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Perdidos no espaço

Onze anos após o trágico acidente na base de lançamentos de Alcântara, o Brasil ainda caminha a passos lentos na corrida espacial. Mas caminha

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 7 jan 2015, 22h00

Débora Nogueira/ ilustração: Carlos Giovani

Em outro mundo, o título deste texto poderia ser “Jornada nas Estrelas”. Mas tudo mudou às 13h30 de 22 de agosto de 2003, quando o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, foi palco de uma tragédia. Naquela data explodiu o foguete VLS-1 três dias antes da decolagem prevista, matando 21 técnicos civis e alterando radicalmente a história do programa espacial brasileiro. Foi preciso dar vários passos para trás. Mas agora, aos trancos e barrancos, parece que voltou a andar para frente. E, com sorte, para o alto e avante.

A retomada inclui investimentos anuais de até R$ 1 bilhão no setor aeroespacial, parcerias com potências emergentes e a especialização em lançadores de satélites leves, nos quais somos campeões. Por outro lado, R$ 1 bilhão por ano ainda é pouco comparado com outros países, um dos principais acordos envolve um combustível polêmico e com a instável Ucrânia, e não conseguimos lançar os lançadores que fabricamos. Mas, como diz o ditado, se você está perdendo, é porque está no jogo.

O QUE ESPERAR

Investir em espaço é poder, tecnológico e econômico [ver quadro “Para que serve um satélite”]. As atividades espaciais movimentam mais de US$ 280 bilhões por ano no mundo. O mercado espacial global cresce à média anual de 6%, graças ao surgimento de novas demandas de aplicações e serviços espaciais. Mas, além de não participar com destaque nesse mercado, o Brasil investe pouco. Em termos de percentual relativo do PIB, o programa espacial brasileiro destina dez vezes menos recursos que a Índia e 30 vezes menos que os EUA. A previsão de orçamento da Agência Espacial Brasileira (AEB) para 2014 é de R$ 300 milhões. “Chegamos a R$ 1 bilhão somando orçamentos de outros ministérios”, afirma o presidente da AEB, José Raimundo Coelho. Que pondera: “Nosso programa vai lento, mas não há necessidade de sermos tão ágeis quanto Estados Unidos e Europa.”

A baixa participação do Brasil nesse mercado e a tímida expertise tecnológica e científica têm explicação em sucessivas políticas que não priorizaram esse setor no País. O acidente de Alcântara em 2003 foi um grande baque. Além de matar técnicos importantes, destruiu instalações e interrompeu o mais audacioso projeto nacional na área, a construção do Veículo Lançador de Satélites (VLS).

Mas ainda há o sonho de tornar Alcântara referência internacional para o lançamento comercial de satélites. A localização privilegiada na linha do Equador permite o uso máximo da rotação da Terra para impulsionar lançamentos com economia de combustível de até 30%. Segundo o Instituto de Aeronáutica e Espaço, a infraestrutura foi refeita, e faltam apenas ajustes para lançar o VLS-1 ainda em 2014. Mas até o fechamento desta edição, em 19 de agosto, não havia lançamentos previstos. De qualquer forma, ainda deve ser finalizado um local para a decolagem do foguete Cyclone 4 – fruto de uma cooperação incomum.

PARCERIA POLÊMICA

Após a tragédia de 2003, o Brasil formou um acordo com a Ucrânia para a produção de um veículo capaz de lançar grandes satélites. O acordo é questionado: além de não prever transferência tecnológica, sai caro – já custou R$ 500 milhões. A tecnologia utilizada é outro ponto nebuloso. A Ucrânia usa métodos ultrapassados e abolidos em grande parte do mundo para a propulsão do foguete. O propelente hidrazina é altamente tóxico e um acidente poderia causar diversas mortes e dano ambiental catastrófico. “Qualquer vazamento em algum dos estágios já é complicado. É um material perigosíssimo”, aponta o engenheiro e astrônomo Othon Winter, da Unesp.

