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Nem tudo é azul

Depois de investigar milhares de relatos de óvnis, o Projeto Blue Book, da Força Aérea americana, rejeitou a hipótese extraterrestre. Mas os ufólogos não se dão por vencidos

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 Maio 2005, 22h00

Lia Hama

Um dos mais célebres estudos de ufologia realizados por uma fonte oficial foi o Projeto Blue Book, conduzido pela Força Aérea americana entre 1952 e 1969. Por quase duas décadas, a equipe dessa força-tarefa investigou milhares de casos com o objetivo de verificar se os óvnis representavam uma ameaça à segurança nacional norte-americana. Naquela época, os Estados Unidos viviam uma verdadeira onda de avistamentos e o governo se viu forçado a estudar os casos de forma mais sistemática. O Blue Book (termo em inglês usado para se referir a uma publicação oficial) foi uma continuação de dois estudos anteriores da Aeronáutica, os projetos Sign e Grudge, que haviam fracassado na tarefa de dar uma resposta à população sobre os misteriosos objetos que riscavam o céu do país.

Sob a direção do capitão Edward Ruppelt, o Blue Book desenvolveu um método rápido e conciso de avaliação dos casos. As testemunhas dos supostos óvnis respondiam a um questionário com oito páginas e enviavam fotografias e negativos dos avistamentos. Os investigadores analisavam o material e faziam entrevistas de campo. Consultavam dados astronômicos, monitoravam os vôos da Aeronáutica e verificavam os registros meteorológicos. Resultado: dos mais de 12 mil relatos analisados pelo Blue Book, 90% foram identificados como aeronaves, pássaros, balões, planetas, meteoros, auroras, nuvens e outros fenômenos atmosféricos ou como produtos da imaginação ou fraudes. Os outros 10% foram classificados como não-identificados, incluindo casos em que as informações eram insuficientes para se chegar a uma conclusão.

O projeto causou polêmica desde o início. Pelo menos três comissões de cientistas foram criadas ao longo dos anos 50 e 60 para analisar os registros do Blue Book. A primeira comissão, em 1952, foi patrocinada por ninguém menos que a CIA, o serviço secreto americano, e chefiada pelo renomado físico H. P. Robertson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ela incluía engenheiros, meteorologistas, físicos e um astrônomo. A conclusão da comissão foi que na maioria dos casos havia uma explicação científica para os supostos óvnis, que na verdade seriam fenômenos naturais ou artefatos humanos. A segunda comissão chegou a um resultado parecido. Alguns cientistas, no entanto, em especial o meteorologista James McDonald e o astrofísico Josef Allen Hynek, discordaram da conclusão, defendendo que havia fortes indícios da visita de ETs ao nosso planeta. “Para mim, os óvnis são completamente reais e, se não sabemos o que são, é porque nos limitamos a rir deles. A possibilidade de que sejam artefatos extraterrestres e de que estejamos sendo observados por alguma tecnologia avançada é algo que vejo com extrema seriedade”, disse McDonald.

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A chamada “hipótese extraterrestre”, levantada por esse grupo de cientistas, foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação em meados dos anos 60. O tema gerou discussões acaloradas e levou a Força Aérea americana a patrocinar um outro estudo, desta vez na Universidade do Colorado, sob a direção do físico Edward Condon, declaradamente cético em relação à possibilidade da vida fora da Terra. Divulgado no início de 1969, o Relatório Condon rejeitou firmemente a “hipótese extraterrestre” e declarou encerrado o assunto. Baseado nesse relatório, a Aeronáutica anunciou, em dezembro de 1969, a desativação do Projeto Blue Book. Dizia que não se justificava sua manutenção “nem em termos de segurança nacional, nem no interesse da ciência”. No dia seguinte, os principais jornais americanos estampavam: “Discos voadores não existem”.

