Nolan Bushnell ,o jogo não acabou…

Mauro Tracco

Nolan Bushnell era gerente de parque de diversões quando percebeu que entretenimento dava dinheiro. Resolveu então usar seu diploma em engenharia elétrica para desenvolver jogos eletrônicos. Assim, em 1970, lançou Computer Space, primeiro fliperama eletrônico do mundo. Um jogo complexo, e que não convenceu adolescentes acostumados ao pinball.

Sem desistir, Bushnell apostou num game simples. Pong, de 1972, mesmo ano da fundação da Atari, acertou em cheio e fez da empresa ícone de uma geração. Faltava apenas criar um console capaz de levar toda aquela inovação para a casa dos jogadores – o que foi viabilizado com a entrada da gigante Warner no negócio e o lançamento do emblemático Atari 2600.

Mas como todo bom herói, Bushnell acabou falido graças a um processo movido por investidores. Sem a fortuna, mas cheio de idéias, deixou a Atari e se dedica a inventar modas. Atualmente, seu plano para voltar ao topo é a uWink, que desenvolve softwares de entretenimento e está montando uma rede de restaurantes equipados com games sociais. Nesta entrevista ele olha para o passado e aponta o futuro dos jogos eletrônicos.

Como era o trabalho com jogos eletrônicos no começo dos anos 70?

Era uma época divertida em que levavámos a tecnologia ao limite. Quando comecei a desenvolver games, a tecnologia disponível era totalmente baseada em hardware e não em software. O microprocessador ainda não havia sido inventado e computadores, com exceção de máquinas que valiam milhões de dólares, eram lentos demais para qualquer tipo de gráficos. Mas eu sabia que a tecnologia teria grande impacto no mundo e isso era bastante motivador.

Como foi o nascimento de Pong?

A idéia do Pong era pegar algo simples e conhecido por todos, o jogo de pingue-pongue, e torná-lo eletrônico. O desenvolvimento desse jogo foi parte de um projeto de treinamento para o meu engenheiro. Mas a grande jogada foi descobrir como fazer essa máquina de fliperama funcionar à base de moedas. Quando isso aconteceu, soube que tínhamos uma mina de ouro nas mãos.

Qual o seu jogo de Atari favorito?

Touch Me! é um dos primeiros jogos de memorizar seqüências e continua sendo imitado (referindo-se ao Simon, lançado no Brasil como Genius. O plágio foi comercialmente mais bem-sucedido que o original da Atari). Diverte qualquer um. Gosto também de Breakout, aquele em que uma bolinha acaba com todos os blocos de uma parede. Tão simples e tão divertido.

Como você analisa o seu legado?

A tecnologia que desenvolvi na Atari permitiu a existência de videogames 5 anos antes do microprocessador existir e possibilitou o lançamento dos primeiros computadores pessoais. Tenho orgulho disso, mas prefiro focalizar o futuro. Dirigir olhando pelo retrovisor não é tão divertido quanto descobrir até onde o carro é capaz de ir. Acho que os jogos hoje estão muito direcionados para o sexo masculino e o mercado tem um terço do tamanho que poderia ter. Esperava que a indústria abraçasse não apenas o entretenimento, mas também a educação. Videogames atraem tantos jovens, não entendo porque a tecnologia não impulsionou a educação.

Jogos que não envolvam mortes, explosões e esportes podem ser comercialmente viáveis?

Claro. Bons jogos têm objetivos claros e um timing bem afinado. Paciência é um dos jogos mais populares do mundo e não tem nenhum tipo de violência. O objetivo dos games sociais da uWink é possibilitar discussões, flertes e camaradagem entre jogadores. Além disso, videogames podem ser melhores professores que um Mr. Wilson da vida e seu pedaço de giz.

Por que, após 30 anos do lançamento, games ainda são uma brincadeira para homens?

Os temas dos jogos de hoje são sobre domínio, desafio e conflito. E esses são temas globais, parte da condição humana. Não importa onde você vive ou qual é o seu nível de educação, todos lutam pela superação. Os jogos não abordam temas femininos como comunidade, socialização ou interação e é por isso que a maioria dos adeptos do videogame são homens. Na uWink, acreditamos que as mulheres foram desfavorecidas no passado, deixando uma enorme oportunidade de mercado para ser explorada.

Como vai a uWink?

Esperamos abrir o primeiro restaurante em breve. Nossas pesquisas foram excepcionalmente bem e sentimos que temos algo criativo e que as pessoas querem. Melhor que isso, impossível.

Você já disse que após a uWink se firmar voltará aos games com o Atari versão 2.0. Ele tem chance contra concorrentes como Sony e Nintendo?

A uWink está focalizando no futuro dos videogames e em seu mais novo gênero: games sociais. Sony e Nintendo são líderes em seus segmentos. Nós queremos ser os líderes em games sociais.

O que são games sociais?

São games que incentivam a conversação. Nós vemos uma série de jogos que irá unir as pessoas e proporcionar a cola para a interação social e divertimento. Mas você tem de vir para a inauguração da uWink para entender essa idéia.

Steve Jobs foi seu empregado na Atari e dizem que ao fundar a Apple ele adotou sua máxima de que trabalhar deve ser divertido. É verdade?

Steve era muito criativo e incrível para se trabalhar. Tive muitas conversas com ele e Woz (Steve Woziak, que fundou a Apple com Jobs) sobre o sentimento de libertação obtido quando se dá mais importância à jornada do que ao objetivo. Ou seja, você será mais feliz se aproveitar a viagem sem se preocupar muito com o destino.

Muitos consideram o Atari o melhor de todos os tempos. Você concorda ou acha que essas pessoas deveriam deixar de dirigir olhando pelo retrovisor?

O Atari era especial não apenas pela jogabilidade, mas pela inovação. Inovação é onde a atual indústria de games peca. A hora de inovar é agora e a uWink está liderando o bando.

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