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Outra crítica é que a parceria com a Ucrânia acaba consumindo recursos que poderiam ser empregados na retomada do projeto VLS-1, que inclui um foguete feito no Brasil além de quatro satélites e seus lançamentos. O projeto movimentaria toda a cadeia espacial do País. Na parceria com a Ucrânia, a construção do foguete é feita lá e indústria e universidades brasileiras estão praticamente excluídos do processo. “Por outro lado, poderíamos dar o triplo de dinheiro para o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), e eles devolveriam mais da metade. Eles não podem contratar gente sem concurso, não podem comprar equipamentos sem licitação internacional. Áreas como engenharia espacial precisam de dinamismo e há muitos gargalos em empresas públicas”, aponta Winter.

Por causa desses problemas burocráticos, a criação da Visiona, parceria público-privada entre Embraer e Telebrás, é uma esperança. Além de não ter entraves de licitação, a Visiona tem como objetivo que o Brasil compre e gerencie um satélite. Seria uma novidade: hoje, o Brasil depende de satélites gringos.

NO AR

Toda a comunicação de dados, TV e telefonia brasileira passa pelo satélite da Star One, subsidiária da Embratel, hoje controlada pelo mexicano Carlos Slim. O fato de o Brasil não ter soberania sobre sua própria comunicação pode ter efeitos desastrosos – em qualquer conflito, ele poderia ter sua posição alterada e nossas comunicações seriam prejudicadas. Dependemos de aparelhos estrangeiros para enxergar no espaço desde 2010, com a desativação do CBERS-2b (lê-se “Sibers”), que monitorava o desmatamento da Amazônia. Seu substituto, o CBERS-3, foi destruído durante seu lançamento no fim de 2013.

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O projeto CBERS faz parte de um acordo que o país tem com a China desde 1998 para construção e lançamento de satélites de imagem. Com o acidente, o Brasil perdeu quase R$ 300 milhões e agora corre contra o tempo para adiantar o lançamento do CBERS-4 ainda em 2014. “Não vejo como uma perda, o Brasil desenvolveu, testou, adquiriu know-how. Perdemos equipamento, mas ficamos com o conhecimento”, diz Winter, da engenharia da Unesp. A parceria com a China, emergente da indústria aeroespacial, prevê ainda um satélite meteorológico.

PROMESSAS

Enquanto isso, vivemos de previsões. Até 2018 estão previstos os lançamentos de mais seis novos satélites estrangeiros que vão se dedicar também ao território nacional. A Anatel deve ainda vender mais quatro posições orbitais, o que possibilita aumentar a capacidade de banda larga no País nos próximos anos. O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) prevê o lançamento de cerca de dez satélites até 2020. É esperar para ver.

Mas também temos exemplos inspiradores. A empresa Opto, de São Carlos, no interior de São Paulo, é apontada como uma das melhores do mundo em imagens do espaço. O Laboratório de Integração e Teste (LIT) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é apontado por especialistas como um centro de excelência de conhecimentos e de infraestrutura. O foguete VSB-30, parceria Brasil=Alemanha para lançamento de missões científicas, reina sozinho em seu nicho. Em 2015 chega o VLM-1 (Veículo Lançador de Microssatélite), 100% brasileiro.
O Brasil fabrica bons foguetes. Mas não consegue lançá-los. É um começo?

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Para que serve um satélite

Investir em satélites e foguetes, além de ajudar a indústria de alta tecnologia, setores de pesquisa científica e empregar milhares de pessoas, influencia diretamente no cotidiano por causa de uma ferramenta poderosa: a informação.

Localização

Mais eficiência no monitoramento de fronteiras terrestres e marítimas, além de mapear desastres em zonas não populosas.

Meteorologia

Previsão do tempo e de safras agrícolas, coleta de dados ambientais.

Segurança

Satélites são os melhores instrumentos para localizar veículos roubados.

Comunicação

Levar celulares e banda larga a zonas remotas.

Evolução
O satélite é o cume de uma longa cadeia produtiva que injeta muito dinheiro na economia.

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