclado poupa a retirada da terra de 5 toneladas de minério de bauxita.

Aterros urbanos só são viáveis em países de território extenso – como Brasil, Estados Unidos e Rússia. Para os demais, a alternativa é uma só: reciclar. Todo dia, essa necessidade estimula novas pesquisas, cujos avanços mirabolantes você vai conhecer agora.

Para saber mais

Na Internet:

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https://www.cempre.org.br/

https://www.recicloteca.org.br/

https://www.mma.gov.br/

https://www.epa.gov/recyclecity/

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gyamaguchi@abril.com.br

Ferro-velho colorido

Microorganismos extraem corantes de sucata

A ferrugem sempre foi usada para fazer tinturas vermelhas, mas a Green Tech, empresa israelense especializada em reciclagem, deu um passo à frente com uma nova técnica batizada de bio-oxidação. Com ela, restos de ferro – desde peças inteiras a filetes que escapam do polimento em grandes placas – são transformados em pigmento pela ação de microorganismos. Além de ser mais barato, o processo não contamina o meio ambiente e é três vezes mais rápido que os tratamentos químicos tradicionais de oxidação. Os corantes produzidos são usados em tintas, material de construção, plásticos, cosméticos e até alimentos.

A “desimpressora”

Você põe na máquina papel impresso – e ele sai limpo

Decopier – “descopiadora”, em português – é o nome dela, a impressora dos sonhos dos ecologistas. Ela faz exatamente o inverso das máquinas tradicionais: a folha entra impressa e sai limpa do outro lado. (E pode repetir o processo até cinco vezes.) A invenção é do americano Sushil Bathia, que desenvolveu uma solução não-tóxica capaz de remover a tinta tanto do papel quanto do acetato. Além disso, o toner e a própria fórmula mágica são reutilizáveis. “Esperamos colocar o produto no mercado em 2002, por cerca de 5 000 dólares e com capacidade de ‘descopiar’ 100 folhas por minuto”, declarou à SUPER Devi Bheemappa, presidente da Decopier Technologies.

Branco total radiante

Papel usado sai da Decopier novinho em folha

1. Entrada do papel impresso

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2. A esteira rolante leva as folhas sobre placas aquecidas

3. O spray de fluido “descopiador” solta a tinta

4. A escova retira os resíduos

5. Um secador termina o serviço

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6. Saída do papel em branco

Da mesa para o forno

Restos de comida são assados para fazer carvão

Todo dia, a escola ginasial do bairro de Suginami, em Tóquio, dá uma aula de reciclagem com as sobras de suas refeições: elas vão para um forno especial e viram carvão. Trata-se, na verdade, de um potente carbonizador elétrico, do tamanho de uma máquina de lavar, desenvolvido pelas empresas Sugiyama Metals e Mitsubishi. Assados à temperatura de 300° C durante 20 horas, os 40 quilos diários de restos de comida viram 5 quilos de material combustível que também serve para produzir uma ótima argamassa na construção civil.

Um processo parecido foi desenvolvido pelo Serviço de Pesquisas Agrícolas dos Estados Unidos, em Nova Orleans, para aproveitar as 50 milhões de toneladas de cascas de nozes, amêndoas e arroz que sobram por ano em todo o planeta. Torradas a mais de 900° C , elas produzem um tipo de carvão chamado carbono ativado, que oferece aplicações práticas sofisticadas. Sua capacidade de absorver até metais como o chumbo permite o emprego em filtros de estações de tratamento de água e no monitoramento e controle da poluição do ar.

Bagaço de cana no painel do carro

Tecnologia brasileira transforma fibra vegetal em plástico

Caixinhas longa-vida, serragem de pinus e bagaço de cana-de-açúcar costumam ser descartados sem dó. Mas, misturados a uma pequena porção do plástico polipropileno, viram matéria-prima para peças internas de automóveis, como encaixes de cinzeiro e suportes de rádio e manivelas. O projeto está sendo desenvolvido, em parceria com a General Motors, pelo engenheiro Alcides Lopes Leão, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, de Botucatu. A redução de custos impressiona: enquanto o quilo de plástico custa 2,15 reais, o de serragem sai por 30 centavos. Outras fibras vegetais, além da cana, estão em teste para a mesma finalidade: sisal de coco e curauá, uma bromélia amazônica de textura semelhante à fibra de vidro.