CAMPANHA DE DESINFORMAÇÃO

Como era de se esperar, o desfecho do Blue Book provocou críticas raivosas de ufólogos, para quem o projeto fora apenas mais um capítulo da política do governo de acobertamento dos fenômenos extraterrestres. Segundo esses ufólogos, as investigações teriam sido superficiais e utilizado métodos pouco científicos com o objetivo único de negar a hipótese de vida em outros planetas. Os membros do projeto teriam sido pressionados a identificar os óvnis como fenômenos terrestres para evitar uma histeria coletiva no país. Os casos realmente sérios e inexplicáveis, que poderiam causar preocupação, teriam sido excluídos dos arquivos do Blue Book. Na realidade, o projeto teria sido um programa de desinformação criado para esconder da população a verdadeira investigação feita pelo governo sobre a presença de alienígenas na Terra.

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Uma das pessoas que defendiam um estudo mais sério sobre os óvnis era o astrofísico Josef Allen Hynek, que fora consultor da Força Aérea americana no Projeto Blue Book. No começo, Hynek era cético em relação aos óvnis, mas, depois de analisar centenas de casos, chegou à conclusão de que eles deveriam ser estudados com mais seriedade. Muitos acreditavam que, com o fim do Projeto Blue Book, o interesse em torno do assunto iria acabar. No entanto, relatos de avistamentos continuaram nas décadas seguintes, com contornos cada vez mais espetaculares. Tornaram-se freqüentes também testemunhos de supostos seqüestros em naves espaciais – para o desespero de cientistas como Hynek, que achava que esse tipo de história muitas vezes sensacionalista poderia abalar a credibilidade dos mais convictos ufólogos. O assunto, no entanto, continua despertando polêmica até hoje.

Arquive-se

Alguns casos analisados – e descartados – pelos membros do Projeto Blue Book

Entre os milhares de casos que estão no arquivo do Projeto Blue Book, inúmeros foram relatados como fraudes após a análise dos investigadores. Veja a seguir algumas dessas histórias, extraídas do livro O Fenômeno Óvni (coleção Mistérios do Desconhecido, da Abril Livros).

O caso – A maquete

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O relato – O mecânico Paul Villa, morador de Albuquerque (Novo México), afirmou que fora convocado telepaticamente a comparecer num determinado local no dia 16 de junho de 1963. Na ocasião, ele teria conversado com os alienígenas e fotografado sua nave

A conclusão – O exame das fotografias demonstrou que o objeto era uma maquete de espaçonave com meio metro de diâmetro, pendurada diante de uma câmera. Villa acreditava mesmo ter entrado em contato com ETs e forjara provas para dar credibilidade a sua história

O caso – Luzes na janela

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O relato – O fotógrafo da guarda costeira Shell Alpert afirmou ter visto quatro luzes brilhantes através da janela de seu escritório em Salem, Massachusetts. Segundo Alpert, quando ele estava prestes a fotografá-las, elas haviam perdido a intensidade. O fotógrafo foi em busca de um colega e, ao voltar, as luzes brilhavam novamente. Alpert tirou a foto e as luzes desapareceram. O fato teria ocorrido em 16 de julho de 1952

A conclusão – Para os analistas, a foto parecia forjada por meio de dupla exposição. Onze anos depois, o caso foi novamente examinado. O novo veredicto apontou que a câmera havia captado reflexo das luzes da sala no vidro da janela

O caso – Trote de adoslescente

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O relato – Dois irmãos adolescentes, Dan e Grant Jaroslaw, disseram ter visto um objeto em forma de disco e de cor cinza voando à baixa altitude e se movimentando rapidamente no céu, em Michigan. Uma foto foi tirada do objeto, cuja aparição teria ocorrido em 9 de janeiro de 1967

A conclusão – O exame da foto não permitiu que se identificasse o objeto. Os investigadores arquivaram o caso, assinalando: “Dados insuficientes para avaliação”. Anos depois, os irmãos Jaroslaw admitiram o trote: tinham fotografado um modelo de espaçonave perto de casa

O caso – Negativo retocado

O relato – Uma foto mostrando três óvnis foi enviada ao Projeto Blue Book acompanhada de uma carta afirmando que os objetos eram redondos e tinham cerca de 15 metros de diâmetro. Ela teria sido tirada em 26 de setembro de 1960, na Itália

A conclusão – Ao analisar a foto, os investigadores observaram que os hipotéticos óvnis eram muito mais escuros que todos os outros elementos da imagem e que estavam fora de foco. O negativo poderia ter sido retocado. O veredicto: provável fraude

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