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O Napster é só o começo

O público cai no mais respeitoso silêncio e Vivaldi empunha o violino para interpretar o primeiro desses concertos, A Primavera.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 31 Maio 2001, 22h00

Dagomir Marquezi

Feche os olhos e volte no tempo. Você está em Veneza, em algum momento da década de 1720. É uma linda tarde de sol e vai haver uma apresentação pública de seu músico favorito, Antonio Vivaldi.

É ele! Vivaldi surge com sua cabeleira ruiva já embranquecida, agradece os aplausos do público e anuncia um novo conjunto de concertos para violino, Opus 8, números de 1 a 4. Por curiosidade, informa que cada um desses concertos foi inspirado numa das estações do ano.

O público cai no mais respeitoso silêncio e Vivaldi empunha o violino para interpretar o primeiro desses concertos, A Primavera. Você ouve, em primeira mão, uma das mais belas e imortais seqüências de notas musicais já imaginadas por um ser humano.

E, como os ventos de outono, as notas se vão. Você só terá uma nova chance de ouvi-las se conseguir estar no próximo concerto. Ou, claro, se comprar a partitura, tocar violino e ter sua própria orquestra.

Agora abra os olhos, vá até a lojinha da esquina. As Quatro Estações de Vivaldi estão à sua disposição num pedaço de plástico redondo com um furo no meio. Você não precisa tocar ou ler música. Basta apertar play.

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Na época de Vivaldi, música era uma arte para se ouvir pessoalmente, ao vivo. Hoje, músicas são gravadas e você compra uma cópia da gravação. O dinheiro que você entrega pela gravação vai, em parte, para o intérprete das músicas, outra parte para quem a compôs. O resto vai para o fabricante do CD, os executivos, burocratas, divulgadores, promotores e cobradores de impostos.

No tempo do vinil e das fitas magnéticas, o poder das gravadoras era absoluto. Reproduzir música era um ato precário, low-tech. Aí veio o CD. O som digitalizado tornou-se praticamente igual ao reproduzido em estúdio. Com o gravador de CD, um disco vendido na loja por 25 reais pode ser copiado para um CD virgem de apenas 1 real.

Com a chegada do MP3, foi possível compactar a gravação digital com pouca perda de qualidade. Finalmente, as músicas se libertaram do meio físico (o disco plástico furado) e começaram a vagar sem dono na internet. Mas as gravadoras ainda não haviam entrado em pânico… até o aparecimento do Napster. Agora, sim, os executivos entraram em desespero. Rasguem as gravatas! Vendam as limusines! Suspendam as férias no Taiti!

“Napster”, em resumo, quer dizer: 1) duas pessoas que nem se conhecem podem trocar música pela internet sem que haja dinheiro envolvido; 2) quando você gosta de uma ou duas músicas de um artista, não precisa pagar por um CD inteiro; 3) artistas já não podem garantir que vão ganhar pela reprodução da música.

Verdadeiras revoluções não acontecem mais com passeatas barulhentas, mas em frente a monitores. O Napster é apenas um símbolo dessa revolução. Sofreu limitações da grande indústria da música, seu público caiu consideravelmente. Logo, as limitações foram dribladas e dez dos cerca de 32 milhões de usuários do Napster se transferiram para sites equivalentes e ainda livres de limitações, como o Audiogalaxy, o Napigator, o Morpheus e o LimeWire.

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Essa revolução é um caminho sem volta, que vai trazer meios alternativos para remunerar os artistas. Já as gravadoras tradicionais vão ter que enfrentar uma nova concorrência. Veja o caso da Abacaxi Records. A Abacaxi era uma gravadora imaginária que meu amigo Lu Gomes criou nos tempos do vinil e da fita cassete. Uma piada entre amigos.

Hoje, em tempos digitais, sou sócio dele na Abacaxi. Funciona assim: eu gravo CDs inéditos no mundo inteiro no meu computador. O Lu cria as capas e os rótulos. Tudo – som e imagem – é feito dentro de padrões artísticos equivalentes aos utilizados pela indústria.

Qual o mercado consumidor da Abacaxi? Eu e o Lu. Eventualmente, vira presente a um amigo ou amiga. A Abacaxi não tem (por enquanto) fins lucrativos. Nosso catálogo? Temos os adorados discos de vinil que jamais foram lançados em CD. Eu os gravo no meu computador, depois os remasterizo. O Lu adapta a capa do vinil para o CD. Nas lojas não há CDs dos Illusion ou de Billy Bond. Nós temos. Quem precisa da indústria?

Outra fonte de música para a Abacaxi Records: os artistas que distribuem música grátis por sites como o MP3.com. São músicos excelentes que dificilmente encontrariam espaço numa gravadora tradicional. Enfim: a caixa de Pandora está aberta. Os burocratas vão ter que se acostumar com menos, ou arrumar outras fontes de renda. E cada banda de garagem poderá ter sua própria Abacaxi Records.

Editor sênior da revista Playboy

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