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Impressão com chá de sumiço

Tinta japonesa desaparece com o calor

Muita gente acreditava que a informatização reduziria o uso de papel. Surpresa: aconteceu justamente o contrário. Apertar o comando print tornou-se uma verdadeira compulsão. Para contra-atacar tamanho desperdício, os americanos desenvolveram a impressora que retira a tinta do papel (veja na página anterior). Os japoneses, por sua vez, criaram uma solução alternativa: um pigmento que desaparece quando exposto ao calor. Essa técnica, criada por Kenji Sano e Satoshi Takayama, engenheiros químicos da Toshiba, envolve a folha com uma camada de tinta descolorante e um reagente especial. Basta aquecer o papel, portanto, para ele ficar literalmente novinho em folha.

A cozinha enche o tanque

Óleo de fritura substitui diesel

“Da frigideira para o tanque de combustível”. Este é o título do livro (From The Fryer To The Fuel Tank, GreenTeach Publishing, 1999) em que os americanos Joshua e Kaia Tickell narram sua odisséia. Durante dois anos, o casal viajou pelos Estados Unidos em uma van abastecida só com o óleo usado para fritar batatas, coletado pelas lanchonetes no caminho. Bizarro, não? Um processador no bagageiro transformava o produto no chamado biodiesel –alquimia que o livro ensina a fazer em casa. A possibilidade de usar gordura vegetal em motores diesel é conhecida desde que eles foram inventados pelo alemão Rudolf Diesel (1858-1913) em 1900. Mas só agora o óleo já usado na cozinha começa a ser reciclado com essa finalidade. A cadeia McDonald’s poderia ganhar outra fortuna.

Adoçante de milho protege os dentes

Restos da produção de álcool barateiam a dieta e o dentista

Enquanto o Brasil produz praticamente todo o seu álcool com cana-de-açúcar, os Estados Unidos utilizam o milho. As fibras que sobram desse processo são a nova matéria-prima do adoçante dietético xilitol. Pouco conhecido no Brasil, ele tem três vezes menos calorias que o açúcar normal, gosto mentolado e propriedades que evitam a formação de placas bacterianas nos dentes. O seu preço no mercado é de 6 dólares o quilo, muito mais lucrativo que os centavos pagos pelo bagaço do milho como comida de gado. Hoje, o xilitol é fabricado na Finlândia a partir de fibras de bétula, árvore comum na Europa, sob pressão e temperatura elevadas, que implicam alto consumo de energia. A nova técnica, que usa restos de milho, criada pelo Serviço de Pesquisas Agrícolas americano, vai baratear consideravelmente a produção do adoçante.

Discos + calças = autopeças

Carros novos, feitos com CDs encalhados e jeans surrados

Um decreto recente da União Européia obriga os fabricantes de automóveis a se responsabilizar pela reciclagem de 85% do material de seus carros a partir de 2006. A medida irá multiplicar técnicas de reciclagem. Desde 1996, a Ford européia já usa 500 000 CDs por ano na composição do painel de controle de seus modelos. Além dessa montanha de discos, feita de encalhe fornecido pelas lojas, a empresa também reaproveita 2 000 toneladas de tampinhas de garrafas plásticas na estrutura que envolve o sistema de aquecimento e refrigeração dos carros. Para completar, o forro de isolamento térmico e acústico, entre a carroceria e o acabamento interno, é feito de jeans velhos e outros tecidos detonados.

Asfalto da era digital

Tinta de impressora salva pistas esburacadas

Valley Mills Drive, na cidade de Waco, no Texas, Estados Unidos, é uma avenida única no planeta. Há três anos, suas seis pistas foram recauchutadas com um asfalto especial. Nele, haviam sido misturados restos de toner, aquela tinta com carga elétrica usada em copiadoras e impressoras de computador. Até hoje, a via permanece sem um único buraco – pois o toner (85% de poliestireno e 15% de carbono preto) aumenta a resistência do asfalto ao calor. Nenhuma empresa quis investir na idéia, pois custa caro extrair as sobras de tinta dos cartuchos usados, mas o resultado foi tão bom que o governo do Texas já estuda novos projetos de aplicação desse aditivo na pavimentação urbana.

Azeitona elétrica

Resíduos da produção de azeite geram energia

Já ouviu falar em orujillo? É assim que os espanhóis – os maiores produtores de azeitona do mundo –chamam o bagaço da fruta após sua prensagem para produção de azeite. Em vez de virar lixo, esses resíduos passarão a fornecer eletricidade para mais de 100 000 pessoas a partir do ano que vem, quando ficarem prontas as duas usinas que a Endesa, principal companhia elétrica da Espanha, está construindo especialmente para queimar orujillo, transformando-o em energia. “Com o bagaço resultante de toda a produção espanhola de azeite, dá para alimentar 30 estações desse porte. As olivas gerarão um total de 500 Megawatts, quase a metade do que produz uma usina nuclear”, afirma Angel Sancho, diretor da empresa de engenharia Ghesa, responsável pela execução do projeto.

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